Stuart Kauffman (Departments of Biosciences and Physics and Astronomy, The University of Calgary ; Signal Processing, Tampere University of Technology, External Professor, The Santa Fe Institute) é mais um físico inquieto por causa dos problemas apresentados pela existência da consciência humana. Mas para ele, um físico de quatro costados, tudo já está no papo:
“Proponho estabelecer cada um desses problemas (veja os seis problemas no abstract/resumo. CL&M), e então trabalhar neles com duas hipóteses físicas: na primeira, a mente é um sistema quântico coerente reversível, decoerente e recoerente, do cérebro. Assim, seguindo R. Penrose (8), acredito que a consciência é um problema, pelo menos em parte, da base física que a envolve”.
Kauffman, ao apresentar sua segunda hipótese, filosofa, matematiza e faz ciência, tudo isso em andamento relâmpago e escorado nas autoridades máximas de cada etapa, mas tropeçando ao final na procura por uma razão darwiniana para tudo isso. É assim:
“A segunda hipótese física é cientifica e filosoficamente radical. O famoso princípio de Turing-Church-Deutsch, TCD (9), afirma que qualquer máquina pode ser simulada até uma precisão arbitrária em uma máquina universal Turing. Esta tese está profundamente relacionada ao reducionismo e à antiga crença, desde Descartes, Newton, Einstein, Schrödinger e Weinberg (10), de que há uma 'Teoria Final de Tudo’ na base da física que explica tudo o que se desenrola no universo através da implicação lógica. Como veremos, esta visão deriva da análise aristotélica da explicação científica enquanto dedução: Todos os homens são mortais, Sócrates é um homem, logo, Sócrates é um mortal. Como aponta corretamente Robert Rosen (11), com Newton nós eliminamos todas as quatro causas de Aristóteles, a formal, a final, a material e a eficiente, retendo apenas a causa eficiente na ciência e matematizando-a como dedução. Assim, as equações de Newton, em forma diferencial, com condições iniciais e de limite, são ‘resolvidas' para o comportamento do sistema através da integração, que é precisamente a dedução. Esta identidade da causa eficiente com a dedução leva diretamente à visão reducionista mantida por Weinberg e outros. Não podem haver quaisquer eventos não-implicados, de modo que a emergência está apenas errada e deve haver uma teoria final ‘lá embaixo’, da qual tudo se deriva por implicação. Como diz Weinberg (10), as setas explanatórias apontam todas para baixo, das sociedades para as pessoas, para os órgãos, para as células, para a bioquímica, para a química, para a física, e em última análise para a física de partículas e a Relatividade Geral, ou talvez a Teoria das Cordas (12). Turing-Church-Deutsch defendem precisamente a mesma visão – são algoritmos todo o caminho de descida, e então é implicação todo o caminho de subida. Nesta visão, o universo é uma máquina formalizável, e nós que vivemos nele somos máquinas TCD. Nós, então, roboticamente, podemos utilizar os inputs de nossos sensores e calcular tudo o que precisamos para florescer, máquinas boiando em um universo de máquinas. Mas então, infelizmente, não existe nenhuma vantagem seletiva na experiência consciente. Por que, então, ela é fruto da evolução?”
Um artigo muito interessante.
Physics and Five Problems in the Philosophy of Mind
Stuart Kauffman
History of Physics (physics.hist-ph)
arXiv:0907.2494 [ps, pdf, other]