domingo, 19 de abril de 2009

Thea King interpreta Crusell

Bernhard Henrik Crusell (1775–1838) nasceu 25 anos depois da morte de Bach, e sua música é notadamente pré-romântica e visivelmente (ou melhor, audivelmente) inspirada por Mozart. Crusell nasceu na Finlândia, mas aos 16 anos foi para a Suécia e ali viveu pelo resto de sua vida. Do folheto que acompanha o CD, aqui estão as considerações de Pamela Weston sobre o primeiro quarteto:

“Quarteto para Clarinete No. 1 em E bemol maior Op. 2.
O primeiro quarteto está em um puro estilo do século 18, com forte influência de Mozart. Seu (Poco) Adágio introdutório é apenas para cordas. Três semínimas cromáticas descendo da dominante para um tema principal mi-re-do permeiam o Allegro, também sendo usadas para o segundo tema em mi-fa-sol. Também o segundo movimento tem um tema principal baseado em mi-re-do. Seu retorno após a fermata é anunciado pelas três cromáticas do primeiro movimento tocadas ad lib. Crusell trata o clarinete como instrumento solo, mais do que como membro de um grupo, e ao mesmo tempo preocupa-se com o equilíbrio e suaviza sua intensidade com relação às cordas. Foi esse quarteto que inspirou Glinka a ser compositor, ao ouví-lo por volta de 1814”.

BERNHARD HENRIK CRUSELL
(1775–1838)
Clarinet Quartet No 1 in E flat major Op 2 [20'08]
1 Poco adagio – Allegro [7'13]
2 Romanza (Cantabile) [5'00]
3 Menuetto (Allegro) – Trio [4'11]
4 Rondo (Allegro vivace) [3'42]
Clarinet Quartet No 2 in C minor Op 4 [18'05]
5 Allegro molto agitato [4'08]
6 Menuetto – Trio [4'31]
7 Pastorale (Un poco allegretto) [5'24]
8 Rondo (Allegro) [4'01]
Clarinet Quartet No 3 in D major Op 7 [22'39]
9 Allegro non tanto [7'10] bl Un poco largo [5'28]
bm Menuetto (Allegro) – Trio [4'51] bn Finale (Allegro) [5'08]
THEA KING clarinet
Members of THE ALLEGRI STRING QUARTET
PETER CARTER violin
PRUDENCE PACEY viola
BRUNO SCHRECKER cello

Thea King está em plena forma (o CD foi gravado em 1981), e a qualidade de som, DDD, é impecável. Para gravar: http://i-bloggermusic.blogspot.com/

sábado, 18 de abril de 2009

Modularidade: primeiro mapeamento global

Paul Laurienti (1), Christina Hugenschmidt (1) e Satoru Hayasaka (2) fizeram o primeiro mapeamento da modularidade cerebral que não restringe as análises a estruturas anatômicas prédefinidas, focalizando o fenômeno por toda a extensão do funcionamento do cérebro.
1. Wake Forest University School of Medicine, Radiology
2. Wake Forest University School of Medicine, Public Health Science and Radiology

Mapas de modularidade revelam estrutura comunitária do cérebro humano em repouso é o nome do artigo de Laurienti e colegas, publicado ontem nos Precedings da revista Nature. Já falamos de modularidade aqui, em 29 de junho e em 21 de setembro de 2008, sendo que o artigo de Elizabeth Bates (ardorosa defensora da modularidade) recebe agora uma importante comprovação experimental. Leia o abstract/resumo de Laurienti e colegas:

