Social Cognition and the Evolution of Language: Constructing Cognitive Phylogenies
W. Tecumseh Fitch, Ludwig Huber & Thomas Bugnyar 2010
University of Vienna, Austria
DOI 10.1016/j.neuron.2010.03.011
Esse artigo de Fitch, Huber e Bugnyar (na revista Neuron) está à altura de suas pretensões: investigar o comportamento cognitivo de diversas espécies e estabelecer, sempre que possível, a amplitude e os limites do impulso da cognição em desenvolvimento. As citações de apoio são tantas que até atrapalham a leitura (Não estou reclamando...).
A Linguagem e a Cognição Social Estão Estreitamente Ligadas
A cognição social abrange diversas capacidades distintas, incluindo o aprendizado social, a imitação, o acompanhamento do olhar e a teoria da mente (TOM - theory of mind). Tais mecanismos formam elementos básicos do comportamento social animal e da cultura imitativa humana. A linguagem pode ser definida como um sistema didirecional que permite a expressão de pensamentos arbitrários como sinais e a interpretação reversa desses sinais como pensamentos. Ainda que a maioria dos animais tenham sistemas de comunicação que lhes permitam que alguns conceitos e emoções biologicamente importantes sejam expressados vocalmente, visualmente ou de outras formas, parece que os humanos são os únicos a possuir um sistema que permite a expressão e compreensão de qualquer conceito que possa nos ocorrer. Entretanto, ainda que a própria linguagem seja singular à nossa espécie, muitos dos seus mecanismos básicos são compartilhados com outras espécies.
A cognição social está intimamente ligada à evolução da linguagem. Para adquirir linguagem, é exigido que a criança tenha uma cognição social avançada: habilidades de 'leitura da mente' são necessárias para a dedução do significado de palavras e para se comunicar pragmaticamente. Em segundo lugar, uma vez instalada a linguagem fornece uma poderosa ferramenta para a cognição social, a ferramenta central da cultura humana. Nossa capacidade de compartilhar pensamentos socialmente permite que as culturas humanas acumulem conhecimento de uma maneira que seria impossível sem a linguagem, e fundamenta a acumulação progressiva de complexidade vista em muitos aspectos da cultura, da ciência e tecnologia até o mito e a religião. Juntas, a cognição social e a linguagem provavelmente formaram um ciclo evolutivo no qual os avanços de uma alimentaram progresos na outra, e não está claro como seria a cognição humana (social ou qualquer outra) sem essa poderosa ampliação cultural provida pela linguagem. Pesquisas com animais não-humanos podem ter importante papel na compreensão da evolução da cognição social em seus próprios termos não-linguísticos.
O artigo termina com o parágrafo abaixo, onde os autores rejeitam a hipótese de que os primatas não-humanos representam o apogeu da habilidade cognitiva animal e minimizam a importância do tamanho físico do cérebro animal para avaliação do seu nível cognitivo.
Ainda que a abordagem cognitiva filogenética enfatize a necessidade de mais dados, uma coisa que ficou clara é que a abordagem linear scala naturae da cognição, onde se espera que a inteligência animal cresça com a proximidade filogenética aos humanos, pode ser firmemente rejeitada. Nós nos concentramos em dados de aves e de outros animais não-primatas para enfatizar essa questão fundamental. Uma abordagem moderna à cognição comparativa deve conter inteiramente uma abordagem orientada para a árvore (da vida), firmemente enraizada na concepção darwiniana da vida como uma vasta árvore de famílias, se quisermos dar sentido à evolução cognitiva. Os dados, hoje abundantes, que indicam uma cognição altamente desenvolvida em aves lança um claro desafio ao ponto de vista centrado nos primatas que dominou a psicologia e a neurociência durante o último século; as aves, atualmente, estão em pé de igualdade com os primatas em muitos testes de inteligência tanto social como física. De fato, nós argumentamos aqui que os melhores paralelos de alguns aspectos da linguagem e da cultura devem ser encontrados não em outros primatas, mas em aves canoras. Como tais altos níveis de desempenho cognitivo são gerados em cérebros que têm uma fração do tamanho dos cérebros da maioria dos mamíferos é um enigma fundamental para os neurocientistas computacionais, sugerindo talvez que o neocórtex mamífero não seja o substrato computacional mais eficiente disponível entre os vertebrados. Mas nosso propósito aqui não é colocar as aves em um pedestal; ao invés, procuramos demonstrar como uma variedade bem ampla de espécies, de tartarugas a cachorros, tanto podem inspirar novas hipoteses sobre a evolução cognitiva como fornecer diversas maneiras de se testar tais hipóteses.