Este é um dos livros básicos que nos ajudam a entender a trajetória da música a partir do ponto mais alto de sua nova sistematização no século 18. Devido à boa amplitude cultural do autor, mesmo o leitor desprovido de conhecimentos técnicos pode perceber a importância do que está acontecendo, e um pequeno esforço de sua parte para conhecer alguns poucos detalhes técnicos fundamentais como escala, melodia, polifonia, etc., irá ampliar bastante seu aproveitamento da obra.
A origem do instituto de um 'princípio', uma idéia, é tematizada através da obra dos compositores mais significativos do período. Um exemplo:
A origem do instituto de um 'princípio', uma idéia, é tematizada através da obra dos compositores mais significativos do período. Um exemplo:
"Talvez se deva dizer que um princípio geral está envolvido: Bach tende a pensar de modo fugal mesmo uando escreve danças; Handel pensa em termos de dança mesmo quando escreve fugas. A unidade de Bach é o crescimento da melodia isolada em todas as partes; a unidade de Handel se imoõe em suas melodias pelo tempo período da dança e pela definição de tonalidade. E Handel é o músico representativo da era barroca; pois ao mesmo tempo que Bach revela a ordem inerente da melodia, Handel cria ordem através de um equilíbrio de sentenças e tonalidades - assim como os arquitetos e paisagistas da época estabeleceram a ordem através da simetria de formas e de contornos. Bach ainda expressa uma visão teocrática e teocêntrica, enquanto que a atitude de Handel é humanista.Bach escreveu para a igreja, mesmo em sua música instrumental. Handel escreve para a casa de óperas, mesmo em sua música sacra: e a casa de óperas era o símbolo do Rei e do Estado, da autocracia criada pelo homem na qual o Rei tornou-se Deus.A importância da forma chaconne na música barroca não é fortuita; pois a chaconne é uma peça mais longa, construída sobre a repetição regular de um ritmo de dança e de um baixo harmônico. Esse padrão períódico disciplina a paixão da música da mesma maneira como as convenções da socidade aristocrática visavam controlar os sentimentos pessoais no interesse da comunidade. A terrível Passacaille em Si Menor de Couperin é um exemplo extremo disso. A harmonia cromaticamente violenta alcança seu clímax no penúltimo verso; mas a emoção é represada pelas incansáveis repetições do rondó. As veementes paixões do indivíduo parecem estar lutando desesperadamente contra as convenções que tornam a civilização possível. Em um mundo tão ordenado, não há dúvida de que a civilização triunfará".
E não é apenas um livro técnico de música: o contexto histórico é descrito com seriedade e amplitude:
"Na Áustria e na Alemanha, entretanto, a Guerra dos Trinta Anos deixou em seu rastro um legado de caos e desintegração e estabeleceu a dominação de um poder estrangeiro. Nessas condições, os pequenos principados tentaram manter uma opressiva servidão feudal, enquanto eles mesmos emulavam os elegantes modelos franceses e italianos em seus palácios, sua arte, sua música e seus códigos de etiqueta. A cultura austríaca tornou-se cosmopolita; o catolicismo e a elegância italiana dos Habsburgos não podiam fornecer uma força unificante comparável à do Rei Sol na França. Lá pela metade do século 18, o conflito latente na sociedade tinha se tornado patente. A separação podia ser notada mesmo dentro da própria nobreza, porque o imperador Joseph II, que se opunha ao papado e tentou abolir a servidão, além de estabelecer um Édito de Tolerância, entrou em amargo conflito com os senhores de terra feudais e patriarcais, tais como os empregadores de Haydn, os Esterhazys. O fantástico mundo de sonhos do palácio Esterhazy nas charnecas era uma tentativa consciente de transplantar a glória de Louis XIV na Áustria, um oásis - ou mesmo uma miragem - em um deserto de miséria, pois dependia da servidão para sua existência. O zelo reformista foi derrotado; Joseph teve que retirar seu Édito. As aspirações revolucionárias surgiram novamente, e novamente foram derrotadas inúmeras vezes até o século 20".
Aqui, o princípio é sempre estrutural, e Mellers trata de melodia, harmonia, fuga e contraponto, sinfonia e concerto, sempre com vistas à elucidação de um processo.
The Sonata Principle (from circa 1750)
Wilfrid Mellers
2008 PDF 264 pgs
http://www.archive.org/download/sonataprinciplef002579mbp/sonataprinciplef002579mbp.pdf