“O cérebro é uma rede complexa de neurônios interconectados que combina especificidade regional com processamento distribuido. Progressos recentes no campo da teoria de redes facilitaram análises pioneiras demonstrando que a conectividade cerebral exibe propriedades de pequeno-mundo similares às de outras redes auto-organizadas como a internet, o genoma, e até mesmo organizações sociais. A conectividade cerebral dá apoio ao processamento local e global através de grandes conglomerados (high clustering) e de vias curtas de conectividade, respectivamente. Na mesma medida em que esses índices de rede abrangente enfatizam a organização global da rede, a especificidade regional está relacionada à interconectividade de regiões vizinhas locais dentro do sistema como um todo (global). O trabalho apresentado aqui avaliou a estrutura comunitária de redes do cérebro humano em repouso para identificar as regiões vizinhas locais e mapear aquelas áreas interconectadas relativamente ao cérebro. O estudo identificou um predizível aglomerado nos córtices unisensoriais. Entretanto, a inesperada estrutura comunitária da rede de modo default (DMN – default-mode network) revelou três módulos distintos e incluiu os córtices frontais laterais às tradicionais regiões DMN. Esses resultados são os primeiros a mapear a modularidade por todo o cérebro sem restringir as análises a estruturas anatômicas prédefinidas. Tais análises fornecem uma visão imparcial das comunidades de rede e prometem nos trazer novas idéias sobre a organização do cérebro. A avaliação da estrutura modular do cérebro em todos os seus estados, durante tarefas exigentes ou em populações de doentes irá revelar modificações dinâmicas de conectividade em redes cerebrais globais”.

Modularity maps reveal community structure in the resting human brain é o nome do artigo de Laurienti e colegas, e esse mesmo link traz o endereço da versão PDF do artigo completo.

Linguística Cognitiva

O livro é Cognitive Linguistics: Basic Readings, editado por Dirk Geeraerts. O que são essas leituras básicas do título? Diz DG:

“As teorias, em linguística, tendem a ser assuntos bastante delimitados: cada compartimento teórico procura constituir uma entidade conceitual e sociológica própria, com apenas um número limitado de pontes, praças de mercado ou mesmo campos de batalha compartilhados com outras abordagens. A Linguística Cognitiva, quando considerada à luz dessa metáfora, toma a forma de um arquipélago, mais do que de uma ilha. Não se trata de um grande território claramente delimitado, mas sim de um conglomerado de centros mais ou menos extensos e mais ou menos ativos de pesquisa linguística que estão estreitamente ligados por uma perspectiva da qual compartilham, mas que não estão (ainda) reunidos sob o regulamento comum de uma teoria bem definida. O presente volume contém uma introdução às doze partes fundamentais desse conglomerado teórico – uma viagem pelas doze ilhas centrais, se você preferir: Gramática Cognitiva, construal gramatical, rede radial, teoria do protótipo, rede esquemática, metáfora conceitual, esquema de imagem, metonímia, espaços mentais, gramática de construção e linguística baseada no uso”.

Cognitive Linguistics: Basic Readings
2006 PDF 485 pgs Edit. Mouton de Gruyter
http://depositfiles.com/files/9ildhk4vp

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A Mente Fenomenológica

Shaun Gallagher e Dan Zahavi lançaram (em 2008) A Mente Fenomenológica: Uma Introdução à Filosofia da Mente e à Ciência Cognitiva. Já divulguei aqui um artigo de Gallagher (em julho de 2008), que foi bem aceito. Pelo pouco que pude apreender, pois só consegui esse link ontem, este novo livro é um texto sério e interessante: veja o primeiro parágrafo da Introdução, abaixo.

“Este é um livro sobre a mente. O que é a mente e como ela funciona é atualmente um tópico de muitos debates complexos que se valem de inúmeras disciplinas: psicologia, neurociência, inteligência artificial, filosofia da mente – disciplinas que geralmente são tratadas como ciências cognitivas. A natureza interdisciplinar desses debates não é coincidência. Mais do que isso, é necessária por não haver uma disciplina única que faça justiça à complexidade das questões envolvidas. Nesse trabalho, queremos explorar diversas questões que tradicionalmente foram estudadas por filósofos da mente. Entretanto, não pretendemos assumir uma abordagem puramente filosófica – isto é, não adotamos uma abordagem filosófica que ignore as outras ciências. Frequentemente nos valeremos dos detalhes de evidências científicas de estudos de neurociência cognitiva e de imagem cerebral, psicologia cognitiva e do desenvolvimento, e de psicopatologia. No entanto, este é um livro sobre filosofia da mente, e ainda que seja muito interdisciplinar, continua sendo uma tentativa de tratar de problemas filosóficos”.


