quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Excitabilidade cerebral aumenta atividade sexual em ratos machos

Brain arousal heightens sexual activity in male mice
January 27, 2010

(PhysOrg.com) - "Desde o começo dos tempos, os meninos adolescentes têm sido definidos por seus impulsos. Seja ou não um estereótipo, o mesmo destino acomete os ratos machos. Em novas pesquisas, que relembram aqueles momentos embaraçosos do ginasial (segundo grau) e incômodas memórias da puberdade, os cientistas agora mostram que os ratos machos geneticamente selecionados para altos níveis de energia nervosa agem como meninos adolescentes loucos por sexo: altamente motivados, mas desajeitados e ineficientes.
O órgão sexual mais poderoso, dizem, é o cérebro. Agora temos evidências disso. Novas pesquisas da Rockefeller University mostram que um cérebro muito excitado predispõe à atividade sexual em ratos machos e aumenta sua energia nervosa, uma descoberta que não só aponta para a existência de um mecanismo cerebral central que dá origem a todos os comportamentos como também começa a desvendar a força impulsionadora por trás dos estados motivacionais e emocionais.

Donald W. Pfaff, chefe do Laboratory of Neurobiology and Behavior, e seus colegas, incluindo o autor principal, Zachary M. Weil, postdoc do laboratório, estão conduzindo um projeto de criação seletiva de larga escala para produzir ratos que tenham níveis altos ou baixos de excitabilidade generalizada, a força fundamental do sistema nervoso central que dá surgimento a todos os comportamentos dos mamíferos. Em apenas seis gerações, os pesquisadores observaram que os ratos com altos níveis de excitabilidade generalizada ficavam muito estimulados, montavam as fêmeas depressa mas desajeitadamente e terminavam de modo muito rápido.

'Esses ratos machos selecionados para elevada excitabilidade cerebral eram um pouco como meninos adolescentes', diz Pfaff, que liderou a pesquisa. 'Ficavam muito excitados com o sexo oposto, mas não sabiam exatamente o que fazer, e assim se atrapalhavam e montavam a fêmea em todo tipo de posição inapropriada, como pelo lado, o que certamente não funciona. Eles demoram algum tempo para obter uma penetração, uma inserção verdadeira. Mas assim que conseguem sua primeira penetração, ejaculam rapidamente'.

Os pesquisadores separaram depois os ratos de acordo com seus próprios escores de excitação versus os de seus pais, e observaram seu comportamento típico de ansiedade. Em comparação com ratos cujos pais tinham baixos escores em excitação cerebral, aqueles com pais de altos escores aventuravam-se menos frequentemente em espaços iluminados ou abertos, onde poderiam ser apanhados por um predador; também reagiam mais a odores neutros, sugerindo que seu sistema sensorial estava em alto alerta. Entretanto, quando se tratou de testar diferenças entre os ratos que realmente tinham escores maiores ou menores quanto à excitabilidade geral, os pesquisadores não encontraram nada.

Este achado pode explicar como a energia nervosa de machos de altos escores pode levar a iniciativas sexuais bem-sucedidas, ainda que desajeitadas, que no final são vantagens evolutivas. ' A mesma vibração que leva a essa excitabilidade sexual enlouquecida, acredito, também leva à ansiedade', diz Pfaff. 'Em termos evolutivos, um alto nível de excitabilidade geral é provavelmente bastante benéfico'.

Problemas com os controles dos mecanismos de excitabilidade explicam diversas doenças, incluindo depressão e ADHD, explica Pfaff. A depressão, por exemplo, frequentemente se manifesta como uma incapacidade para iniciar comportamentos motivados como levantar da cama ou executar tarefas caseiras simples. Por outro lado, o ADHD pode surgir de mecanismos superativos de excitabilidade, que precisam ser aplacados. 'Esta pesquisa tenta chegar ao fundo do que ativa o comportamento', diz Pfaff. 'Ela tenta desvendar o que nos põe em movimento'."

