quinta-feira, 17 de junho de 2010

Evolução das bases neurais do comportamento

Esse artigo é meio complicado, mas tremendamente bem escrito e organizado. Uma história que começa bem basicamente, digamos, na descoberta e investigação do arco reflexo em uma rã (eletrofisiologia da ação motora) e prossegue estudando o fenômeno em seres humanos para depois, por motivos éticos, voltar aos animais - com os métodos já em estado terminal de progresso incontrolável, tem que ser complicada mesmo. A figura 1 explica direitinho a parte ativa (de ação) do abstract abaixo, comprovando mais uma vez que uma uma imagem vale por mil palavras.

Neural Mechanisms for Interacting with a World Full of Action Choices
Paul Cisek and John F. Kalaska 2010
Annu. Rev. Neurosci. 2010. 33:269–98

Abstract. As bases neurais do comportamento são quase sempre discutidas em termos de estágios perceptivos, cognitivos e motores, definidos dentro de um quadro de processamento de informações que foi inspirado originalmente por modelos de resolução de problemas abstratos por seres humanos. Aqui, nós revisamos um crescente corpo de dados neurofisiológicos que é difícil de ser reconciliado com esta influente perspectiva teórica. Como fundamento alternativo para a interpretação de dados neurais, tomamos estruturas da etologia, que enfatizam os tipos de comportamentos interativo em tempo real que os animais utilizam há milhões de anos. Em particular, discutimos um ponto de vista inspirado etologicamente sobre o comportamento interativo enquanto processos simultâneos que especificam ações motoras potenciais e selecionam entre elas. Revisamos como recentes dados neurofisiológicos de diversas regiões corticais e subcorticais parecem mais compatíveis com esta visão paralela do que com a visão clássica dos estágios seriais de processamento de informações.

Continuando...

O artigo também é mais importante do que parece à primeira vista, e precisa ser lido cuidadosamente. Isto pode ser visto claramente pelo trecho das Conclusões traduzido abaixo.

Pezzulo & Castelfranchi (2009) sugerem que nossa capacidade de pensar sobre o mundo resulta da internalização dos processos de predizer as consequências das ações. Sua hipótese de potencialização (leverage) cognitiva propõe que à medida que o sistema de controle sensóriomotor evoluiu gradualmente, ele começou a predizer consequências cada vez mais abstratas do comportamento. Eventualmente, isto permitiu o ensaio mental de sequências inteiras de atos e a avaliação de seus resultados em potencial, sem que houvesse ação motora evidente. Essa hipótese é consistente com a estreita relação que existe entre as imagens mentais e os sistemas de preparação motora, e pode explicar como um organismo pode ir além da mera reação às propriedades do ambiente imediato e agir de maneira orientada para um objetivo. Concluindo, os sistemas neurais que mediavam o comportamento sonsoriomotor de nossos ancestrais pode ter fornecido os fundamentos das habilidades cognitivas modernas, e investigar sobre isso pode esclarecer os mecanismos neurais básicos do pensamento humano.