Sou fã de Menand desde criancinha, isto é, só leio suas coisas há uns dez anos mas já faz parte da minha fisiologia - como a estaca no coração de um vampiro. Não dá para voltar atrás, nem quero: ele é um dos meus 'heróis', ainda que não tenha chegado ao meu panteão particular das 'pessoas acima do bem e do mal' (habitado por menos de dez ilustres - Bach, Borlaug, Fernando Pessoa, Lucrécio, etc. - que têm cidadania pelos motivos mais diversos, porém sólidos, desses que se desmancham no ar - não estão sujeitos às casuísticas da matéria).
Menand escreveu o artigo abaixo para a New Yorker (01.março.2010), mas esse artigo poderia representar o pensamento de um guest-editor da Trends in Neurosciences ou do Journal of Psychopharmacology. Vou traduzir um pedacinho só para abrir o apetite. Menand diz que o sujeito é despedido, volta para casa e começa a ficar deprê...
Head Case. Can psychiatry be a science?
by Louis Menand
"... Depois de duas semanas, você tem dificuldade até para sair de casa. Vai ao médico, ele escuta sua história e receita um antidepressivo. Você toma o remédio?
Não importa como v. vai chegar a uma decisão: não leia a literatura psiquiátrica. Tudo nela, desde a ciência (as drogas realmente funcionam?) até a metafísica (a depressão é mesmo uma doença?) vai confundir você. Há pouca concordância sobre o que causa depressão, e nenhum consenso sobre o que a cura. Virtualmente nenhum cientista assina embaixo daquela teoria veiculada na sala-de-espera: a depressão é causada por falta de serotonina e muitas pessoas dizem que se sentem melhor quando tomam remédios que afetam a serotonina e ouras substâncias químicas cerebrais.
Há suspeitas de que a indústria farmacêutica tem um dedo nos estudos que comprovam que as drogas antidepressivas são seguras e eficazes, e de que a propaganda da indústria feita diretamente ao consumidor está encorajando as pessoas a exigir pílulas que curem condições que não são doenças (como a timidez) ou que ajudem a superar problemas diários comuns (como ser despedido). A FDA (Food and Drug Administration) foi acusada de diminuir muito o padrão de aprovação de drogas que vão para o mercado sob uma marca. Os críticos afirmam que as organizações de assistência à saúde são corrompidas pela generosidade da indústria, e que as regras referentes a conflitos de interesses são frouxas ou inexistentes. Na profissão, o manual que prescreve os critérios dos diagnósticos oficiais, o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, conhecido como D.S.M., vem recebendo críticas há décadas. E os médicos receitam antidepressivos para pacientes que não têm depressão: pessoas tomam antidepressivos para distúrbios alimentares, ataques de pânico, ejaculação precoce e alcoolismo".
CV de Louis Menand, aqui.