terça-feira, 28 de julho de 2009

Mentes e Computadores

Esse livro de Matt Carter começa chatérrimo e sem graça: “Este é um livro sobre mentes. Também é sobre computadores. Principalmente, nos interessaremos em examinar a relação entre mentes e computadores”. Bem, a culpa é dos editores: qual deles, em plena posse de suas faculdades mentais, deixaria passar ileso esse primeiro parágrafo? Já no clima: será que foi avaliado por uma máquina? Nada como um leitor inquieto para ajudar a ressuscitar um livro: vamos aos capítulos, ao desenvolvimento da coisa toda.

Prossegue o livro: “Na ficção mais moderna, a idéia de uma mente mecânica deu lugar à noção, hoje lugar-comum, de uma inteligência artificial computacional. A possibilidade de realmente desenvolver a inteligência, entretanto, não é apenas questão de uma tecnologia suficientemente avançada. É fundamentalmente uma questão filosófica.

É principalmente desta questão que trataremos por todo o livro. Para que possamos ter uma posição bem informada para considerarmos a possibilidade da inteligência artificial, precisaremos responder a diversas questões relacionadas.

Em primeiro lugar, estaremos indagando o que é a mente humana. O século 20 testemunhou uma sucessão de teorias filosóficas da mente, culminando com a teoria atualmente dominante, que acomoda a possibilidade da inteligência artificial. Nossa primeira meta, que passaremos os dez primeiros capítulos investigando, é articular claramente essa teoria. (...)

Vamos focalizar duas habilidades mentais que são distintamente humanas – nossa capacidade de raciocínio e nossa facilidade para a linguagem. Nossa primeira meta nos capítulos 11 a 20 será comparar o que conhecemos sobre as habilidades racionais e linguísticas humanas com métodos para implementá-las computacionalmente. (...)

Dito isso, estaremos examinando materiais de filosofia, psicologia, linguística, neurociência e ciências da computação – as disciplinas que constituem a ciência cognitiva”.

O estilo geral do livro está bem exemplificado na seção sobre consciência:

“É um fato incontornável – mas talvez não irredutível – da mentalidade humana que temos consciência. A palavra ‘consciência’, entretanto, é usada de muitas maneiras. Algumas vezes é usada para se referir à percepção do nosso eu e à distinção entre o nosso eu e o resto do mundo – nossa auto-consciência. Algumas vezes é usada apenas para distinguir entre nossos estados de alerta e de sono – ou inconscientes.

Em certas religiões, ter consciência significa ser provido de alma. Na teoria psicanalítica, a mente consciente é comumente diferenciada da mente subconsciente, e ambas estão tipicamente sempre sob diversos tipos de tensão que só a psicanálise pode resolver. Mais filosoficamente, estar consciente envolve ter a capacidade de experiência subjetiva, e de ter as qualidades privilegiadas associadas, de primeira-pessoa, da experiência – as qualia”.

Muito didático, como se pode ver, e o leitor que precisar de um guia para uma excursão através do território das ciências cognitivas estará com ele nas mãos.

Minds and Computers: An Introduction to the Philosophy of Artificial Intelligence
Matt Carter
Edinburgh University Press 2007 PDF 240 pages 1.05 MB
http://depositfiles.com/files/fbg2xo7zd