quarta-feira, 29 de julho de 2009

A consciência segundo Edelman


Gerald M. Edelman, logo no princípio desse livro, faz sua opção pelo materialismo: “Antes de fazer isso, será útil para esclarecer o assunto se primeiro estabelecermos que a consciência é completamente dependente do cérebro. Os gregos e outros acreditavam que a consciência residia no coração, uma idéia que sobrevive em muitas de nossas metáforas comuns. Hoje, existe grande quantidade de evidências empíricas para sustentar a idéia de que a consciência emerge da organização e do funcionamento do cérebro. Quando a função cerebral é restringida – na anestesia profunda, depois de certas formas de trauma cerebral, depois de AVEs e em certas fases limitadas do sono – a consciência não está presente. Não existe retorno das funções do corpo e do cérebro após a morte, e a experiência post-mortem é simplesmente impossível. Mesmo durante a vida não há evidência científica de um espírito flutuante ou de consciência externa ao corpo: a consciência é incorporada. A questão se torna, então: Que características do corpo e do cérebro são necessárias e suficientes para que a consciência surja? Podemos responder melhor a esta pergunta especificando como as propriedades da experiência consciente podem emergir a partir de propriedades do cérebro”.

Edelman, ainda nesse início, evoca o testemunho de William James (de seu ensaio ‘A consciência existe?’) para estabelecer uma importante característica da consciência: ela não é uma coisa, é um processo. Esta abordagem evita uma via ‘frenológica’ no estudo da consciência (“As evidências, como veremos, revelam que o processo da consciência é uma realização dinâmica das atividades distribuídas de populações de neurônios em muitas áreas diferentes do cérebro”), além de apontar para a relação noese-noema entre sujeito e objeto (introduzindo a necessidade da noção fenomenológica de intencionalidade) e acenar para uma possível metodologia dialética que parece ser a indicada para lidar com o ‘presente rememorado’ (remembered present, sobre o qual escreveu The Remembered Present: A Biological Theory of Consciousness, de 1989), que é como ele chama a tomada de consciência da vida perceptiva pelos humanos (“A consciência parece mudar constantemente, e ainda assim ser, a cada momento, inteira – o que chamei de ‘presente rememorado’ – refletindo o fato de que toda a minha experiência passada toma parte na formação de minha percepção integrada desse único momento”. p. 8). Uma retotalização sartriana (da Crítica da Razão Dialética) a cada intervalo entre essas percepções integradas sucessivas mas não estanques.

Edelman é médico, pesquisador, professor (e completou 70 anos no dia 1 de julho). Seu CV tem mais de uma página (em espaço simples) só de honrarias e prêmios, inclusive o Nobel de Medicina e Fisiologia em 1972. Só de ler v. já fica meio cansado: imagina ter feito tudo aquilo. Sua obra escrita (essa lista não inclui o livro Second Nature, de 2006, e outras coisas mais atuais) também é esfalfante. Esse sujeito não pára nunca?

Um trechinho das notas da editoria complementa a apresentação dessa obra:

“Conciso e inteligível, esse livro explica achados pertinentes da moderna neurociência e descreve como a consciência surge em cérebros complexos. Edelman explora a relação da consciência com causação, evolução, com o desenvolvimento do eu, e com as origens dos sentimentos, da aprendizagem e da memória. Sua análise das atividades cerebrais que são fundamento da consciência se baseia em recentes e notáveis progressos em bioquímica, imunologia, tomografia médica, neurociência e biologia evolutiva, mas as implicações desse livro vão bem além dos mundos da ciência e da medicina, em direção a virtualmente todas as áreas da investigação humana”.

Gerald M. Edelman
Wider than the Sky: The Phenomenal Gift of Consciousness

Yale University Press 2004 224 pages PDF 1,2MB
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