segunda-feira, 12 de abril de 2010

O desenvolvimento de redes corticais globais em bebês de 0-6 meses


Allison, que pilota o site onde li essa notícia pela primeira vez, o Dormivigilia, transborda entusiasmo: "No Journal of Neuroscience dessa semana, pesquisadores japoneses (contam como) utilizaram espectroscopia de infravermelho (próximo - near infrared) de 94 canais para localizar onde se inicia - durante o desenvolvimento neonatal - o diálogo regional, hemisférico e, por último, global entre as principais subdivisões corticais (FPOTS - frontal, parietal, occipital, temporal e do tronco encefálico [brain stem]). Uma visão esquemática do sistema de posicionamento (dos sensores) está aqui (CLM - coloquei-a como ilustração principal da postagem). Acho essa pesquisa extremamente fascinante, porque agora temos uma linha de desenvolvimento mais objetiva referente ao processamento cognitivo de ordem superior e à consciência no recém-nascido, ao invés de confiarmos naqueles modelos piagetianos de desenvolvimento cognitivo". Allison também reclama do inglês utilizado pelos japoneses (com alguma razão), mas a maioria dos artigos científicos em inglês, venham de onde vierem, são assim mesmo.

As ilustrações do artigo de Homae e colegas são excelentes, e tomo a liberdade de acrescentar uma pequena fotografia de um recém-nascido fazendo uma NIRS, que também traz ao lado uma breve explicação do método, e que pode ser vista AQUI.

Global Networks in the Developing Human Brain.
Homae et al

J. Neurosci., April 7, 2010 • 30(14):4877– 4882

"Introdução
O desenvolvimento estrutural e funcional do cérebro durante a primeira infância tem sido assunto de interesse desde longa data. O cérebro do bebê não é uma versão em miniatura do cérebro adulto, mas sim um sistema continuamente em auto-organização que forma regiões e redes funcionais entre múltiplas regiões através de conectividade de curto e de longo alcance. As funções sensoriais, motoras e cognitivas na infância apresentam modificações associadas ao desenvolvimento desse sistema. Ainda que estudos recentes de neuroimagem tenham revelado com sucesso as localizações funcionais do cérebro do bebê, ainda não ficou esclarecido como múltiplas regiões funcionais e suas redes globais surgem no decurso do primeiro desenvolvimento.

A organização das redes cerebrais na primeira infância com base no desenvolvimento estrutural é uma questão extensamente debatida. Nosso ponto de vista é que a conectividade entre regiões corticais aumenta gradualmente. Durante os seis primeiros meses, aumentos na densidade sináptica ocorrem nas regiões sensoriais e de associação. A progressão de mielinação no período pósnatal tem sido documentada em estudos de imagem por ressonância magnética (MRI) e de MRI do tensor de difusão. Outro ponto de vista é que conexões em excesso estão presentes entre regiões corticais, e esse número conexões decresce após o nascimento de modo que as redes remanescentes funcionem com eficiência. O decréscimo pósnatal do número de axônios calosais já foi observado no macaco rhesus em desenvolvimento. Estudos sobre o desenvolvimento estrutural do cérebro levantaram a questão crítica sobre como as redes funcionais se desenvolvem na primeira infância. No presente estudo, registramos nossas novas descobertas de modificações dinâmicas na conectividade funcional do cérebro humano; essas modificações refletem tanto aumentos como decréscimos na conectividade estrutural.

As redes funcionais de adultos foram estudadas através do exame de padrões de flutuações espontâneas na atividade cerebral. Foram registradas flutuações espontâneas na oxigenação do sangue cerebral de bebês adormecidos. Flutuações espontâneas foram medidas durante o estado de ausência de tarefas (de repouso); esse método é especialmente útil para se investigar sistemas neurais em múltiplos estágios do desenvolvimento. No presente estudo, examinamos o desenvolvimento de redes corticais no cérebro do bebê utilizando espectroscopia multicanal de infravermelho próximo (NIRS - near infrared spectroscopy). As modificações de desenvolvimento nos padrões das flutuações espontâneas afetariam a organização cerebral, a função cerebral e os comportamentos, incluindo o ciclo sono-vigília e vice-versa".