Shaun Gallagher é Professor e Chair of Philosophy and Cognitive Sciences da University of Central Florida, e Research Professor of Philosophy and Cognitive Science da University of Hertfordshire (UK). É autor de How the Body Shapes the Mind (2005) e co-editor de Does Consciousness Cause Behavior? An Investigation of the Nature of Volition (2006).

Dan Zahavi é Professor of Philosophy e diretor do Center for Subjectivity Research da University of Copenhagen. É autor de Subjectivity and Selfhood (2006) e Husserl’s Phenomenology (2003).

The Phenomenological Mind: An Introduction to Philosophy of Mind and Cognitive Science Editora: Routledge 2008 PDF 244 pages
http://depositfiles.com/files/akq63pp59

Acompanha bem: Phenomenological Epistemology, de Henry Pietersma
2000 224 pgs PDF
http://rapidshare.com/files/117443792/0195131908_-_Henry_Pietersma_-_Phenomenological_Epistemology_-_Oxford_University_Press__USA.pdf

Verdi: Requiem e Quatro Peças Sacras, etc.

Messa da Requiem e Quattro Pezzi Sacri (Ave Maria, Stabat Mater, Laude alla Vergine Maria e Te Deum) de Verdi, sendo os intérpretes: Anne Sofie von Otter, Luca Canonici, Luba Orgonasova, Alastair Miles, Orchestre Révolutionnaire et Romantique, o Monteverdi Choir e Donna Brown (Te Deum). Regente: John Eliot Gardiner. Pode ir de olhos vendados. A dica é do site http://pqpbach.opensadorselvagem.org/ onde estão os links para download. Aproveite que está por lá, e grave também dezesseis Lieder de Schubert com Barbara Hendricks e Radu Lupu. Dispensa adjetivos. Em seguida, Maurizio Pollini (Berliner Philharmoniker e Abbado) em dois concertos: Schumann (A minor, Op. 54) e Brahms (D minor, Op. 15). Pronto: ganhou o dia...

domingo, 12 de abril de 2009

Paul Ricoeur sobre Freud

Em 1965, a casa Éditions du Seuil (Paris) publicou De L’Interprétation – Essai sur Freud, de Paul Ricoeur. “Antes de tudo, este livro é dedicado a Freud, e não à psicanálise”, diz Ricoeur, e justifica: “Nele faltarão duas coisas: a própria experiência analítica e uma apreciação das escolas pósfreudianas”. Ele aborda a obra de Freud “como um monumento de nossa cultura, um texto no qual nossa cultura está expressada e compreendida” (p. xi). No próprio título do primeiro capítulo, Linguagem, Símbolo e Interpretação, Ricoeur indica seus pontos básicos de abordagem. A linguagem é o fator unificante: “Parece-me que atualmente há uma área na qual coincidem todas as investigações filosóficas: a da linguagem. Ela é o terreno comum das investigações de Wittgenstein, da filosofia linguística inglesa, da fenomenologia surgida através de Husserl, dos estudos de Heidegger, das obras da escola de Bultmann e de outras escolas da exegese do Novo Testamento, dos trabalhos de história comparada das religiões e da antropologia que tratam do mito, do ritual e da crença e, afinal, da psicanálise”.

