domingo, 27 de fevereiro de 2011

Stanley Kubrick dixit


Playboy: Se a vida é tão sem propósito, você acha que vale a pena viver?

Kubrick: Sim, para aqueles que conseguem de alguma maneira lidar com nossa mortalidade. A própria ausência de significado na vida força o homem a criar seu próprio significado. As crianças, é claro, começam a vida com um senso ainda não embaçado do maravilhoso, uma capacidade de experimentar alegria total diante de algo tão simples como o verde de uma folha; mas à medida que ficam mais velhas, a consciência da morte e da decadência começa a influenciar sua consciência e enfraquece sutilmente sua joie de vivre (alegria de viver), seu idealismo - e sua suposição de imortalidade. À medida que uma criança amadurece, ela vê morte e dor à sua volta e começa a perder a fé na bondade absoluta do homem. Mas se for razoavelmente forte -e tiver sorte - ela pode emergir desse crepúsculo da alma em um renascimento do élan da vida. Por causa de sua consciência da ausência de significado da vida, e a despeito dessa consciência, ela pode forjar um novo senso de propósito e afirmação. Ela pode não recapturar o mesmo senso puro de maravilha com o qual nasceu, mas pode dar forma a algo muito mais duradouro e encorajador. O fato mais terrível sobre o universo não é que ele seja hostil, mas que seja indiferente; entretanto, se conseguirmos lidar com essa indiferença e aceitar os desafios da vida diante dos limites da morte - não importando o quanto o homem consiga modificá-los - nossa existência enquanto espécie pode ter significado e realização genuínos. Não importa a vastidão das trevas: nós devemos criar nossa própria luz.