sábado, 16 de janeiro de 2010

Robótica, cognição e comportamento


Pierre-Yves Oudeyer escreve um artigo deveras etc. e tal chamado "On the impact of robotics in behavioral and cognitive sciences: from insect navigation to human cognitive development" (IEEE Transactions on Autonomous Mental Development, Dec 2009), onde focaliza "especificamente o impacto potencial da robótica nas ciências comportamentais e cognitivas, e sua conceituação". Tarefa espinhosa, sem dúvida. Oudeyer chama a atenção para o fato de que "muitos artigos referentes a pesquisas descrevem amplamente como a biologia e a psicologia podem inspirar a construção e a programação de robôs. Por outro lado, ainda que no passado tenham existido muitos artigos técnicos específicos apresentando experimentos que modificaram nosso modo de entender o fenômeno comportamental ou cognitivo, temos poucas abordagens sintéticas, concisas e interdisciplinares focalizando especificamente o impacto potencial da robótica nas ciências comportamentais e cognitivas, e em sua conceituação".

(Pierre-Yves Oudeyer trabalha no INRIA Bordeaux Sud-Ouest, France, pierre-yves.oudeyer@inria.fr, http://www.pyoudeyer.com/).

Aqui está a tradução do resumo do artigo:

Abstract - A interação da robótica com as ciências comportamentais e cognitivas sempre foi estreita. Como é frequentemente descrito na literatura, os seres vivos inspiraram a construção de muitos robôs. Entretanto, nesse artigo nós focalizamos o fenômeno inverso: a construção de robôs pode ter importante impacto sobre a maneira como conceituamos o comportamento e a cognição em animais e humanos. Apresento uma série de exemplos paradigmáticos que vão desde a modelagem da navegação dos insetos e a experimentação do papel da morfologia até a locomoção através de controles, o desenvolvimento das representações fundamentais do corpo e da distinção eu/outro, a auto-organização da linguagem nas sociedades robóticas e a utilização de robôs como ferramentas terapêuticas para criançss portadores de distúrbios do desenvolvimento. Através desses exemplos, faço uma revisão do modo como os robôs podem ser usados como modelos operacionais que examinam teorias específicas específicas em confronto com a realidade, ou como podem ser usados como projetos de comprovação conceitual e de funcionamento (proof of concept) ou como ferramentas de exploração conceitual que geram novas hipóteses, ou utilizados como cenários experimentais para revelar propriedades comportamentais particulares de animais ou humanos, podendo até mesmo ser usados como ferramentas terapêuticas. Finalmente, discuto o fato de que, apesar de seu papel na formação de muitas teorias fundamentais das ciências comportamentais e cognitivas, a utilização de robôs está longe de ser aceita como ferramenta padrão, e suas contribuições são quase sempre esquecidas, levando a frequentes redescobertas e atrasando seu progresso cumulativo. Concluo enfatizando a alta prioridade de um trabalho histórico e epistemológico mais extenso".

Os abundantes erros de gramática e de digitação não chegam a comprometer a compreensão do texto: trata-se de um artigo bastante abrangente (e com uma bibliografia boa e atualizada) que nos desperta a vontade de saber mais sobre as conquistas comportamentais e cognitivas da robótica. O site do autor, aqui, merece uma visita. E quando lá estiveres, deleita-te com os artigos Un Robot Curieux, Les robots remontent aux sources du langage e How this dog teaches itself new tricks. O item do site chamado Acquisition and Evolution of Language traz um filminho do Pedro-Ivo interagindo com Aibo, o cãozinho cuja foto ilustra essa postagem. Cooooool!