A complexidade é impressionante, e ainda estamos no primeiro ponto de abordagem. A passagem para diante se dá através da hermenêutica, e Paul Ricoeur escolhe a obra Traumdeutung (A Interpretação dos Sonhos, de 1900) como referência: “...a entrada da psicanálise no debate contemporâneo sobre a linguagem não se deve apenas à sua interpretação da cultura. Fazendo dos sonhos não apenas seu primeiro objeto de investigação, mas também um modelo de todas as expressões disfarçadas, substitutivas e fictícias das aspirações e do desejo humano, Freud nos convida a buscar nos próprios sonhos as diversas articulações entre desejo e linguagem. Em primeiro lugar, não é o sonho, ao ser sonhado, que pode ser interpretado, mas sim o texto do relato do sonho; a análise tenta substituir esse texto por outro, que poderia ser chamado de fala primitiva do desejo. Assim, a análise se move de um significado para outro significado: não são os desejos enquanto tais que estão situados no centro da análise, mas antes sua linguagem”.

Esta cadeia desejo - sonho - relato, que cria o que Ricoeur chama de “campo hermenêutico”, será des-velada (como gostam de expressar os admiradores de Heidegger) pela interpretação, e aqui ele introduz a definição: “Por hermenêutica entenderemos sempre as regras que presidem uma exegese, quer dizer, a interpretação de um texto singular ou de um grupo de signos que possa ser visto como um texto”. Estamos no terreno da semiótica (que é dicionarizada como ‘semântica’ e que procede do grego semeiotikos, observador de signos – ou sinais – e verbaliza ação com semeioun, sinalizar, interpretar como signo – ou sinal). Ricoeur então entrecruza seus outros dois pontos básicos de abordagem, o símbolo e a interpretação (“... é por intermédio do ato de interpretar que o problema do símbolo se inscreve em uma filosofia da linguagem” p. 8), deixando claro na próxima seção do texto, Para uma crítica do símbolo, que distingue sua concepção de símbolo da concepção que dele faz a lógica simbólica. Não deixe de excursionar pela vereda aberta por Ernst Cassirer (que deve a hemoglobina de seu sangue a Kant) e que está brevemente indicada na p. 10. Ricoeur está com os pés no chão ao comentar a Filosofia das Formas Simbólicas, de Cassirer: “(Cassirer) foi o primeiro a chamar a atenção para o problema da reconstrução da linguagem. A noção de forma simbólica, mais do que constituir uma resposta, delimita uma questão, a saber, a questão da composição das ‘funções mediadoras’ no interior de uma função única que Cassirer intitula das Symbolische. ‘O simbólico’ designa um denominador comum de todas as maneiras de objetivar, de dar significado à realidade”.

Só mais uma coisa. Ricoeur pergunta: “Mas por que chamar essa função de simbólica?”. Explica ele: “Acima de tudo, Cassirer escolheu esse termo para expressar a universalidade da revolução copernicana, que substituiu a questão da objetivação através da função sintética da mente pela questão da realidade como ela é em si mesma. O simbólico é a mediação universal da mente entre nós mesmos e o real; acima de tudo, o simbólico indica o caráter não imediato de nossa apreensão da realidade. O uso do termo em matemática, linguística e na história da religião parece confirmar que o ‘simbólico’ tem essa espécie de universalidade”. Agora o leitor está solto nesse torvelinho ( o millwheeling vicociclometer, de James Joyce), e precisa ler a íntegra do livro de Ricoeur.


Freud and Philosophy – An Essay on Interpretation, de Paul Ricoeur.
Yale University Press, 1970
http://rapidshare.com/files/42927426/Paul_Ricoeur-Freud_and_Philosophy-_An_Essay_on_Interpretation__The_Terry_Lectures_Series_.pdf

Pode ser uma boa

Origem da Mente: Cérebro, Cognição e Inteligência, livro de David C. Geary, pode ser uma boa escolha. Nunca ouvi falar de Geary, não gostei das generalidades mal redigidas (abobrinhas) da editoria (ver abaixo), e o assunto se presta a mais uma comprovação do dito “Há sempre um chinelo velho para um pé doente”. Mas, quem sabe?

