sábado, 12 de junho de 2010

As origens desenvolv. do processamento de voz no cérebro humano

Essa abreviatura (desenvolv.) traduz 'developmental'. Se alguém souber de uma palavra individual que traduza 'developmental' satisfatoriamente, por favor m'a transmita. (Desenvolvimentista, além de igualmente horripilante,tem um forte passado no léxico das ciências sociais e econômicas).

Achei esse artigo interessante porque aborda o fato dos bebês reconhecerem e gostarem do som da voz de suas mães porque se trata de um processamento ancestral que ocorre no cérebro dos primatas. "Reconhecer o som da vocalização de um membro da (sua própria) espécie é uma função cerebral conservada evolutivamente", diz a introdução abaixo. E mais: independe da linguagem. (Leia o artigo completo no link)


The Developmental Origins of Voice Processing in the Human Brain 2010
Tobias Grossmann, Regine Oberecker, Stefan Paul Koch, and Angela D. Friederici
Neuron 65, 852–858, March 25, 2010

Claramente, a voz humana é um dos mais importantes estímulos em nosso meio ambiente auditivo, que não só transmite informações da fala como também nos permite reconhecer indivíduos e seus estados emocionais. Nos adultos humanos, as vozes são processadas em regiões cerebrais especializadas localizadas na parte superior do sulco temporal superior. Recentemente, foi demonstrado que macacos 'macaque' têm uma região similar seletiva de vozes no plano temporal que responde preferencialmente a vocalizações de membros de sua espécie, sugerindo que o reconhecimento do som que é uma vocalização de um membro da espécie é uma função cerebral evolutivamente conservada nos primatas que é independente da linguagem. Estas áreas seletivas de vozes do córtex auditivo, similares às áreas seletivas de rostos do córtex visual, identificadas tanto em humanos adultos como em macacos, são consideradas como ligações do processamento de informações cruciais socialmente relevantes aos sistemas sensoriais.

Em humanos adultos, as regiões temporais sensíveis à voz não só reagem a informações específicas de voz como também são sensíveis à prosódia emocional que é muito importante na comunicação social. Tal modulação do processamento sensorial através de sinais emocionais é particularmente forte para emoções relacionadas a ameaças, ocorre independentemente da atenção e considera-se que seja um mecanismo neural fundamental nas regiões cerebrais sensíveis tanto a vozes quanto a rostos, para priorizar o processamento de estímulos importantes. Ainda que bem descritas com relação ao cérebro adulto, as origens desenvolv. da organização cortical básica do processamento da prosódia emocional no cérebro humano permanecem desconhecidas. Aqui, nós fazemos o registro de dois experimentos com crianças pequenas que preenchem essa lacuna.

Trabalhos comportamentais demonstraram que os recém-nascidos preferem mais vozes humanas do que estímulos auditivos não-sociais similares, e a voz de suas mães mais do que a voz da mãe de outro recém-nascido. Estas preferências pós-natais de escuta estão primariamente relacionadas à sensibilidade da criança às características prosódicas da fala. Esta última descoberta é relevante na medida em que sabe-se que as pistas prosódicas desempenham papel essencial na percepção de emoções comunicadas vocalmente. De fato, recém-nascidos de mães falantes do inglês e do espanhol, face a diversas expressões vocais (feliz, com raiva, triste e neutra), em sua língua nativa e em uma língua não-nativa apresentaram mais reações de aumento da abertura dos olhos depois da exposição a estímulos com uma prosódia feliz do que em comparação com outras emoções, mas apenas quando ouviam a expressão vocal em sua língua materna. Apesar dessa forma precoce de sensibilidade à prosódia feliz em contextos familiares, outros estudos comportamentais demonstram que apenas depois dos cinco meses de idade as crianças discriminam significativamente entre a prosódia feliz, com raiva e triste.