terça-feira, 20 de abril de 2010

A consolidação da memória

A revista Nature de 15 de abril ( aqui, ou aqui), em sua seção Neuroscience, traz esse filhote de notícia sobre a transcrição genética necessária para a consolidação de memórias. A descrição do mecanismo é bastante clara, mas estou procurando um artigo que se estenda mais sobre o assunto. Por enquanto, dê uma olhada nisso e leia os artigos de Roozendaal (2002) e de Alberini (1999, do qual traduzo uma pequena parte): essa questão já está na mira dos cientistas há muito tempo. Mais recente, o ensaio de Mauro Mattioli envereda pela bioquímica do processo e pode despertar o interesse de quem já está nesse nível. O artigo de Ken-Ichiro Yamashita e colegas também traz outras informações.

NeuroScience
Stressing memory

J. Neurosci. 30, 5037–5046 (2010)

A estimulação sensorial associada a uma classe de hormônios de estresse pode ser necessária para formar memórias de longo prazo, dizem Benno Roozendaal, da University of Groningen, na Holanda, Marcelo Wood, da University of California, Irvine, e colegas. Os autores deram hormônios glicocorticóides a ratos e camundongos e testaram se os animais se lembravam bem de objetos e suas localizações. Descobriram que os hormônios melhoravam a memória ao promover acetilação, a adição de grupos acetílicos a alvos nucleares. Esta modificação parece facilitar parte da transcrição genética necessária para a consolidação de memórias. Mas promover a acetilação na ausência do hormônio não melhorou a memória. Primeiro, o hormônio teve que ativar os receptores da membrana celular a fim de ativar uma cascata de eventos envolvidos no assentamento das memórias.
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Stress and Memory: Opposing Effects of Glucocorticoids on Memory Consolidation
and Memory Retrieval
Benno Roozendaal
Neurobiology of Learning and Memory 78, 578–595 (2002)
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Genes to Remember
Cristina M. Alberini
Department of Neuroscience, Brown University
The Journal of Experimental Biology 202, 2887–2891 (1999)

Há algumas décadas, a descoberta de que certos antibióticos inibiam a formação da memória quando administrados durante a aprendizagem mostrou que a formação da memória de longo prazo exige processos biológicos como a síntese de proteínas. Isto atraiu bastante atenção entre os neurobiólogos, e hoje está claro, a partir de um grande número de estudos feitos com diferentes espécies, de invertebrados a mamíferos, que um pré-requisito fundamental para a formação da memória de longo prazo é a expressão de genes durante e imediatamente após a aprendizagem. Este período crítico coincide com a fase de consolidação da memória, o período inicial necessário para transformar as informações recebidas em modificações estáveis e armazenáveis. Mesmo se a expressão genética for bloqueada após o término desse período crítico, a memória se forma normalmente. Nos últimos dez anos, os neurobiólogos moleculares se concentraram na identificação e caracterização dos genes e eventos moleculares necessários para a formação da memória de longo prazo. Estudos iniciados em dois sistemas de invertebrados, Aplysia californica e Drosophila melanogaster, revelaram muito sobre a base biológica da aprendizagem e da memória.
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Switching Memories ON and OFF
Mauro Costa-Mattioli 2008
Department of Neuroscience, Baylor College of Medicine
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Agora, um artigo ainda mais recente que invoca a participação de outras estruturas neurais.

Formation of Long-Term Memory Representation in Human Temporal Cortex Related to Pictorial Paired Associates
Ken-ichiro Yamashita et al.
Depart. of Physiology and Radiology, The University of Tokyo School of Medicine
The Journal of Neuroscience, August 19, 2009, 29(33):10335-10340

Abstract.It is widely held that long-term memory gradually develops in the temporal neocortex after initial memory encoding into the hippocampus. However, little is known as to whether and where long-term memory can be newly created in the human temporal neocortex. In this functional magnetic resonance imaging study, we detected brain activity in the temporal neocortex that was developed 8 weeks after study of unfamiliar pictorial paired associates. Two sets of paired Fourier figures were studied, one 8 weeks before test and the other immediately before test, keeping the correct performance during the tests balanced across the two sets of stimuli. Significant signal increase was observed in the right hippocampus during retrieval of newly studied pairs relative to initially studied pairs. In contrast, significant signal increase was observed in the anterior temporal cortex during retrieval of initially studied pairs relative to newly studied pairs. The greater activity during retrieval of older memory developed in the temporal neocortex provides direct evidence of formation of temporal neocortical representation for stable long-term memory.