quinta-feira, 15 de abril de 2010

Cognição, Evolução e Comportamento


Resenha de Nick Clayton, na revista Nature (April 8, 2010), para o livro de Shettleworth.

O estudo da vida mental dos animais - cognição comparada - é relativamente novo. Ainda que Charles Darwin tenha sugerido no século 19 que as características mentais, assim como morfológicas, estão sujeitas à seleção natural, o estudo da cognição de animais só deslanchou na década de 1970, fruto de uma parceria entre os campos da psicologia comparada e do comportamento animal. Na última edição de Cognition, Evolution and Behavior, a psicóloga experimental Sara Shettleworth nós dá uma síntese de alto nível do pensamento atual nesse campo em franco progresso.

O livro é muito mais do que uma revisão, refletindo os desenvolvimentos que transformaram esse campo na década seguinte à primeira edição. Ao mesmo tempo em que tópicos como a cognição espacial - explorar como os animais navegam, e de que se lembram acerca de seu ambiente espacial - tenham tido progressos graduais, outros explodiram. Os capítulos sobre cognição numérica e social, que cobre como os animais avaliam quantidades e o que sabem sobre seu mundo social, agora se estende para além dos primatas até espécies tão diversas como cães, cabras, corvos, pássaros e peixes. Shettleworth também discute áreas recentes de estudo, incluindo a memória episódica, o planejamento futuro e o auto-conhecimento do animal sobre o que ele conhece (metacognição).

Ao adotar uma visão abrangente, Shettleworth resolve dois enigmas críticos da cognição comparada. O primeiro é um ponto de tensão entre as explanações behaviorista e mentalista dos comportamentos complexos - a saber, se a presença de um estímulo simplesmente ativa uma resposta comportamental ou se engaja um conjunto de inferências cognitivas. Adotando a posição crítica do behaviorista e reconhecendo os conceitos teóricos do mentalista, Shettleworth integra as duas perspectivas de maneira bem documentada.

Uma segunda tensão é se a cognição comparada deveria ser vista como um conjunto de especializações adaptativas - de habilidades espaciais a espertezas sociais - ou se os processos de propósito geral, como a aprendizagem associativa, têm maior poder explanatório. Também aqui, ela argumenta que os dois processos têm sua parte na explicação de como surgem as habilidades cognitivas. A análise de Shettleworth irá catalisar o desenvolvimento de teoria ampla e integrada da cognição comparada. Esta segunda edição nos apresenta uma síntese considerável e um maior amálgama teórico juntamente com outras disciplinas como desenvolvimento infantil, ciência cognitiva e neurociência. O resultado é uma visão detalhada e bem provida de nuances, embasada biologicamente, de como e porque as capacidades cognitivas de diversas espécies podem ser as mesmas e ainda assim apresentarem diferenças.

Nicky Clayton is professor of comparative cognition in the Department of Experimental Psychology, University of Cambridge, UK.

Cognition, Evolution, and Behavior
Sara J. Shettleworth
Oxford University Press 2009 720 pages PDF 8 MB
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