Diz Evans no capítulo 1: “Este livro trata principalmente de abordar o que chamarei de problema metafísico do tempo. Isto pode ser dito da seguinte maneira: se temos consciência do tempo, mas não se pode dizer que verdadeiramente o percebemos na ausência, por exemplo, do ‘preciso tique-taque dos relógios’, que serve para medir seu ‘silêncio’, qual é a natureza e o status do tempo? Será o tempo uma primitiva, um atributo do cosmos físico, como sugere a física moderna, ou ele é dependente das relações entre eventos tais como nossas experiências de eventos temporais, e portanto não primariamente um atributo do mundo, mas uma consequência dele, uma abstração derivada de uma comparação de eventos, como sugerem, por exemplo, Lakoff e Johnson (1999) e o psicólogo James Gibson (1975, 1986)? Ou o tempo não é um atributo físico do mundo nem uma relação entre eventos externos, mas algo interno da natureza? Isto é, nossa consciência do tempo é primariamente fenomenológica, derivando de processos cognitivos internos e outros processos perceptivos, como sugerido por fenomenólogos como Husserl ([1887] 1999) e Bergson ([1922] 1999)?
Há uma segunda tensão aparente na citação que inicia este capítulo. Ainda que o tempo pareça ser fundamental para nossa compreensão de outros eventos (incluindo o movimento), normalmente pensamos e falamos sobre o movimento não nos próprios termos do tempo, sejam estes quais forem, mas sim precisamente naqueles termos que derivam dos eventos – de acordo com a física moderna, estruturas temporais – afinal, falamos sobre a ‘passagem’ ou o ‘fluxo’ do tempo e sobre estar ‘localizado’ no tempo. Ao fazer isso nós espacializamos o tempo. Isto representa o problema linguístico do tempo: por que usamos uma linguagem pertinente ao movimento através do espaço tridimensional e a locais do espaço tridimensional para pensarmos e falarmos sobre o tempo? Existe algo literalmente temporal para além da linguagem de movimento e espaço que empregamos para descrevê-lo?
O objetivo final desse livro é estabelecer a natureza e a estrutura do tempo; em essência, resolver o problema metafísico. Uma importante maneira através da qual abordarei as dificuldades metafísicas associadas ao tempo será seguir o problema linguístico. Neste livro, vou sugerir que a maneira pela qual qual são elaborados os conceitos temporais, quer dizer, estruturados através do conteúdo conceitual de outros domínios (isto é, não-temporais), nos dá importantes idéias sobre a natureza e a estrutura do tempo. Vou argumentar que esta elaboração pode ser efetivamente estudada através de um exame do problema linguístico. Como a linguagem reflete a estrutura conceitual de importantes maneiras, da mesma forma ela representa um importante ponto de observação do sistema conceitual humano. Examinando a maneira como a linguagem lexicaliza o tempo, teremos importantes momentos de compreensão sobre a conceitualização do tempo e sobre a natureza e organização do tempo.
Entretanto, como veremos, a maneira como modelamos o tempo em nível conceitual não conta toda a história, se desejamos desvelar a natureza e a estrutura do tempo. A experiência fenomenológica e a natureza do mundo sensorial externo ao qual a experiência subjetiva constitui uma resposta, dão surgimento à nossa experiência pré-conceitual do tempo, e assim contribuem para nossa conceituação do tempo de maneira importante, complexa e sutil. Como veremos, uma metafísica do tempo não pode ser apenas física, ou cognitiva, ou fenomenológica. O tempo não é um fenômeno unitário restrito a uma camada particular da experiência. Antes, ele constitui uma complexa sequência de fenômenos e processos que se relacionam a diferentes níveis e tipos de experiências. Uma visão equilibrada é aquela que considera seriamente esta complexidade e adota uma abordagem apropriadamente responsável para o estudo da cognição temporal”.
Quanto à abordagem fenomenológica do problema, um dos pontos centrais do livro, vale a pena ler as seções 19-22 de The Basic Problems of Phenomenology, de Martin Heidegger. São elas: Time and Temporality, temporality (Zeitlichkeit) and Temporality (Temporalität), Temporality (Temporalität) and Being, e Being and beings. The ontological difference. O livro pode ser baixado aqui . Nossa concepção do tempo também é construída/explorada artisticamente (ver Burnt Norton, de T. S. Eliot, abaixo), e cientificamente (por exemplo, Uma Breve História do Tempo, de Stephen Hawking – ver abaixo).
BURNT NORTON
(No. 1 of 'Four Quartets')
T.S. Eliot
I
Time present and time past
Are both perhaps present in time future,
And time future contained in time past.
If all time is eternally present
All time is unredeemable.
What might have been is an abstraction
Remaining a perpetual possibility
Only in a world of speculation.
What might have been and what has been
Point to one end, which is always present.
(...)
Time past and time future
Allow but a little consciousness.
To be conscious is not to be in time
But only in time can the moment in the rose-garden,
The moment in the arbour where the rain beat,
The moment in the draughty church at smokefall
Be remembered; involved with past and future.
Only through time time is conquered. (etc.)
Stephen Hawking
A Brief History of Time : From the Big Bang to Black Holes
1988 208 Pages PDF 1.5 MB
http://depositfiles.com/files/4ragsxhnw
No indefectível textículo da editoria, a seguir, tem-se uma boa panorâmica do livro: “Um dos aspectos mais enigmáticos da experiência refere-se ao tempo. Desde a época dos pré-socráticos, os estudiosos vêm especulando sobre a natureza do tempo, fazendo perguntas como: O que é o tempo? De onde ele vem? Para onde ele vai? A proposta central da Estrutura do Tempo é que o tempo, basicamente, constitui uma experiência fenomenológica real. Valendo-se de achados em psicologia e neurociência, e utilizando a perspectiva da linguística cognitiva, essa obra argumenta que nossa experiência do tempo pode derivar-se em última análise dos processos perceptivos, que por sua vez nos permitem perceber eventos. Enquanto tal, a experiência temporal é um pré-requisito para capacidades tais como percepção de evento e comparação deles, mais do que uma abstração baseada em tais fenômenos. O livro representa um exame da natureza da cognição temporal, com dois focos: (1) uma investigação da experiência temporal (pré-conceitual), e (2) uma análise da estrutura temporal em nível conceitual (que deriva da experiência temporal)”. Mas acrescento: a capa do livro é coisa do demo, horripilante.
The Structure of Time: Language, Meaning And Temporal Cognition
Vyvyan Evans
Publisher: John Benjamins 2006 PDF 286 pages 2,1 mb
http://uploading.com/files/X21ISL6J/evans%2014.rar.html OU http://depositfiles.com/files/39v5vaiy7