quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Leitura: genética e meio-ambiente


Aqui está a tradução de um artigo sobre a influência de genética e do meio ambiente no desenvolvimento da leitura em crianças. Foi publicado no site PhysOrg.

Um estudo mostra o importante papel que o meio ambiente tem no desenvolvimento de habilidades de leitura
Study shows key role environment plays in developing reading skills
January 11, 2010 by Jeff Grabmeier

Enquanto a genética tem papel importante nas habilidades iniciais de leitura da criança, um novo estudo com gêmeos é o primeiro a demonstrar que o meio ambiente tem importante papel no desenvolvimento da leitura ao longo do tempo.

"Os resultados evidenciam ainda mais que as crianças podem ter ganhos em leitura durante seus primeiros de escola, acima e além dos importantes fatores genéticos que influenciam diferenças em leitura", diz Stephen Petrill, autor principal do estudo e professor de desenvolvimento humano e ciências da família na Ohio State University.

"Certamente temos que levar a sério as influências genéticas sobre a aprendizagem, mas as crianças que chegam à escola com pouca capacidade de leitura podem avançar bastante com uma pedagoria apropriada", diz Petrill.

"Os achados dão suporte à necessidade de esforços contínuos na promoção do desenvolvimento da leitura em crianças, promoção que lida tanto com as influências genéticas como ambientais". Enquanto outros estudos demonstraram que tanto a genética quanto o ambiente influenciam as habilidades de leitura, este é o primeiro a apresentar seus papéis relativos na lentidão ou rapidez com que as habilidades de leitura da criança melhoram com o tempo.

O estudo aparece online no Journal of Child Psychology and Psychiatry. Os participantes foram 314 gêmeos de Ohio que participaram do Western Reserve Reading Project. O estudo incluiu 135 gêmeos idênticos e 179 gêmeos fraternos do mesmo sexo.

Os gêmeos iniciaram o estudo quando estavam no jardim de infância ou na primeira série, e foram avaliados em suas casas quando se inscreveram, e depois anualmente nos próximos dois anos. A cada visita domiciliar, os gêmeos recebiam uma bateria de 90 minutos de avaliação de leitura. Entre outras coisas, os testes mediam a identificação de palavras e letras, a capacidade de dizer o som das palavras e a velocidade com que as crianças podiam nomear uma série de letras.

Os pesquisadores compararam como os gêmeos se saíram nos testes e então utilizaram uma análise estatística para determinar quanto de seu progresso no desempenho poderia ser explicado pela genética e quanto por fatores ambientais.

Os fatores ambientais incluem tudo que as crianças experimentam - como são cuidadas por seus pais, quantas leituras são feitas para elas, a vizinhança onde moram, nutrição e a pedagogia de suas escolas, entre outros fatores.

Os achados demonstraram que quando as crianças começam a ler, tanto a genética como o meio ambiente desempenham seu papel nas habilidades de leitura, dependendo das habilidades avaliadas. Para identificação de palavra e letra, a genética explicava em torno de um terço dos resultados do teste, enquanto que o meio ambiente era responsável por dois terços. Para vocabulário e consciência fonológica (sound awareness), havia uma divisão igual entre genética e meio ambiente. Em testes de rapidez, a genética era responsável por três quartos.
Mas quando os pesquisadores avaliaram o crescimento em habilidades de leitura, o meio ambiente tornou-se bem mais importante, disse Petrill.

Para as habilidades de leitura que são ensinadas, como palavras e letras, o meio ambiente é quase completamente responsável pelo crescimento. Para a consciência fonológica na leitura, em torno de 80% do crescimento eram explicados pelo meio ambiente. As avaliações de velocidade foram as únicas nas quais a genética ainda desempenhava um importante papel.

"A despeito de quando as crianças iniciaram suas habilidades de leitura, e do impacto que a genética e o meio ambiente tiveram em suas habilidades iniciais, descobrimos que seu meio ambiente teve um impacto na rapidez ou lentidão com que essas habilidades se desenvolveram", disse Petrill. Ele enfatizou que o meio ambiente de uma criança é muito mais do que apenas a instrução que ela recebe na escola. Entretanto, a instrução provavelmente é uma parte chave de como as habilidades de leitura se desenvolvem com o tempo.

Petrill disse que é necessário que se faça muita pesquisa examinando os papéis da genética e do meio ambiente na formação do aprendizado de leitura de uma criança.

"Nós acreditamos que os dois fatores têm um papel na leitura, o que é muito similar ao que os pesquisadores descobrem em questões de saúde como doença cardíaca e obesidade", disse Petrill. "Mas nós sabemos muito mais sobre os impactos relativos da genética e do meio ambiente nos sistemas biológicos que influenciam a doença cardíaca do que sabemos com relação à leitura". Por exemplo, as pessoas podem modificar seu meio ambiente para diminuir o risco de doença cardíaca, qualquer que seja sua suscetibilidade genética à doença", disse ele. Petrill acrescentou que espera podermos fazer o mesmo quanto a ajudarmos as crianças a melhorar sua leitura. "Entender as causas de porque as crianças diferem em habilidades de leitura, e os papéis da genética e do meio ambiente, poderia nos ajudar a entender como ensiná-las melhor", disse ele.

Provided by Ohio State University (news : web)

Outras leituras:

Genetic and environmental influences on prereading skills and early reading and spelling development in the United States, Australia, and Scandinavia
Stefan Samuelsson et al. 2007
Reading and Writing (2007) 20:51–75

Association of the KIAA0319 Dyslexia Susceptibility Gene With Reading Skills in the General Population
Silvia Paracchini, D.Phil. et al. 2008
http://www.dys-add.com/AmJrnlPsychiatryDec2008gene.pdf

Genes, brain, and cognition: A roadmap for the cognitive scientist
Franck Ramus 2006

http://www.elsevier.com/authored_subject_sections/S05/S05_360/pdf/ramus.pdf

Genetic and environmental influences on early literacy
Brian Byrne
et al. 2006
http://psych.colorado.edu/~willcutt/pdfs/Byrne_2006.pdf