(à esquerda, Grzybowski)
O que uma gota de óleo nos diz sobre inteligência ao resolver um labirinto
New Scientist 2744 21 January 2010 by Colin Barras
Tingida em cor-de-rosa e narcotizada com ácido, uma pequena e inanimada gota de óleo é depositada na entrada de um labirinto - e imediatamente parte na direção da saída. Alguns minutos depois, emerge lá na outra ponta.
Ninguém equacionaria esta solução de problema aparentemente incrível com inteligência. Mas novas teorias sobre a inteligência humana e o cérebro sugerem que os processos moleculares simples que comandam o comportamento aparentemente inteligente da gota de óleo pode ser fundamentalmente similar ao que comanda como agimos.
Há uma década, Toshiyuki Nakagaki, hoje na Hokkaido University, em Sapporo, Japão, registrou que o micetozoário Physarum polycephalum podia lidar com um labirinto para alcançar alimento no final. Ousadamente, sua equipe escreveu na revista Nature: "Isso implica que materiais celulares podem apresentar uma inteligência primitiva".
Agora, Bartosz Grzybowski, um químico da Northwestern University em Evanston, Illinois, demonstrou que uma simples gota de óleo flutuando em uma solução aquosa também pode navegar por um labirinto complexo - nesse caso, para alcançar um torrão de gel encharcado de ácido perto da saída.
A gota se move porque o gel lança um gradiente de pH no labirinto. O ácido modifica a tensão superficial da gota de óleo, mas por causa do gradiente de pH ele afeta lados opostos da gota desigualmente. A tensão superficial é um pouco mais ácida na "frente" da gota do que atrás. Essa diferença é o que, em última análise, é responsável pelo movimento da gota na direção da saída do labirinto (Journal of the American Chemical Society, DOI: 10.1021/ja9076793).
Nakagaki não tem vontade de estender a noção de inteligência até uma gota de óleo. "Para mim, não faz sentido pensar em inteligência com relação a seres não vivos", diz ele. Mas Andy Clark, filósofo da University of Edinburgh, UK, sugere que isso não faz justiça à montagem de Grzybowski. A maior parte da biologia acaba se resumindo em química, mostra Clark. "O simples fato de que se trata de uma coisa física fazendo o que faz não pode se virar contra as gotinhas", diz ele. "Seja o que for a inteligência, não pode ser apenas inteligência até o cerne. No fundo, no fundo, só existe matéria".
Então, porque a gota sem discernimento parece estar se movendo de maneira inteligente? A resposta está à toda nossa volta, diz Clark. O ambiente aquoso que cerca a gota está estruturado em um grau tão alto pelo gradiente de pH que que faz a gota ignorante parecer inteligente. (...)
A conclusão é que a gota "burra" está simplesmente obedecendo princípios fundamentais. Mas como está utilizando informações altamente ordenadas do ambiente ao longo do caminho, ela se move de "maneira aparentemente proposital", diz Friston. Nada disso, é claro, justifica que se chame a gota de Grzybowski de "inteligente". Mas realmente sugere que ao sublinhar a importância do meio ambiente, seu experimento com o labirinto pode ter encontrado uma conexão fundamental entre todos os comportamentos aparentemente inteligentes de todos os níveis: a capacidade de apreender e reagir a indícios ambientais.
Leia quem é Friston, e também as partes que não traduzi, e tire suas conclusões. Achei tudo meio forçado, mas faltam ainda muitos dados e experimentos sobre o assunto.
Na Soft Matter, 2009, 5, 1110–1128 (um journal da Royal Society of Chemistry), Grzybowski e colegas têm um artigo sobre dispositivos que fazem automontagem, e dizem que, "Nas ciências moleculares, a SA (self-assembly - automontagem) fornece a base para a cristalização de moléculas orgânicas e inorgânicas e está no cerne da química supramolecular, onde as 'instruções' de montagem para entidades maiores estão 'codificadas' nos motivos estruturais das moléculas individuais".
Não sei porque, mas isso tudo lembra a infame "memória da água" de Jacques Benveniste, um caso ocorrrido em outro contexto, e que foi analisado direitinho aqui.