“Darwin achava que a compreensão da evolução da mente e do cérebro humanos era de capital importância para as ciências evolutivas. Este livro pioneiro estabelece uma teoria abrangente e integrada de como e porque a mente humana se desenvolveu para funcionar como funciona. Geary propõe que os sistemas motivacional, afetivo, comportamental e cognitivo humanos se desenvolveram para processar informações sociais e ecológicas (por exemplo, expressões faciais) que covariavam com opções de sobrevivência ou de reprodução durante a evolução humana. Além disso, ele argumenta que o foco definitivo de todos esses sistemas é dar apoio às nossas tentativas de acessar e controlar recursos – mais especificamente, sociais (por exemplo, companheiros[as]), biológicos (por exemplo, alimento) e físicos (por exemplo, território) – que dão apoio à sobrevivência e à reprodução bem sucedidas com o decorrer do tempo. Sob esse ponto de vista, a conceitualização darwiniana de seleção natural como ‘luta pela existência’ se torna, para nós, uma luta com outros seres humanos pelo controle dos recursos disponíveis. Esta luta fornece meios para integrar sistemas modulares cerebrais e cognitivos, como a linguagem, com aqueles sistemas cerebrais e cognitivos que dão apoio à inteligência em geral. Para defender seus argumentos, Geary se vale de uma quantidade impressionante de achados recentes em ciência cognitiva e neurociência, assim como em primatologia, antropologia e sociologia. O livro também explora diversas questões que interessam à sociedade moderna, incluindo como a inteligência em geral se relaciona com a realização acadêmica, o status ocupacional e a renda. Os leitores verão que esse livro é uma leitura que vai despertar outras questões e que também dá impulso a novas teorias da mente”.

Origin of Mind: Evolution of Brain, Cognition, and General Intelligence, de David C. Geary Publisher: American Psychological Association (APA) 2004 459 Pgs
Em http://depositfiles.com/files/46oykbguy

sábado, 11 de abril de 2009

The Conscious Mind

A série “Philosophy of Mind”, da Oxford University Press, é editada por Owen Flanagan (Duke University). David J. Chalmers é responsável pelo melhor livro, A Mente Consciente: Em busca de uma teoria fundamental. O livro é de 1996, mas pelo conteúdo da introdução (ver trecho abaixo) percebe-se que a problemática continua quase sem solucionática.

“Introdução. Levando a consciência a sério

A consciência é o maior dos mistérios. Ela pode ser o maior e mais notável obstáculo em nossa procura por uma compreensão científica do universo. A ciência da física ainda não está completa, mas é bem compreendida; a ciência da biologia já removeu muitos mistérios antigos que cercavam a natureza da vida. Há lacunas em nosso entendimento desses campos, mas eles não parecem ser intratáveis. Nós fazemos uma idéia do que parece ser a solução para esses problemas; só precisamos acertar os detalhes.

Mesmo na ciência da mente, muito progresso já foi feito. Trabalhos recentes em ciência cognitiva e neurociência estão nos levando a uma melhor compreensão do comportamento humano e dos processos que o dirigem. Não temos muitas teorias detalhadas da cognição, é certo, mas os detalhes não podem estar muito distantes. A consciência, entretanto, continua tão desconcertante como sempre foi. Ainda nos parece totalmente misterioso como a causalidade do comportamento se faz acompanhar de uma vida interior subjetiva.

Temos boas razões para acreditar que a consciência surge de sistemas físicos como os cérebros, mas fazemos pouca idéia de como ela surge, ou porque existe, afinal. Como é que um sistema físico como o cérebro poderia ser também um experienciador (experiencer)? Por que deveria haver algo que parece ser tal sistema? As atuais teorias científicas mal tocam em questões realmente difíceis sobre a consciência. Não nos falta apenas uma teoria detalhada; estamos totalmente no escuro sobre como a consciência se encaixa na ordem natural”.

