Why Science Matters: A Scientist’s Apology
October 13, 2010
Marcelo Gleiser
Theoretical Physicist
Appleton Professor of Natural Philosophy, Dartmouth College
Parece algo paradoxal que no início de um novo milênio, durante aquilo a que orgulhosamente nos referimos como a idade científica, muitas pessoas ainda olhem para trás, para as profecias apocalípticas, com tanto respeito aterrorizado. Pense no vírus Y2K e na propaganda desavergonhada do 'fim do mundo' do 2012 dos maias. Há um crescente cinismo quanto à ciência, uma sensação de traição, de promessas não realizadas. Afinal de contas, a ciência não era para ser vista como a nova salvação, nossa reluzente espada que afastasse as ameaças da imprevisível Natureza?
Nós conseguimos curas para miríades de doenças apenas para descobrir novas doenças, incuráveis; criamos novas tecnologias que supostamente tornam a vida mais fácil e mais agradável, apenas para passar mais horas do que nunca trabalhando. E ainda pior, a tecnologia avança tão depressa que é virtualmente impossível para a maioria de nós manter-se atualizados, e está surgindo uma vasta 'subclasse' tecnológica, reminiscente dos migrantes rurais socialmente deslocados nas cidades medievais.
Há uma crescente barreira entre as gerações, onde a população mais jovem se comunica de maneiras que são incompreensíveis e sem sentido para as pessoas mais velhas. Podemos enviar um homem à Lua (ou podíamos, quando era relevante politicamente), mas não podemos alimentar a maior parte da população mundial. Nós consumimos os recursos naturais de nosso planeta com despreocupado apetite, aliementando nossa interminável cobiça por bens materiais sem olhar para trás e ver a devastação que frequentemente causamos.
E tudo isso graças à 'ciência'!
Assim é o credo dos descontentes. Agora devo usar as vestes do Apologista da Ciência e refutar essas acusações.
'Em primeiro lugar, a ciência não promete redenção. A ciência é uma invenção humana que se preocupa em entender o funcionamento da Natureza. É um conjunto de conhecimentos sobre o Universo e seus diversos habitantes, vivos e não-vivos, acumulados através de um processo de constante teste e refinamento conhecido como método científico.
Aquilo que a prática e o estudo da ciência nos dão é um caminho de volta à Natureza, uma maneira de nos reintegrarmos ao mundo que nos cerca. Ao fazer isso, ela nos ensina a essência da Natureza - do que é animado ao que é inanimado - suas modificações e transformações. Ela nos ensina que a vida e a morte estão interligadas na cadeia cósmica do ser.
Foi a morte de uma estrela próxima que ativou a formação do nosso Sol, onde a vida se tornou possível pelo menos em um membro de sua corte de planetas e de luas. Se existia vida perto da estrela original que estava morrendo, foi destruida juntamente com ela, da mesma maneira que a vida aqui será destruida quando nosso Sol apagar. Esta dança de criação e destruição ocorre constantemente por todo o Universo, ligando nossas histórias, nossas vidas e mortes, a uma cadeia mais ampla de transformações. Enquanto tal, cada elo é importante, do que criamos e destruimos na vida àquilo que deixamos para trás.
A ciência pode não oferecer a salvação eterna, mas oferece a possibilidade de uma vida livre da escravidão espiritual causada pelo medo irracional do desconhecido. Ela oferece às pessoas a opção do fortalecimento próprio, que pode contribuir para sua liberdade espiritual. Ao transformar o mistério em desafio, a ciência adiciona uma nova dimensão à vida. E uma nova dimensão abre mais caminhos para nossa auto-realização'.
Assim falou o Apologista da Ciência.
'Em segundo lugar, a ciência não determina o que deve ser feito com esse conhecimento acumulado: nós é que determinamos. E esta decisão quase sempre cai nas mãos de políticos que, pelo menos em uma democracia, são escolhidos pela sociedade. A culpa pelos usos sombrios da ciência tem que ser compartilhada por todos nós: vamos culpar o inventor da pólvora por todas as mortes por tiros e explosivos? Ou o inventor do microscópio pelo desenvolvimento da guerra bacteriológica?
Nós, os cientistas, temos o dever de deixar claro para o público o que fazemos em nossos laboratórios, e que consequências, boas ou más, nossas invenções podem ter para a sociedade em geral. Mas não existe uma coisa como 'os cientistas', enquanto um grupo que compartilha de um conjunto de princípios morais ou pontos de vista, ou da culpa pelos usos e abusos da ciência. O que existe, gostaria de acreditar, é um conjunto comum de objetivos para que entendamos melhor o mundo e nosso lugar nele e, sim, para melhorarmos nossas condições de vida e nossa saúde.'
Assim falou o Apologista da Ciência
'Finalmente, a ciência não traiu nossas expectativas. Pense em um mundo sem antibióticos, computadores, televisões, aviões e carros - um mundo no qual todos estaremos de volta às florestas e aos campos de onde viemos, vivem sem qualquer conforto tecnológico.
Quantos de nós estariam prontos para isso ou desejosos de fazê-lo? Você pode ver-se morando em uma caverna ou uma cabana primitiva, caçando para comer, lutando fisicamente de modo constante para sobreviver? Existe muita hipocrisia na crítica da ciência e daquilo que elas fez para nós e para o planeta. Nós fizemos tudo isso por nós mesmos, através de nossas escolhas e de nossa cobiça. Não é retrasando a pesquisa científica ou seu ensino através de legislação ou de censura que modificaremos as iniquidades de uma sociedade tecnológica; certamente, isso é uma passagem sem volta para a Idade Média.
O necessário é o acesso universal às novas tecnologias, um financiamento forte da pesquisa básica e aplicada, juntamente com um esforço disseminado para se popularizar a ciência. Apenas uma sociedade bem versada em questões científicas poderá ser capaz de ditar seu próprio destino, da preservação do meio ambiente natural às escolhas morais da pesquisa genética e da potência nuclear'.
[Esse texto foi adaptado do meu livro The Prophet and the Astronomer: A Scientific Journey to the End of Time (W. W. Norton, 2002)].
http://www.npr.org/blogs/13.7/2010/10/13/130534717/-why-science-matters-a-scientist-s-apology