sábado, 6 de março de 2010

A nova neuroliteratura


Marco Roth, em seu artigo para a revista eletrônica n+1, enfatiza a passagem do romântico para o científico ou, em seus termos, do romance psicológico ou confessional para as obras neurológicas. Um upgrade literário da consciência para o cérebro, das ilações sobre a mente para a utilização da neurociência, da própria neurologia. Vou traduzir um pequeno trecho da primeira parte (mas leia todo o artigo: Roth sabe das coisas).

O Surgimento da Neuroliteratura
The Rise of the Neuronovel

Marco Roth
[From Issue 8]
October 19th, 2009

Os últimos doze anos, mais ou menos, testemunharam o surgimento de uma nova cepa da literatura anglo-americana. Aquilo que foi chamado por diversos meios de romance da consciência, ou psicológico, ou confessional - de qualquer modo, o romance sobre o funcionamento da mente - transformou-se em romance neurológico, onde a mente se torna o cérebro. Desde 1997, os leitores encontraram, mais ou menos em ordem cronológica, 'Enduring Love', de Ian McEwan (síndrome de Clérambault, completa com um histórico de caso feito por um 'psiquiatra chefe', e uma útil bibliografia), 'Motherless Brooklyn', de Jonathan Lethem (síndrome de Tourette), o 'Curious Incident of the Dog in the Night-Time, de Mark Haddon (autismo), 'The Echomaker', de Richard Powers (agnosia facial, síndrome de Capgras), McEwan de novo com 'Saturday' (doença de Huntington, diagnosticada pelo protagonista que é neurocirurgião), 'Atmospheric Disturbances' (síndrome de Capgras novamente), de uma estudante de medicina, Rivka Galchen, e 'Lowboy', de John Wray (esquizofrenia paranóide). E estes são apenas alguns títulos publicados em 'ficção literária'. Há também muitos romances de gênero recentes, a maior parte 'thrillers', de amnésia, distúrbio bipolar e distúrbio de personalidade múltipla. Como os jovens escritores em Balzac passeiam por Paris caçando romances históricos com títulos como 'O Arqueiro de Charles IX', imitando Walter Scott, hoje em dia um aspirante a romancista pode procurar seu assunto em um canto esquecido ou em alguma fronteira nova da neurologia.