(acima: Stredici, by David Lieberman and his architecture class, 2009)
Lendo o artigo de Carolyn Y. Johnson (Symphony in J flat), v. é apresentada(o) à música baseada na escala Bohlen-Pierce. Como esse artigo é meio pobrinho, vou usar apenas uns trechos, mas v. pode lê-lo no endereço indicado. Diz Johnson, depois de visitar a clarinetista Amy Advocat e ouvir a escala Bohlen-Pierce pela primeira vez: "(Ela) levou o clarinete aos lábios e tocou uma nota grave, seguida pela nota seguinte mais alta, e depois a próxima. Isoladamente, cada uma delas teria soado normal - como o tom levemente rouco de um clarinete por sobre o ruído do tráfego que vinha da rua. Mas juntas, as notas ascendentes criaram uma sensação esquisita e fora do comum que tornava difícil predizer o que viria a seguir. Mesmo assim, quando Amy alcançou a última nota deu-se uma estranha sensação de closura. Era o mesmo aposento bem arrumado, enfeitado com duas guitarras em paredes opostas - e ainda assim, uma sensação surreal e misteriosa pairava no ar". Visivelmente exagerada nesse início, ela termina um pouco melhor: "Quando seu clarinete Bohlen-Pierce - um dos poucos do mundo - chegou pelo correio há poucos meses, ela abriu o pacote ansiosamente e começou a tocar. Sua colega de quarto escutou, e comentou que soava como um clarinete de uma cultura diferente - as notas soavam bem, mas não não faziam muito sentido. Nos últimos meses, entretanto, Advocat começou a ouvir mais do que notas estranhas - agora ela ouve possibilidades".
Symphony in J flat
Carolyn Y. Johnson
Dito isso, fui ouvir (e ver - no YouTube) Love Song, de Elaine Walker, e Solemn Song, do Dr. Richard Boulanger (que toca um instrumento eletrônico na música de Walker). Quer dizer, ouvi também umas outras coisas, mas essas duas são o que consegui de mais próximo à estrutura do que conheço. Mesmo assim, é diferentão. E não dá para curtir, de jeito nenhum. Não que seja música 'alienígena', como descreve Jeff Bond em seu artigo The Music from Star Trek, aqui, e que acaba sendo diversão naquele contexto.
Para conhecer os detalhes técnicos da música Bohlen-Pierce, é só fazer uma pesquisa no Google. Mas esse site aqui (The Bohlen-Pierce Site) pode tirar muitas dúvidas. No artigo de Carolyn Y. Johnson há um trecho pragmático sobre o assunto, nomeando quem poderia se beneficiar com esse sistema musical: "Para os músicos, o crescente panteão dos instrumentos Bohlen-Pierce - clarinetes, uma flauta de Pan e um instrumento de cordas com 4 metros de comprimento - forma uma nova fronteira. Para os neurocientistas, a música exótica oferece um perfeito teste de caso para se entender como o cérebro das pessoas aprendem um sistema musical desconhecido. Para os compositores, o sistema Bohlen-Pierce oferece outro mundo, no qual uma simples linha melódica pode ter uma inesperada capacidade expressiva. E para uma platéia de ouvintes bombardeados diariamente com uma música que preenche certas expectativas básicas, os estranhos sons oferecem novos desafios, novas provocações e, talvez, beleza".