New Scientist 2744 21 January 2010 by Colin Barras
Tingida em cor-de-rosa e narcotizada com ácido, uma pequena e inanimada gota de óleo é depositada na entrada de um labirinto - e imediatamente parte na direção da saída. Alguns minutos depois, emerge lá na outra ponta.
Ninguém equacionaria esta solução de problema aparentemente incrível com inteligência. Mas novas teorias sobre a inteligência humana e o cérebro sugerem que os processos moleculares simples que comandam o comportamento aparentemente inteligente da gota de óleo pode ser fundamentalmente similar ao que comanda como agimos.
Há uma década, Toshiyuki Nakagaki, hoje na Hokkaido University, em Sapporo, Japão, registrou que o micetozoário Physarum polycephalum podia lidar com um labirinto para alcançar alimento no final. Ousadamente, sua equipe escreveu na revista Nature: "Isso implica que materiais celulares podem apresentar uma inteligência primitiva".
Agora, Bartosz Grzybowski, um químico da Northwestern University em Evanston, Illinois, demonstrou que uma simples gota de óleo flutuando em uma solução aquosa também pode navegar por um labirinto complexo - nesse caso, para alcançar um torrão de gel encharcado de ácido perto da saída.
A gota se move porque o gel lança um gradiente de pH no labirinto. O ácido modifica a tensão superficial da gota de óleo, mas por causa do gradiente de pH ele afeta lados opostos da gota desigualmente. A tensão superficial é um pouco mais ácida na "frente" da gota do que atrás. Essa diferença é o que, em última análise, é responsável pelo movimento da gota na direção da saída do labirinto (Journal of the American Chemical Society, DOI: 10.1021/ja9076793).
Nakagaki não tem vontade de estender a noção de inteligência até uma gota de óleo. "Para mim, não faz sentido pensar em inteligência com relação a seres não vivos", diz ele. Mas Andy Clark, filósofo da University of Edinburgh, UK, sugere que isso não faz justiça à montagem de Grzybowski. A maior parte da biologia acaba se resumindo em química, mostra Clark. "O simples fato de que se trata de uma coisa física fazendo o que faz não pode se virar contra as gotinhas", diz ele. "Seja o que for a inteligência, não pode ser apenas inteligência até o cerne. No fundo, no fundo, só existe matéria".
Então, porque a gota sem discernimento parece estar se movendo de maneira inteligente? A resposta está à toda nossa volta, diz Clark. O ambiente aquoso que cerca a gota está estruturado em um grau tão alto pelo gradiente de pH que que faz a gota ignorante parecer inteligente. (...)
A conclusão é que a gota "burra" está simplesmente obedecendo princípios fundamentais. Mas como está utilizando informações altamente ordenadas do ambiente ao longo do caminho, ela se move de "maneira aparentemente proposital", diz Friston. Nada disso, é claro, justifica que se chame a gota de Grzybowski de "inteligente". Mas realmente sugere que ao sublinhar a importância do meio ambiente, seu experimento com o labirinto pode ter encontrado uma conexão fundamental entre todos os comportamentos aparentemente inteligentes de todos os níveis: a capacidade de apreender e reagir a indícios ambientais.
Leia quem é Friston, e também as partes que não traduzi, e tire suas conclusões. Achei tudo meio forçado, mas faltam ainda muitos dados e experimentos sobre o assunto.
Na Soft Matter, 2009, 5, 1110–1128 (um journal da Royal Society of Chemistry), Grzybowski e colegas têm um artigo sobre dispositivos que fazem automontagem, e dizem que, "Nas ciências moleculares, a SA (self-assembly - automontagem) fornece a base para a cristalização de moléculas orgânicas e inorgânicas e está no cerne da química supramolecular, onde as 'instruções' de montagem para entidades maiores estão 'codificadas' nos motivos estruturais das moléculas individuais".
Não sei porque, mas isso tudo lembra a infame "memória da água" de Jacques Benveniste, um caso ocorrrido em outro contexto, e que foi analisado direitinho aqui.
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(Agora me lembrei: tem um sujeito que joga sinuca comigo aqui na esquina, que quando morrer e virar esqueleto sua caveira vai ficar igualzinha à que está na capa do livro da postagem de 20 de novembro)