O crítico Tobias Fischer escreve sobre a interpetação de Maurizio Pollini para os Études Op. 10 & 25, de Chopin. Vou traduzir apenas a parte que se refere mais diretamente ao assunto.
"Quando Pollini surgiu como artista de gravações logo depois desse disco ter sido publicado, ele tinha passado por uma longa e muito falada fase de transformação. O rapaz de 18 anos que tinha encantado o mundo na competição Chopin de 1960 tinha feito uma viagem ao mundo da composição contemporânea e voltou de lá um homem diferente. Sua portas da percepção tinham sido higienizadas através de uma imersão em Boulez e Stockhausen, sua abordagem sendo dilatada mais do que nunca por um desejo de clareza, controle, precisão e pureza. O contrato de gravação que ele assinou com a Deutsche Grammophon na época duraria por mais 30 anos, e por ele Pollini tocaria Nono e Schoenberg ao lado de Beethoven, Mozart e Schubert. Seu primeiro LP para a gravadora alemã combinava a Petrushka, de Stravinsky, as Variations for Piano op. 27, de Webern, a Piano Sonata No. 2, de Boulez, e a Piano Sonata No. 7, de Prokofiev, sendo hoje em dia considerado um marco. O mesmo se pode dizer dos Études, gravados mais ou menos um ano depois, e apresentando uma motivação que era o espelho vertical e exato do disco de Stravinsky. A opinião pública, entretanto, está dividida até hoje.
Não havia dúvida quanto às habilidades técnicas de Pollini. Seus dedos riem frente às complexidades rítmicas, fulminando arpejos e galáxias de notas através dos quais o intérprete viaja à velocidade de uma dobra espacial. O seu 'som' é que virou objeto de discussão. O que se supunha ser 'romântico' agora soava 'cool' e analiticamente desfigurado aos ouvidos de muitos. Pollini tinha transferido sua experiência de interpretar a Avantgarde para o século 19 - uma iniciativa ousada, intrépida e, pelo menos para a elite conservadora, escandalosa. (...)É verdade que seu timbre tem algo de metálico, quase como se ele estivesse tocando um piano feito de mármore. Ele também enfatiza a estrutura das peças, ao invés de 'patinar' em um mar de ressonâncias e reverberações. Ainda assim, caracterizar sua performance como descompromissada e não-musical parece absurdo. Pollini usa com grande eficiência a dinâmica, martelando as frases nas seções 'forte', indo ao quase silêncio em outras ocasiões. Sua aquarela é diferente para cada peça, assim como seu foco e abordagem a ritmo e textura. As duas séries (op. 10 & 25) são apresentadas como passeios de montanha-russa, como uma sucessão de retratos emocionais contrastantes. Graças a essa tendência, a tensão interna das obras se torna aparente: luz e sombra, euforia e depressão, conforto e melancolia, aqui tudo são lados diferentes da mesma moeda. Nada fica ao acaso. Em sua meticulosa precisão, a música caminha incansavelmente para uma resolução triunfante ao final do túnel".
"Quando Pollini surgiu como artista de gravações logo depois desse disco ter sido publicado, ele tinha passado por uma longa e muito falada fase de transformação. O rapaz de 18 anos que tinha encantado o mundo na competição Chopin de 1960 tinha feito uma viagem ao mundo da composição contemporânea e voltou de lá um homem diferente. Sua portas da percepção tinham sido higienizadas através de uma imersão em Boulez e Stockhausen, sua abordagem sendo dilatada mais do que nunca por um desejo de clareza, controle, precisão e pureza. O contrato de gravação que ele assinou com a Deutsche Grammophon na época duraria por mais 30 anos, e por ele Pollini tocaria Nono e Schoenberg ao lado de Beethoven, Mozart e Schubert. Seu primeiro LP para a gravadora alemã combinava a Petrushka, de Stravinsky, as Variations for Piano op. 27, de Webern, a Piano Sonata No. 2, de Boulez, e a Piano Sonata No. 7, de Prokofiev, sendo hoje em dia considerado um marco. O mesmo se pode dizer dos Études, gravados mais ou menos um ano depois, e apresentando uma motivação que era o espelho vertical e exato do disco de Stravinsky. A opinião pública, entretanto, está dividida até hoje.
Não havia dúvida quanto às habilidades técnicas de Pollini. Seus dedos riem frente às complexidades rítmicas, fulminando arpejos e galáxias de notas através dos quais o intérprete viaja à velocidade de uma dobra espacial. O seu 'som' é que virou objeto de discussão. O que se supunha ser 'romântico' agora soava 'cool' e analiticamente desfigurado aos ouvidos de muitos. Pollini tinha transferido sua experiência de interpretar a Avantgarde para o século 19 - uma iniciativa ousada, intrépida e, pelo menos para a elite conservadora, escandalosa. (...)É verdade que seu timbre tem algo de metálico, quase como se ele estivesse tocando um piano feito de mármore. Ele também enfatiza a estrutura das peças, ao invés de 'patinar' em um mar de ressonâncias e reverberações. Ainda assim, caracterizar sua performance como descompromissada e não-musical parece absurdo. Pollini usa com grande eficiência a dinâmica, martelando as frases nas seções 'forte', indo ao quase silêncio em outras ocasiões. Sua aquarela é diferente para cada peça, assim como seu foco e abordagem a ritmo e textura. As duas séries (op. 10 & 25) são apresentadas como passeios de montanha-russa, como uma sucessão de retratos emocionais contrastantes. Graças a essa tendência, a tensão interna das obras se torna aparente: luz e sombra, euforia e depressão, conforto e melancolia, aqui tudo são lados diferentes da mesma moeda. Nada fica ao acaso. Em sua meticulosa precisão, a música caminha incansavelmente para uma resolução triunfante ao final do túnel".
Fryderyk Franciszek Chopin (1810-1849) - Etudes, op. 10 & 25
Maurizio Pollini - piano
http://www.megaupload.com/?d=15HWVF1D
(link obtido no excelente site http://pqpbach.opensadorselvagem.org/ )