terça-feira, 21 de julho de 2009

Não é assim que a mente funciona


Com o subtítulo A extensão e os limites da psicologia computacional, neste livro Jerry Fodor exerce sua especialidade: jogar água fria no entusiasmo (segundo ele) indevido de autores diversos. A “vítima” principal, nesse caso, é Steven Pinker e seu livro How the Mind Works - Como a Mente Funciona (respingando em Evolution in Mind, de Henry Plotkin). Na Introdução, Fodor descreve sua primeira paisagem:

“Finalmente, eu estava, e continuo, perplexo com uma atitude de otimismo efervescente que é particularmente característica do livro de Pinker. Como afirmei, eu achava que os últimos 40 ou 50 anos tinham demonstrado bem claramente que existem aspectos dos processos mentais superiores dos quais o armamento atual dos modelos, teorias e técnicas experimentais computacionais oferecem diminutos vislumbres. E achei que isso era conhecido por todos dessa área. À vista disso, como é que alguém consegue ser tão incansavelmente otimista?”

Entendo que as razões de Fodor sejam epistemológicas, isto é, muitas teorias sobre a mente brotam pelos motivos certos mas seus autores acabam tirando conclusões apressadas, muitas vezes valendo-se de botas de sete léguas. Por exemplo, no capítulo 5 ele cita um dos postulados na Nova Síntese (ver mais abaixo): “A evolução cognitiva é uma evolução adaptativa”, e comenta logo a seguir:

“Minha linha de raciocínio será de que nenhum dos argumentos adaptacionistas da Nova Síntese sobre a cognição é remotamente convincente. Por outros lado, acho que existem razões pelas quais o adaptacionismo deva ser verdadeiro quanto a uma arquitetura cognitiva, na medida em que esta seja (maciçamente ou de outro modo) modular. Assim como a computação Clássica precisa da modularidade, a modularidade precisa do adaptacionismo. Em minha opinião, os três juntos constituem uma descrição não totalmente implausível de alguns aspectos da cognição. Como o leitor certamente terá notado, é com a parte da cognição que não funciona desse modo é que estou preocupado, e as indicações são de que esta é uma parte bastante grande, e que a maior parcela do que temos de especial em nosso tipos de mentes situa-se ali”.

Quando explica a Nova Síntese, Fodor acaba nos fornecendo uma boa visão geral do que o levou a reunir artigos distintos publicados anteriormente nesse livro chamado “Não é assim que a mente funciona”:

“Em contraste, as teorias psicológicas da Nova Síntese, do tipo das que Pinker e Plotkin defendem, são tipicamente não sobre estados epistêmicos, mas sobre processos cognitivos; por exemplo, os processos mentais envolvidos em pensar, aprender e perceber. A idéia principal da Nova Síntese é que os processos cognitivos são computacionais, e a noção de computação empregada aqui vale-se muito do trabalho fundamental de Alan Turing. Uma computação, de acordo com esse entendimento, é uma operação formal sobre representações sintaticamente estruturadas. De acordo com isso, um processo mental, enquanto computação, é uma operação formal sobre representações mentais sintaticamente estruturadas. Voltaremos logo a essa idéia, expandindo-a. No momento, é suficiente dizer que enquanto o racionalismo de Chomsky consiste primariamente em um nativismo sobre o conhecimento que as capacidades cognitivas manifestam, o racionalismo da Nova Síntese consiste primariamente em um nativismo sobre os mecanismos computacionais que exploram esse conhecimento para as finalidades da cognição. Resumindo: a novidade da Nova Síntese é em sua maior parte a consequência de unir uma epistemologia racionalista a uma noção sintática da computação mental”. (p. 11-12)

Quinze páginas de Notas, ao final do livro, ajudam a esclarecer diversos pontos e a fazer a ponte entre cada um dos artigos que foram transformados em capítulos. No mais, é como diz a contracapa do livro: “Assim, de acordo com Fodor, a ciência cognitiva mal está começando”.

Jerry Fodor The Mind Doesn't Work That Way
The MIT Press 2001 144 pages PDF 1,1 MB
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