Um dos comentaristas (john-borstlap) do artigo dela, porém, demonstrando grande erudição e excelente poder explanatório (além de ser educado e contido), resume tudo o que há para ser dito:
"A ingenuidade abissal desse 'novo sistema' mostra como mesmo em nível acadêmico existe muita confusão sobre o que é música e o que é tonalidade. Os sistemas tonais de todo o mundo permanecem íntegros por causa da forte relação da oitava, que é a simples divisão de uma corda em dois. Divida a corda em três, e v. tem a quinta. Todos os outros intervalos dessa amplitude podem ser relacionados de um modo ou de outro a esses pontos de orientação, como as culturas não européias fizeram de diferentes maneiras. O sistema europeu é singular, no sentido de que ao ajustar os intervalos menores (smaller) do jeito como faz, os pontos de orientação (as oitavas, que designam tons/tonalidades) podem ser posicionados em diferentes alturas enquanto a música está se desenvolvendo; em outras palavras, a música pode 'viajar' de uma área tonal para outra, e todas as notas podem formar todo tipo de diferentes relações com outras notas. A força que torna isso possível ainda é a força natural que cria a óbvia relação da oitava, o 'primeiro harmônico', e o sistema europeu abriu o rico território de diferentes coisas acontecendo ao mesmo tempo mas ainda assim se ajustando: a polifonia. Em outras culturas isso é bem menos possível, porque os intervalos são utilizados como matizes, não como tonalidades funcionais que possam mudar de significado em diferentes contextos tonais. Os harmônicos são um dado físico da natureza, não um sistema. Os sistemas tonais das diferentes culturas, incluindo a européia, são ajustes desse fato natural; eles são um constructo sobre a base de um fenômeno natural. O sistema, como está descrito nesse artigo, não faz essa distinção, e o resultado é - como se pode ouvir nas amostras musicais, apenas 'música moderna' tosca e sem imaginação, com ocasionais notas fora do tom. Que esse sistema vá abrir 'novas possibilidades' na música artística é algo que não deve ser esperado".
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Algumas outras leituras pertinentes:
A Generalized Mechanism for Perception of Pitch Patterns
Psyche Loui, Elaine H. Wu, David L. Wessel and Robert T. Knight
The Journal of Neuroscience, January 14, 2009 • 29(2):454–459
In his later years, he (Pierce) was particularly interested in what he eventually termed ‘‘the Bohlen-Pierce scale’’ (after learning of its earlier description by Heinz Bohlen): a division of the frequency ratio 3:1 into 13 equal parts, modeled after traditional equal temperament’s division of the 2:1 octave into 12 equal parts. The system includes a subset, analogous to the traditional diatonic scale, and a ‘‘triad’’ that approximates within 7 cents the frequency ratios 3:5:7 (whereas the traditional major triad approximates 4:5:6). Mr. Pierce was intrigued by the notion that music built on such scales could exhibit consonance and dissonance analogous to those of traditional music, and that the 3:1 ratio could even be perceived as an identity relationship in place of the traditional octave. Owing substantially to his and Max Mathews’s influence, computer music composers such as Jon Appleton, Richard Boulanger, Curtis Roads, Georg Hajdu, and Juan Reyes have employed the Bohlen-Pierce scale. Mr. Pierce himself wrote one or two short studies in the scale. AQUI
Symphony in J flat
Carolyn Y. Johnson
Dito isso, fui ouvir (e ver - no YouTube) Love Song, de Elaine Walker, e Solemn Song, do Dr. Richard Boulanger (que toca um instrumento eletrônico na música de Walker). Quer dizer, ouvi também umas outras coisas, mas essas duas são o que consegui de mais próximo à estrutura do que conheço. Mesmo assim, é diferentão. E não dá para curtir, de jeito nenhum. Não que seja música 'alienígena', como descreve Jeff Bond em seu artigo The Music from Star Trek, aqui, e que acaba sendo diversão naquele contexto.
Para conhecer os detalhes técnicos da música Bohlen-Pierce, é só fazer uma pesquisa no Google. Mas esse site aqui (The Bohlen-Pierce Site) pode tirar muitas dúvidas. No artigo de Carolyn Y. Johnson há um trecho pragmático sobre o assunto, nomeando quem poderia se beneficiar com esse sistema musical: "Para os músicos, o crescente panteão dos instrumentos Bohlen-Pierce - clarinetes, uma flauta de Pan e um instrumento de cordas com 4 metros de comprimento - forma uma nova fronteira. Para os neurocientistas, a música exótica oferece um perfeito teste de caso para se entender como o cérebro das pessoas aprendem um sistema musical desconhecido. Para os compositores, o sistema Bohlen-Pierce oferece outro mundo, no qual uma simples linha melódica pode ter uma inesperada capacidade expressiva. E para uma platéia de ouvintes bombardeados diariamente com uma música que preenche certas expectativas básicas, os estranhos sons oferecem novos desafios, novas provocações e, talvez, beleza".