The Conscious Mind. In Search of a Fundamental Theory.
David J. Chalmers PDF 432 pgs
(e-mail pedro@dodgit.com para a senha e como descompactar)
http://uploading.com/files/7TRUYUZD/The%20Conscious%20Mind%20-%20Owen%20Flanagan.rar.html

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Crianças sem Linguagem

Laurent Danon-Boileau é professor de Linguística Geral e Aquisição de Linguagem da Universidade Paris – V e psicanalista. Pesquisador do CNRS, é responsável pelo grupo Patologia da Linguagem da Criança do Laboratoire d'Etudes sur l'Acquisition et la Pathologie du Langage de l'Enfant -UMR CNRS 8606. Aqui está o texto da editoria sobre seu livro Crianças Sem Linguagem: da Disfasia ao Autismo:

“Os distúrbios da comunicação e da linguagem quase sempre são considerados a partir de um ponto de vista particular – ou psicológico ou neurológico. Danon-Boileau argumenta que trata-se de um erro sério. Ele enfatiza que o problema de uma criança pode ter origem em diversas causas: problemas neurológicos similares aos da afasia, danos cognitivos e distúrbios psicológicos, e sendo assim a interação entre esses elementos precisa ser levada em consideração. Em rigorosos estudos de casos, Danon-Boileau descreve as situações que enfrentou e traça as causas das mudanças na criança, quando ocorrem. Combinando as abordagens linguística, cognitiva e psicanalítica, seu livro fornece uma perspectiva singular sobre os distúrbios de fala e comunicação, e será um livro essencial para fonoaudiólogos, psicólogos do desenvolvimento, especialistas em linguística e todos que desejem refletir seriamente sobre como falamos e como ocorre a comunicação”.

Children without Language: From Dysphasia to Autism, por Laurent Danon-Boileau. Oxford University Press 288 Pages PDF
Em http://depositfiles.com/files/snma2la0z

Kant e o Ornitorrinco

Kant and the Platypus: Essays on Language and Cognition (Ensaios sobre Linguagem e Cognição) é o livro que Umberto Eco diz ser uma tentativa de completar sua Semiótica, de 1976, só que ele parece ter se divertido muito mais. A editoria comenta:

“Como sabemos que um gato é um gato? E por que o chamamos de gato? Quanto de nossa percepção das coisas se baseia em habilidade cognitiva, e quanto em recursos linguísticos? Aqui, em seis ensaios notáveis, Umberto Eco explora em profundidade questões de realidade, percepção e experiência. Baseando suas idéias no senso comum, Eco compartilha conosco sua vasta riqueza de conhecimento histórico e literário, abordando assuntos que nos afetam diariamente. A um só tempo filosófico e divertido, Kant e o Ornitorrinco é uma viagem pelo mundo de nossos sentidos contada por um mestre do conhecimento sobre o que é real e o que não é”.

Trecho da Introdução, por Umberto Eco:

“O que tem a ver Kant com o ornitorrinco? Nada. Como veremos a partir das datas, ele não poderia ter nada a ver. E isso deveria ser suficiente para justificar o título e seu uso em um contexto incongruente que soa como um tributo à antiga enciclopédia chinesa de Borges.

Então, sobre o que é esse livro? Ornitorrinco à parte, é sobre gatos, cachorros, ratos e cavalos, mas também sobre cadeiras, pratos, árvores, montanhas e outras coisas que vemos todos os dias, e é sobre as razões pelas quais podemos distinguir um elefante de um tatu (assim como normalmente não confundimos nossa esposa com um chapéu). Este é um formidável problema filosófico que ocupa o pensamento humano de Platão aos cognitivistas de hoje em dia, e um problema que mesmo Kant (como veremos) não só não conseguiu resolver como não conseguiu expresssar em termos satisfatórios. Então você pode imaginar minhas chances.

