quinta-feira, 10 de junho de 2010

Como a língua reflete o equilíbro entre o bom e o ruim

Artigo encontrado no Research Digest blog, tocado pela (yeah, tá bem...) The British Psychological Society. Segue a tradução do artigo todo.

How language reflects the balance of good and bad in the world 
Friday, 4 June 2010

Writer/Editor Christian Jarrett. Published by the British Psychological Society

Imagine um jardim com lindas flores cheirosas e ervas daninhas. As flores superam em muito as ervas daninhas, mas estas últimas são mais variadas. E há outra assimetria - ao mesmo tempo em que as flores têm um odor agradável, as ervas não apenas não tem cheiro como são venenosas, podem matar. De acordo com um novo estudo, a vida é como esse jardim. Os eventos positivos superam os eventos negativos em número, mas os eventos negativos são mais variados e potentes. Paul Rozin e colegas (ver abaixo) dizem que a língua inglesa reflete este estado de coisas, e também são assim vinte outras línguas

A equipe de Rozin começou analisando um corpus de 100 milhões de palavras faladas e escritas em inglês, e descobriu que as palavras positivas são muito mais usadas do que as negativas - o que seria esperado, já que os eventos positivos são mais comuns (para dar um exemplo, 'bom' é mencionado 795 vezes por milhão de palavras, comparado 153 menções por milhão para 'mau' (ou 'ruim' - bad).

Além disso, os pesquisadores dizem que adotamos diversos hábitos de conveniência que refletem o uso frequente de palavras positivas em nossa língua (por sua vez, refletindo a maior frequência de positividade do mundo). Por exemplo, palavras positivas tendem a ser 'desmarcadas' - isto é, o positivo é o termo default (por exemplo, 'feliz' - happy), ao passo que o termo negativo é obtido acrescentando-se um prefixo negativo (isto é, 'infeliz' - unhappy). Rozin cita mais quatro desses hábitos. Aqui está mis um: quando se fala em pares de coisas boas e ruins ao mesmo tempo, a convenção é quase sempre mencionar a palavra positiva primeiro: como em 'bom e ruim', 'feliz e infeliz', mais do que o inverso.

Direcionando para o lado sombrio, a maior variedade de eventos negativos do mundo também é refletida no uso do inglês. Por exemplo, muitas palavras negativas não têm opostos: 'simpatia' (isto é, não há nenhuma palavra para a simpatia com a boa sorte de outra pessoa), 'assassino' (não há nnhuma palavra para aquele que dá a vida), 'risco', 'acidente', etc. (Nota do CLM - ainda que em inglês as coisas sejam um pouco diferentes, nos comentários do artigo há uma discussão entre os gringos sobre a existência ou não desses opostos; dê uma olhada)

Para verificar se esses padrões estão refletidos em outras línguas, A equipe de Rozin entrevistou falantes de vinte línguas (um falante por língua): mandarim, cantonês, japonês, coreano, vietnamês, tailandês, tagalog, ibo, árabe, turco, tamil, hindi, alemão, islandês, sueco, francês, português (brasileiro), espanhol, russo e polonês.

Em grande escala, os padrões encontrados no inglês também se aplicam nestas outras línguas. Por exemplo, para oito adjetivos de amostragem, incluindo 'agradável' (pleasant), 'sujo' (dirty), 'nojento' (disgusting) e 'puro' (pure), foi uma convenção em 83,9 por cento dos casos através de todas as vinte línguas que a palavra positiva fosse dita em primeiro lugar, quando dita juntamente com seu oposto negativo (negative opposite - sai dessa lama, jacaré...). De modo semelhante, as palavras negativas 'simpatia' (sympathy - Cumé?), 'assassino' (murderer), 'risco' (risk) e 'acidente' (accident) quase sempre não tinham opostos.

"Esperamos que esse estudo chame a atenção de pesquisadores sobre emoção para algumas tendências interessantes e bastante disseminadas no uso da língua", disseram os pesquisadores. "Nós acreditamos que essas tendências são respostas adaptativas a assimetrias do mundo, à medida que ele interage com os organismos".

_________________________________

Biases in use of positive and negative words across twenty natural languages
Paul Rozin; Loren Berman; Edward Royzman 2010
Cognition & Emotion, 24 (3), 536-548

(Parece que o artigo ficará disponível por pouco tempo para download)