Esse artigo não tem nada de mais, mas dá pro gasto, ajuda a consolidar conhecimentos. Quem não conhecia, fica conhecendo o trabalho de Evelina Fedorenko e Nancy Kanwisher, além do estudo de Aaron Newman. Vou traduzir os três primeiros parágrafos, e se o leitor ficar interessado é só ir beber na fonte.
The Cerebral Linguistic Toolbox That Blows The Mind
May 28, 2010 by Robert Deyes
"Dependendo do tipo de gramática utilizado na formação de uma dada sentença, o cérebro irá ativar um certo conjunto de regiões para processá-la, como um carpinteiro procura numa caixa de ferramentas um grupo de ferramentas para realizar os diversos componentes básicos que formam uma tarefa complexa" (1). Esta foi a descrição oferecida por uma revisão sobre por que diversas regiões do cérebro humano são recrutadas para deslindar o significado de sentenças quando nos comunicamos uns com os outros (1). Pesquisas de ponta sobre a função cerebral, utilizando a ASL (linguagem americana de sinais) como plataforma especificaram os detalhes sobre exatamente como o cérebro realiza esse feito instantaneamente (1, 2).
Enquanto forma de comunicação, a linguagem de sinais de muitas maneiras não tem paralelos, porque as mensagens podem ser expressadas de duas maneiras. Em inglês, os 'sinalizadores' podem usar palavras ordenadas para transmitir sua mensagem (por exemplo, John gives his lunch to Mary). Mas eles também podem mover suas mãos de uma maneira que conectem de modo específico conceitos e idéias - o que os linguistas chamam de 'inflexão' (2). Em línguas como o alemão e o francês, as inflexões são facilmente identificáveis como sufixos que podem ser anexados aos finais de palavras para denotar, entre outras coisas, o caso ou o gênero da palavra ou o 'papel' que um sujeito ou objeto de uma sentença desempenha em uma dada interação (John giving lunch to Mary, no exemplo acima) (2). Mas a linguagem de sinais, nota o psicólogo da Rochester University, Aaron Newman, oferece 'uma oportunidade única para contrastar diretamente esses dois meios de marcar papéis gramaticais dentro da mesma linguagem' (2).
Newman empregou a fMRI para se concentrar nas atividades cerebrais espaço-temporais que acompanham tanto a ordem das palavras como a comunicação baseada na inflexão. O que ele revelou foi notável. Existe uma rede de regiões cerebrais, incluindo o córtex prefontal dorsolateral (DLPC), o sulco temporal superior e posterior (STS), o núcelo caudado, o giro temporal médio (MTG), o giro angular (AG) e o giro frontal inferior esquerdo (IFG), ativas (ou operantes. Pedro) durante tanto a interpretação da ordem das palavras como o processamento da inflexão (2). Existem diferenças seriamente significativas na 'ponderação relativa' da ativação dessas regiões, dependendo de qual desses dois métodos de transmissão de mensagem está sendo utilizado (2). O DLPC e o AG do hemisfério direito são mais ativamente dominantes quando sentenças onde importa a ordem de palavras nos são apresentadas. Contrastando com isso, o MTG e o STS posterior estão mais ativos durante o processamento da inflexão (2). A conclusão ampla a que se chegou através dos resultados desse estudo é que 'partes específicas do sistema neurocognitivo recrutadas para o processamento gramatical dependem do tipo de informação que deve ser processado' (2).
1. Aaron Blank (2010) Sign Language Study Shows Multiple Brain Regions Wired for Language, http://www.rochester.edu/news/show.php?id=3610
2. Newman AJ, Supalla T, Hauser P, Newport EL, & Bavelier D (2010). Dissociating neural subsystems for grammar by contrasting word order and inflection. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 107 (16), 7539-44 PMID: http://www.pnas.org/content/107/16/7539.full.pdf+html
3. Evelina Fedorenko, Functional localization in fMRI studies of language, See http://www.mit.edu/evelina9/www/funcloc.html
4. John Eccles (1991) Evolution Of the Brain, Creation Of The Self, Routledge Press, London, p.96