Por isso é que os ensaios que formam esse livro (escritos em doze meses e escolhidos entre os temas com os quais venho lidando – incluindo alguns materiais não publicados – durante os últimos anos) brotam de um núcleo de preocupações teóricas interconectadas, e mesmo sendo interreferenciais não devem ser lidos como ‘capítulos’ de uma obra com ambições sistemáticas. Ainda que os diversos parágrafos sejam às vezes numerados escrupulosamente em seções e sub-seções, isto é apenas para permitir uma referência cruzada rápida entre um ensaio e outro, sem que este artifício queira necessariamente sugerir qualquer arquitetura básica. E ainda que eu diga muitas coisas nessas páginas, ainda há muitas mais que eu não digo, simplesmente porque minhas idéias não são claras quanto a elas. De fato, gostaria de assumir como meu lema uma citação de Boscoe Pertwee, um escritor do século 18 (desconhecido para mim), que achei no Gregory (1981: 558): ‘Eu costumava ser indeciso, mas agora não tenho tanta certeza’.”


Umberto Eco, Kant and the Platypus: Essays on Language and Cognition 2000 480 pages PDF Em http://depositfiles.com/files/51a3vwx8e

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A calma dessa gente...

O livro de Hulda Regehr Clark, The Cure for all Diseases (A cura para todas as doenças), é apresentado assim:

“Todas as doenças vêm de duas causas, poluição e parasitas, não importa o tamanho de sua lista de sintomas, da fadiga crônica à infertilidade e aos problemas mentais. A eletricidade pode agora ser usada para matar bactérias, vírus e parasitas em minutos, não dias ou semanas, como requerem os antibióticos. Se v. estiver sofrendo de infecção crônica ou tiver câncer, ou Aids, aprenda a construir o aparelho eletrônico (The Zapper) que vai interromper essas doenças imediatamente. É seguro e sem efeitos colaterais, e não interfere com qualquer tratamento que v. esteja fazendo agora”.

A trapizonga está em http://rapidshare.de/files/18308314/Cure_For_All_Diseases.pdf

Epistemologia em Quantum Philosophy

Roland Omnès é professor emérito de física teórica na faculdade de ciências de Orsay, Université Paris-Sud XI. Nasceu em 1931 e tem formação em matemática, mas seus trabalhos não inteiramente técnicos sempre enfatizam a ligação entre a física e a possibilidade do conhecimento. O livro examinado aqui, Quantum Philosophy (primeira edição: Paris, Gallimard, 1994), trata dessa ligação em grande estilo. Da Grécia antiga aos dias de hoje, Omnès examina em que contextos se desenvolveu a epistemologia corrente.

“Em seu livro de 2004, Converging Realities: Toward a Common Philosophy of Physics and Mathematics (Princeton University Press), Omnès apresenta, em detalhes, sua posição sobre a relação entre matemática e realidade, que ele começou a desenvolver em Quantum Philosophy” (Wikipedia). O texto editorial que apresenta Quantum Philosophy retrata direitinho o que se pode esperar de sua leitura:

“Nesta obra magistral, Roland Omnès nos leva das academias da antiga Grécia aos laboratórios da ciência moderna, à medida que procura reconstruir os fundamentos da filosofia do conhecimento. Um dos maiores físicos quânticos do mundo, Omnès resenha a história e os recentes desenvolvimentos da matemática, da lógica e das ciências físicas para mostrar que os atuais trabalhos em teoria quântica oferecem novas respostas para questões que intrigaram os filósofos durante séculos: O mundo é fundamentalmente inteligível? Todos os eventos são causados? Os objetos têm localizações definitivas? Omnès lida com essas questões através de argumentos vigorosos e uma redação clara e pitoresca, visando não só desenvolver o conhecimento como também esclarecer os leitores que não tenham base formal em ciência ou filosofia.

