quarta-feira, 30 de junho de 2010

Resolvendo problemas no Pleistoceno

Em seu artigo sobre Aprendizagem Implícita, Jonah Lehrer (do grande blog The Frontal Cortex, e já postado aqui) vem discorrendo sobre a propriedade da existência de apenas um coeficiente de QI, e escreve:

Para entender as limitações da inteligência geral (Lehrer está se referindo ao fator 'g', o coeficiente de inteligência geral levantado pelo teste de QI), pelo menos como é definido atualmente, é importante investigar no mínimo um dos grandes temas da psicologia, que é o papel essencial do inconsciente. Freud associava o inconsciente aos impulsos indizíveis do Id, ao passo que nós sabemos que nosso submundo mental é na verdade um notável dispositivo de processamento de informações que nos ajuda a fazer sentido da realidade.

Isto levou ao modelo de processo dual da cognição, no qual a mente está dividida em dois modos gerais. Há o pensamento Tipo 1, que é em grande parte inconsciente, automático, contextual, emocional e rápido; acontece que a maior parte do nosso comportamento toma sua forma através desses pensamentos inarticulados. (pense, por exemplo, o que acontece quando v. freia em um sinal de trânsito amarelo, ou pede um prato do cardápio assim que o lê, ou tem uma 'intuição' sobre como abordar um problema). E temos o pensamento Tipo 2, que é deliberado, explícito, demanda esforço e é intencional. (Imagine um amador jogando xadrez e pensando nas implicações de cada jogada possível). Não é preciso dizer que os testes padronizados de QI se baseiam em grande parte em problemas abstratos e de matemática, e se correlaciona com o desempenho da memória de trabalho.

O resultado final é uma crescente contradição entre como definimos inteligência - trata-se de pensamento explícito e 'g' - e como conceituamos a cognição, que está inextricavelmente ligada aos processos Tipo 1. (Em outras palavras, atualmente nós medimos a inteligência excluindo a maior parte do processamento de informações que está ocorrendo dentro de nossas cabeças).

Além do mais, esta obsessão com a variação individual medida pelo 'g' significa que não tem havido virtualmente nenhuma pesquisa sobre a variação individual quando se trata do output do inconsciente, ou da velocidade/eficiência do pensamento Tipo 1. Nós supomos que o cérebro subterrâneo - este computador primal do Pleistoceno - é virtualmente uniforme e universal, e roda os mesmos programas estúpidos em todas as pessoas. Aqui está um trecho de exemplo de uma recente revisão do pensamento Tipo 1: "As diferenças individuais contínuas (nos processos mentais inconscientes) são poucas. As diferenças individuais que realmente existem refletem em grande parte dano nos módulos cognitivos, o que resulta em um distúrbio cognitivo bastante descontínuo como o autismo, ou as agnosias e alexias". Em outras palavras, a variação que interessa existe no pensamento Tipo 2.

Esta postagem de Lehrer gerou 20 comentários em um só dia (veja ao final do texto original), e eu pensava que ninguém dava importância a essas coisas...