Mais informações: Proceedings of the National Academy of Sciences online: January 14, 2010, Impact of generalized brain arousal on sexual behavior, Zachary M. Weil, Qiuyu Zhang, Allison Hornung, David Blizard and Donald W. Pfaff
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Tirando a movimentada vida sexual dos ratos de laboratório, esse artigo interessa porque liga depressão ao que os autores chamaram de " excitabilidade generalizada, a força fundamental do sistema nervoso central que dá surgimento a todos os comportamentos dos mamíferos", e diversos artigos vêm sendo publicados sobre a DBS, Deep Brain Stimulation (estimulação profunda do cérebro), um método que vem sendo estudado com algum sucesso para tratar a depressão severa que resiste a medicamentos. O artigo Treating depression by stimulating the pleasure center (Tratando a depressão através de estimulação do centro de prazer) faz os seguintes comentários:

"Mesmo com os melhores tratamentos disponíveis, perto de um terço dos pacientes com depressão podem não obter uma resposta antidepressiva satisfatória. A DBS, uma forma de estimulação cerebral elétrica dirigida, através de eletrodos implantados, está agora passando por cuidadosos testes para determinar se ela poderia ter participação no tratamento de pacientes que não tenham melhorado suficientemente durante formas mais tradicionais de tratamento.

Um dos principais desafios desse trabalho é determinar a melhor região do cérebro a ser estimulada. Alguns pesquisadores estimulam o córtex préfrontal subgenual, uma região cerebral implicada nos estados de ânimo depressivos, enquanto outros estimulam uma região chamada 'ramo anterior da cápsula interna' (anterior limb of the internal capsule), uma via nervosa que atravessa os gânglios basais, uma região cerebral inferior. Médicos que publicaram um novo estudo na Biological Psychiatry agora descrevem achados relacionados à estimulação do nucleus accumbens, uma região cerebral do tamanho de uma noz, associada a recompensa e motivação, que está implicada no processamento de estímulos prazerosos, e algumas vezes chamada de 'centro de prazer' do cérebro. A incapacidade de experimentar prazer é o sintoma chave da depressão, e estudos anteriores mostraram que o funcionamento do nucleus accumbens está prejudicado em indivíduos deprimidos".

Veja também:

Scientists review deep brain stimulation to treat psychiatric diseases
Depression Causes Malfunctions in Brain's Pleasure Center
Depression does 'make your brown eyes blue'
Deep brain stimulation successful for treatment of severely depressive patient
New therapy gives hope for very severe depression

Quanto à validade da DBS, uma publicação da revista Neuroethics (Springer) (solicitando que cientistas/pesquisadores apresentem trabalhos a serem publicados no início de 2011), ao sugerir tópicos e discussões levanta alguns questionamentos interessantes e que precisam ser levados em conta:

Deep brain stimulation is a powerful treatment for motor symptoms in patients suffering from end-stage Parkinson’s disease. On the one hand, many patients who had no medical option left benefit enormously from this technological approach. On the other hand, the great power of brain stimulation also causes side effects, which are sometimes severe. Weighing benefits against risk is common in every medical intervention. What are the specific risks of DBS? How should they be weighed against the benefits? Is there anything new in the ethics of this technological intervention? What can be learned for the ethics of DBS from more familiar brain interventions like pharmacological treatments?

For DBS electrodes are implanted into deep structures of the brain and stimulation has to be functionally integrated into neuronal processes. How is the self-concept of the human being as an embodied being influenced by the incorporation of technological devices into brain processes? Does chronic stimulation of the brain affect autonomous decision-making? What would be the consequences of acting under brain stimulation for holding someone responsible for his/her action?

Although the exact mechanisms of how DBS works are not known, the great successes in treating motor impairments encourage expanding DBS application to other diseases. Research on DBS in psychiatric disorders including major depression and obsessive compulsive disorder are well under way. Even Alzheimer’s, obesity, minimal conscious state and alcoholism are under discussion as a target for DBS application. Further research directions are expected. How should one address ethical requirements for the clinical research trials?