O livro se inicia com uma descrição ampla e penetrante dos principais desenvolvimentos da ciência e da filosofia do conhecimento da era pré-socrática até o século 19. Omnès então delineia o surgimento, no pensamento moderno, de uma fratura entre nossa visão intuitiva e trivial do mundo e o mundo abstrato e incomprensível – para muitas pessoas – retratado pela física avançada, a matemática e a lógica. Ele argumenta que a fratura ocorreu porque as idéias de Einstein e Bohr, os progressos lógicos de Frege, Russell e Gödel e a necessária matemática do infinito de Cantor e Hilbert não podem ser inteiramente expressados apenas por palavras e imagens. A mecânica quântica teve papel importante nesse desenvolvimento, já que pareceu minar as noções intuitivas de inteligibilidade, localidade e causalidade. Entretanto, Omnès argumenta que o senso comum e a mecânica quântica não são tão incompatíveis como achavam muitas pessoas. De fato, ele apresenta o provocativo argumento de que a abordagem da mecânica quântica através das ‘histórias consistentes’, desenvolvida nos últimos quinze anos, coloca o senso comum (um pouco reavaliado e circunscrito) em uma firme posição filosófica e científica pela primeira vez. Ao fazer isso, ele fornece o que os filósofos procuraram através dos tempos: uma base confiável para o conhecimento humano”.

Roland Omnès "Quantum Philosophy" Princeton University Press 1999 328 pages PDF
http://uploading.com/files/XS0JAYKW/quantum_philosophy.rar.html ou http://www.megaupload.com/?d=ZOULBM1A

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Apotemnofilia

Eu já tinha lido sobre o fenômeno, mas achava que mais uma vez a imprensa estava exagerando para vender mais exemplares (e portanto mais espaço publicitário). Na apotemnofilia, pessoas aparentemente sãs amputam membros perfeitamente normais de seu corpo. Depois de queimar uma ou duas moléculas de ATP condoendo-me do pessoal, esquecia o assunto até o editor de alguma publicação resolver ressuscitá-lo. Eis que surge nos artigos antecipados (Precedings) da Nature um trabalho de pesquisadores da University of California sobre o assunto, onde tudo fica esclarecido. Aqui vai o abstract/resumo dele, que já dá pro gasto. Para quem quer saber mais, há o link para o PDF.

“A questão de como o cérebro humano combina inputs sensoriais dissimilares para elaborar uma imagem corporal unificada sempre despertou interesse. Nós abordamos o assunto estudando uma condição médica incomum chamada apotemnofilia, na qual indivíduos até então normais expressam forte e persistente desejo de amputar um membro específico normal. Nós mostramos aqui, utilizando tomografia funcional – magnetoencefalografia (MEG) – que essa condição se caracteriza por uma ausência de atividade no lobo parietal superior direito (SPL – superior parietal lobe) quando o membro afetado é tocado. Quando este achado é combinado com uma descoberta anterior nossa, de que há um aumento simultâneo na reação dermatológica de condutância (SCR – skin conductance response) ao se tocar o membro afetado, o que reflete uma atividade aumentada do sistema nervoso simpático relacionada ao membro, concluimos que aquilo que tinha sido considerado como uma condição simplesmente psicológica na verdade tem uma base neurológica e é causada por uma falha em representar um ou mais membros no SPL direito. Isto tem a bizarra consequência de que apesar dos afetados poderem sentir o membro em questão ser tocado, ele não está integrado em sua imagem corporal – um desencontro que resulta no desejo do membro afetado ser amputado”.
Apotemnophilia – the Neurological Basis of a ‘Psychological’ Disorder PDF (196.5 KB)
Paul D. McGeoch1, David J. Brang1, Tao Song2, Roland R. Lee2, Mingxiong Huang2, & Vilayanur S. Ramachandran1
1. Center for Brain and Cognition, University of California, San Diego
2. Department of Radiology, University of California, San Diego