Excelente artigo no New Scientist: Disorderly genius: How chaos drives the brain (29 June 2009, by David Robson), isto é, O Gênio bagunceiro: Como o caos comanda o cérebro. Robson nos dá um texto cristalino, fluido, bem exemplificado (e linkado) e apoiado em fontes seguras e pertinentes. É apenas um artigo de revista, mas fiquei pensando: esse tipo de conhecimento, se acompanhado de progressos semelhantes em áreas afins como neuroquímica, farmacologia e outras, pode significar o início da eliminação de boa parte dos muitos distúrbios psicológicos e/ou psiquiátricos e/ou neurológicos que nos afligem. Surge a pergunta: Quantas pessoas, e durante quanto tempo, ainda vão comer fezes, tomar ‘sosega-leão’ e eletrochoques – sem mencionar o sofrimento do estigma social – antes que o Capital e o Estado (desculpe a sinédoque, mas nomear todos os personagens demandaria um livro) tomem providências concretas? Isso vale também para os pacientes de medicamentos antidepressivos, ansiolíticos, antipsicóticos, hipnóticos e sedativos em geral, além de rezas, simpatias e passes mediúnicos. Agora leia trechos do início do artigo:
“Você já teve aquela experiência bizarra de sentir um pensamento surgindo em sua cabeça como se viesse do nada, sem pistas da razão de ter tido aquela idéia particular naquele momento particular? Você pode achar que esses pensamentos fugidios, por mais que pareçam aleatórios, devem ser produtos de processos racionais e predizíveis. Afinal, o cérebro não pode ser aleatório, não é? Não é certo que ele processa informações utilizando operações lógicas e ordenadas, como um poderoso computador?
Realmente, não. Na verdade, seu cérebro opera à beira do caos. Apesar de funcionar de modo ordenado e estável durante a maior parte do tempo, de vez em quando ele subita e imprevisivelmente apresenta espamos em uma névoa de ruído.
Os neurocientistas já suspeitavam disso há tempos. Entretanto, só recentemente apresentaram uma comprovação de que o cérebro funciona dessa maneira. Agora estão tentando saber porque. Alguns acreditam que os estados próximos do caos podem ser cruciais para a memória, e poderiam explicar porque algumas pessoas são mais espertas do que outras.
Em termos técnicos, diz-se que os sistemas à beira do caos estão em um ‘estado crítico auto-organizado’. Estes estados estão bem na fronteira entre o comportamento ordenado e estável – como o de um pêndulo em movimento – e o mundo imprevisível do caos, exemplificado pela turbulência. (...)
Estes são sistemas puramente físicos, mas o cérebro tem muito em comum com eles. Redes de neurônios alternam-se entre períodos de calma e períodos de instabilidade – ‘avalanches’ de atividade elétrica que cascateiam através dos neurônios. Como em avalanches reais, saber como essas cascatas ocorrem e qual o estado resultante do cérebro são coisas imprevisíveis.
Pode parecer precário ter um cérebro que mergulha aleatoriamente em estados de instabilidade, mas na verdade a desordem é essencial para a capacidade do cérebro de transmitir informações e resolver problemas. ‘Estar no ponto crítico permite que o cérebro se adapte rapidamente a novas circunstâncias’, diz Andreas Meyer-Lindenberg, do Central Institute of Mental Health de Mannheim, Alemanha”.