quinta-feira, 3 de junho de 2010

A sintaxe não está na área de Broca

Como sempre, Hickok e Poepppel (em seu blog Talking Brains) vão direto ao assunto em linguagem clara e sem rodeios. Artigo de primeira, que traduzi por inteiro - tirando apenas as referências para economizar espaço.

Greg Hickok is Professor of Cognitive Sciences, and Director of the Center for Cognitive Neuroscience at UC Irvine. David Poeppel, after several years as Professor of Linguistics and Biology at the University of Maryland, College Park, is now Professor of Psychology at NYU.

Thursday, May 27, 2010
Syntax found in the brain -- not in Broca's area

O processamento sintático e a área de Broca têm sido companheiros bem chegados desde que trabalhos da década de 1'970 mostraram que os pacientes com afasia de Broca tinham dificuldade em compreender sentenças sintaticamente complexas. A despeito do fato de que evidências posteriores baseadas em lesões enfraqueceram o relacionamento (por exemplo, os afásicos de Broca são bastante bons em avaliações de gramaticalidade), estudos subsequentes de PET e fMRI prolongaram o casamento ao demonstrarem que a compreensão de sentenças complexas ativa a área de Broca mais do que sentenças simples. Hoje em dia, uma olhada na literatura sobre a área de Broca e o processamento nos diz que ela está cheia de controvérsias, com propostas que vão da região que dá apoio ao processamento sintático (Grodzinsky), montagem de estrutura hierárquica e estrutura de frase (Friederici), 'linearização' (Bornkessel-Schlesewsky), e diversas outras funções de domínio geral como controle cognitivo (Novick), 'unificação' (Hagoort) e memória de trabalho (Caplan; Rogalsky/Hickok).

Enquanto isso, vêm se acumulando evidências de que o lobo temporal anterior pode abrigar uma rede que se comporta muito mais como um sistema de computação sintática, porque parece estar altamente correlacionado com a presença ou ausência de informações sintáticas em uma sentença (Dronkers, et al. 2004; Friederici, et al., 2000; Humphries, et al. 2005,2006; Mazoyer et al., 1993; Rogalsky & Hickok, 2008; Stowe et al., 1998; Vandenberghe, Nobre, & Price, 2002). Um novo estudo na revista Brain and Language entra no assunto utilizando a obra de literatura preferida dos psicolinguistas, Alice in Wonderland. À diferença de muito assentimento de psicolinguistas quanto a Lewis Carroll (também conhecido como Charles Lutwidge Dodgson), o estudo de Jonathan Brennan e colegas não utilizou sentenças Jabberwocky; ao invés, fazia os sujeitos ouvirem o texto de Alice enquanto relaxavam dentro de uma rosquinha magnética gigante. Os autores calcularam palavra por palavra a quantidade de estrutura sntática que estava envolvida na integração de cada palavra (basicamente, uma análise de contagem de nós da árvore sintática). Esses valores foram então correlacionados ao sinal de fMRI.


Então, qual foi a região cerebral correlacionada à estrutura sintática? Você adivinhou: o lobo temporal anterior
.

Alguns artigos que encontrei (Difíceis de achar... Veja a reclamação de Patel)

Temporal lobe regions engaged during normal speech comprehension
Jennifer T. Crinion, Matthew A. Lambon-Ralph, Elizabeth A. Warburton, David Howard and Richard J. S. Wise 2003

The functional organisation of the fronto-temporal language system: Evidence from syntactic and semantic ambiguity
Jennifer M. Rodda, Olivia A. Longe, Billi Randall, Lorraine K. Tyler 2010

Two-year-olds compute syntactic structure on-line
Savita Bernal, Ghislaine Dehaene-Lambertz, Séverine Millotte and
Anne Christophe 2010
(Ainda que esse artigo não seja especificamente sobre o lobo temporal anterior, achei interessante que os leitores aproveitem seu atualizado conteúdo sobre estrutura sintática e seu processamento cerebral em crianças de dois anos)

Advancing the comparative study of linguistic and musical syntactic processing
Aniruddh D. Patel 2010 (Nesse trabalho, Patel queixa-se abertamente da pequena quantidade de estudos: "Notably absent from this list are within-subject fMRI studies aimed at comparing patterns of brain activity associated with syntactic processing in language and music. Such studies would advance our understanding of the brain bases of syntax and provide important tests of the resource-sharing framework for music and language").