Um dos comentaristas (john-borstlap) do artigo dela, porém, demonstrando grande erudição e excelente poder explanatório (além de ser educado e contido), resume tudo o que há para ser dito:
"A ingenuidade abissal desse 'novo sistema' mostra como mesmo em nível acadêmico existe muita confusão sobre o que é música e o que é tonalidade. Os sistemas tonais de todo o mundo permanecem íntegros por causa da forte relação da oitava, que é a simples divisão de uma corda em dois. Divida a corda em três, e v. tem a quinta. Todos os outros intervalos dessa amplitude podem ser relacionados de um modo ou de outro a esses pontos de orientação, como as culturas não européias fizeram de diferentes maneiras. O sistema europeu é singular, no sentido de que ao ajustar os intervalos menores (smaller) do jeito como faz, os pontos de orientação (as oitavas, que designam tons/tonalidades) podem ser posicionados em diferentes alturas enquanto a música está se desenvolvendo; em outras palavras, a música pode 'viajar' de uma área tonal para outra, e todas as notas podem formar todo tipo de diferentes relações com outras notas. A força que torna isso possível ainda é a força natural que cria a óbvia relação da oitava, o 'primeiro harmônico', e o sistema europeu abriu o rico território de diferentes coisas acontecendo ao mesmo tempo mas ainda assim se ajustando: a polifonia. Em outras culturas isso é bem menos possível, porque os intervalos são utilizados como matizes, não como tonalidades funcionais que possam mudar de significado em diferentes contextos tonais. Os harmônicos são um dado físico da natureza, não um sistema. Os sistemas tonais das diferentes culturas, incluindo a européia, são ajustes desse fato natural; eles são um constructo sobre a base de um fenômeno natural. O sistema, como está descrito nesse artigo, não faz essa distinção, e o resultado é - como se pode ouvir nas amostras musicais, apenas 'música moderna' tosca e sem imaginação, com ocasionais notas fora do tom. Que esse sistema vá abrir 'novas possibilidades' na música artística é algo que não deve ser esperado".
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Algumas outras leituras pertinentes:
A Generalized Mechanism for Perception of Pitch Patterns
Psyche Loui, Elaine H. Wu, David L. Wessel and Robert T. Knight
The Journal of Neuroscience, January 14, 2009 • 29(2):454–459
In his later years, he (Pierce) was particularly interested in what he eventually termed ‘‘the Bohlen-Pierce scale’’ (after learning of its earlier description by Heinz Bohlen): a division of the frequency ratio 3:1 into 13 equal parts, modeled after traditional equal temperament’s division of the 2:1 octave into 12 equal parts. The system includes a subset, analogous to the traditional diatonic scale, and a ‘‘triad’’ that approximates within 7 cents the frequency ratios 3:5:7 (whereas the traditional major triad approximates 4:5:6). Mr. Pierce was intrigued by the notion that music built on such scales could exhibit consonance and dissonance analogous to those of traditional music, and that the 3:1 ratio could even be perceived as an identity relationship in place of the traditional octave. Owing substantially to his and Max Mathews’s influence, computer music composers such as Jon Appleton, Richard Boulanger, Curtis Roads, Georg Hajdu, and Juan Reyes have employed the Bohlen-Pierce scale. Mr. Pierce himself wrote one or two short studies in the scale. AQUI
Music: A Mathematical Offering
Dave Benson 2008 AQUI
Dave Benson 2008 AQUI