terça-feira, 23 de março de 2010

O Uivo de Allen Ginsberg



(Esta não é a fotografia mais comum ou mais conhecida de Ginsberg. Os editores gostam daquelas em que ele está desgrenhado, seminu, com cara de bicha-louca descontrolada, através das quais se pode desacreditar sua pesada retórica que acorda nossas mentes e consterna nossos corações)






Howl
I saw the best minds of my generation destroyed by madness, starving hysterical naked,
dragging themselves through the negro streets at dawn looking for an angry fix,
angelheaded hipsters burning for the ancient heavenly connection to the starry dynamo in the machinery of night,

O Uivo é o realejo infernal de Allen Ginsberg que ainda ecoa no firmamento cinza-chumbo das alegorias psicotrópicas e apocalípticas e assombra nossas tentativas de fugir do inenarrável. Dançamos sob um céu de diamante, nossas silhuetas refletidas contra o mar, tentando esquecer o dia de hoje até que chegue o amanhã, palhaços esfarrapados perseguindo uma sombra. Mas somos animais empíricos vivendo fugazmente sob o olhar impassível das divindades olímpicas ou subterrâneas que criamos na tentativa de fugir do inexorável. O homem não vive em calmo desespero por falta de saídas: é que elas não levam a lugar nenhum. Nossa arquitetura febril projeta um pórtico partido para o impossível, e ardemos por essa atávica conexão celestial com o dínamo estrelado do maquinário da noite.

Ouça o poeta recitar sua obra prima aqui e aqui. O texto completo pode ser lido aqui.