terça-feira, 2 de março de 2010

Pequena introdução sobre o cérebro


Estes são os três primeiros parágrafos do livro descrito ao final. Bem escrito, o leitor vai devorando o texto sem perceber: fui dar uma olhada para avaliar se estaria bem para postar aqui, e quando dei por mim já estava longe...

"Pense por alguns momentos sobre uma máquina muito especial, o seu cérebro - um órgão de apenas 1,2 kg, contendo cem bilhões de neurônios, nenhum dos quais, por si só, faz a menor idéia de quem ou o que você é. De fato, a própria idéia de que uma célula possa ter uma idéia já parece bobagem. Afinal, uma única célula é uma entidade muito simples. Entretanto, a percepção consciente do próprio eu vem daí mesmo: neurônios intercomunicando-se através de cem trilhões de interconexões. Quando v. pensa bem sobre isso, trata-se de um enigmático fato da vida. Portanto, pode não ser tão irracional assim supor que tal máquina deve ser dotada de propriedades miraculosas. Mas ao mesmo tempo que o mundo está cheio de mistério, a ciência não tem lugar para milagres, e o problema científico mais desafiador do século 21 é explicar em termos puramente materiais como o cérebro funciona.

Pensar sobre o cérebro já é uma espécie de enigma, porque v. só pode pensar sobre seu cérebro usando o seu cérebro. Você vai tomar gosto por esta curiosa circularidade se pensar nas consequências de concluir, como se poderia esperar, que seu cérebro é a máquina mais incomumente complexa e extraordinária do universo conhecido. É claro que esta é a opinião do seu cérebro sobre ele mesmo, e não poderia ser de ninguém mais: o modo que o cérebro tem de pensar sobre o cérebro. Parece, então, que estamos presos em um paradoxo lógico de um sistema de auto-referência, e nesse caso, de um sistema obsecado por si mesmo. Talvez a única conclusão confiável desse experimento de pensamento seja de que o cérebro é muito cheio de si.

Deixando de lado a desenvolvida vaidade pessoal do cérebro, temos que reconhecer que ele fornece algumas habilidades muito particulares. Ele opera ao fundo de todas as suas ações, sensações e de seus pensamentos. Permite que v. reflita vividamente sobre o passado, forje opiniões fundamentadas sobre o presente e planeje cursos de ação racionais para o futuro. Ele também fornece uma habilidade com a qual, aparentemente sem fazer qualquer esforço, v. forma figuras na mente, percebe música em meio ao ruído, sonha, dança, apaixona-se, chora e ri. Entretanto, talvez a mais notável de todas seja a capacidade do cérebro para gerar a percepção consciente, que o convence de que v. é livre para escolher o que vai fazer a seguir".

The Brain - A very short introduction
Michael O'Shea
Oxford University Press 2005 148 pages PDF
http://rapidshare.com/files/96094237/The_Brain_-_A_Very_Short_Introduction.pdf