sexta-feira, 5 de março de 2010

Pollini toca os Estudos, de Chopin


O crítico Tobias Fischer escreve sobre a interpetação de Maurizio Pollini para os Études Op. 10 & 25, de Chopin. Vou traduzir apenas a parte que se refere mais diretamente ao assunto.

"Quando Pollini surgiu como artista de gravações logo depois desse disco ter sido publicado, ele tinha passado por uma longa e muito falada fase de transformação. O rapaz de 18 anos que tinha encantado o mundo na competição Chopin de 1960 tinha feito uma viagem ao mundo da composição contemporânea e voltou de lá um homem diferente. Sua portas da percepção tinham sido higienizadas através de uma imersão em Boulez e Stockhausen, sua abordagem sendo dilatada mais do que nunca por um desejo de clareza, controle, precisão e pureza. O contrato de gravação que ele assinou com a Deutsche Grammophon na época duraria por mais 30 anos, e por ele Pollini tocaria Nono e Schoenberg ao lado de Beethoven, Mozart e Schubert. Seu primeiro LP para a gravadora alemã combinava a Petrushka, de Stravinsky, as Variations for Piano op. 27, de Webern, a Piano Sonata No. 2, de Boulez, e a Piano Sonata No. 7, de Prokofiev, sendo hoje em dia considerado um marco. O mesmo se pode dizer dos Études, gravados mais ou menos um ano depois, e apresentando uma motivação que era o espelho vertical e exato do disco de Stravinsky. A opinião pública, entretanto, está dividida até hoje.

Não havia dúvida quanto às habilidades técnicas de Pollini. Seus dedos riem frente às complexidades rítmicas, fulminando arpejos e galáxias de notas através dos quais o intérprete viaja à velocidade de uma dobra espacial. O seu 'som' é que virou objeto de discussão. O que se supunha ser 'romântico' agora soava 'cool' e analiticamente desfigurado aos ouvidos de muitos. Pollini tinha transferido sua experiência de interpretar a Avantgarde para o século 19 - uma iniciativa ousada, intrépida e, pelo menos para a elite conservadora, escandalosa. (...)É verdade que seu timbre tem algo de metálico, quase como se ele estivesse tocando um piano feito de mármore. Ele também enfatiza a estrutura das peças, ao invés de 'patinar' em um mar de ressonâncias e reverberações. Ainda assim, caracterizar sua performance como descompromissada e não-musical parece absurdo. Pollini usa com grande eficiência a dinâmica, martelando as frases nas seções 'forte', indo ao quase silêncio em outras ocasiões. Sua aquarela é diferente para cada peça, assim como seu foco e abordagem a ritmo e textura. As duas séries (op. 10 & 25) são apresentadas como passeios de montanha-russa, como uma sucessão de retratos emocionais contrastantes. Graças a essa tendência, a tensão interna das obras se torna aparente: luz e sombra, euforia e depressão, conforto e melancolia, aqui tudo são lados diferentes da mesma moeda. Nada fica ao acaso. Em sua meticulosa precisão, a música caminha incansavelmente para uma resolução triunfante ao final do túnel".

Fryderyk Franciszek Chopin (1810-1849) - Etudes, op. 10 & 25
Maurizio Pollini - piano

http://www.megaupload.com/?d=15HWVF1D
(link obtido no excelente site http://pqpbach.opensadorselvagem.org/ )