Da Philosophy Now, uma "revista de idéias", aqui está minha tradução de uma parte de um artigo sobre Kant. Bem escrito, dá até vontade de ter conhecido a figura. Não deixe de ler o artigo todo!
Immanuel Kant - Sapere Aude!
Anja Steinbauer escreve uma introdução à vida e às idéias de Immanuel Kant, o alegre sábio de Königsberg, que morreu há 200 anos.
"Tenha a coragem de usar sua própria razão!" (em latim, sapere aude!) é o grito de guerra do Iluminismo. Foi articulado por Immanuel Kant em seu famoso artigo "O que é o Iluminismo?" (1784). Os obstáculos que podem estar em nosso caminho de chegar à maturidade, isto é, pensar por nós mesmos, são muitos e têm a ver com: o eu, política e sociedade, e também com a cultura. Estes são problemas que preocupam tanto os acadêmicos como qualquer outra pessoa: em uma carta a seu soberano, Kant declarou livremente que ele acreditava que Rousseau estava certo ao dizer que os governantes só toleram aqueles intelectuais que se contentam em simplesmente "adornar nossas correntes com flores" - como muitos fazem. A maior dificuldade é motivar as pessoas para que se livrem da imaturidade: "É tão fácil não crescer... Se tenho um livro que compreende por mim, um pastor que tem uma consciência por mim, um médico que decide minha dieta, e assim por diante, não tenho por que me preocupar. . Não preciso pensar, se puder pagar - outros terão por mim esse incômodo trabalho".
Heinrich Heine disse certa vez, sarcasticamente, que "a história da vida de Immanuel Kant é difícil de descrever, porque ele não teve vida, nem história". De certo modo, Immanuel Kant parece ter sido exatamente o que v. esperaria que um professor alemão fosse, uma paródia de si mesmo, por assim dizer: pedante, pontual, rígido. Tudo isso é verdadeiro com relação a ele, mas clichês são apenas clichês, e não pessoas reais. Há algo mais no "Chinês de Königsberg", como Nietzsche o chamava, cinicamente. Quem foi esse homem, que podia ser levado ao desespero quando uma cadeira de seus aposentos estava fora do lugar?
Se v. tivesse batido à sua porta em Königsberg, certamente teria sido atendido por seu empregado Lampe. Se v. tivesse entrado na intimidade do santuário da casa, teria ficado desapontado ao descobrir que o grande pensador, de cujas palavras Coleridge disse que o tinham agarrado como "o punho de um gigante", era na verdade uma pessoa pequena e delgada, até insignificante, e de saúde frágil. Entretanto, seus vivos olhos azuis poderiam revelar algo de seu espírito e de seu senso de humor que o tornavam muito popular, especialmente entre as mulheres, Além de ter sido um famoso filósofo, ele parece ter sido bem festeiro, e era uma figura costumeira e estimada nos eventos sociais de Königsberg. Ele adorava jogar sinuca e conversar com os amigos.
Um desses amigos informa que o velho filósofo acordava muito cedo: ele havia instruido Lampe para que o acordasse às cinco. Isso é que é acordar cedo, por qualquer padrão. E Kant frequentemente relutava em levantar-se, mas tinha que fazê-lo porque tinha dado ordens estritas a Lampe para que não o deixasse dormir nem um minuto a mais, não importando o quanto ele implorasse. Kant, então, passava algum tempo escrevendo até a hora de suas aulas da manhã. Não se deve imaginar que ele era um acadêmico pachorrento com muito tempo disponível para observar o próprio umbigo e ter belos pensamentos. Ele era professor com horário integral, num esquema de vinte horas de contato com os alunos por semana. Ainda assim, Kant estava muito feliz com seu posto, que custara tanto a conseguir. O desenrolar de sua carreira não é desconhecido para os acadêmicos que procuram estabilidade hoje em dia: depois de anos como tutor particular de crianças ricas, e depois como professor particular pago por hora, Kant, o quarto dos nove filhos do seleiro Cant, finalmente recebeu uma cadeira de filosofia com a idade de 47 anos. Ele não podia se dar o luxo de especializar-se em uma só área, como a filosofia; era exigido que ensinasse direito natural, mecânica, mineralogia, física, matemática e geografia. A imagem que muitas pessoas têm dele como um homenzinho de rosto amargo está em completo contraste com as descrições de seus contemporâneos, que afirmam ter sido ele uma conversa inspiradora e inteligente, com um senso natural de humor.
Depois das aulas da manhã, Kant fazia um elaborado almoço, no qual era acompanhado por muitos amigos. Era sua única refeição do dia. Depois de longas conversas, Kant fazia sua caminhada da tarde ao longo do rio seguido por seu empregado, que levava um guarda-chuva para o caso de chover. Depois, Kant passava mais algum tempo estudando, antes de ir dormir exatamente às 10 horas. Até ir para a cama envolvia um ritual especial: Kant tinha uma espécie de técnica de se enrolar tão completamente nas cobertas que elas o envolviam todo. Nesse casulo, ele então dormia.
Immanuel Kant - Sapere Aude!
Anja Steinbauer escreve uma introdução à vida e às idéias de Immanuel Kant, o alegre sábio de Königsberg, que morreu há 200 anos.
"Tenha a coragem de usar sua própria razão!" (em latim, sapere aude!) é o grito de guerra do Iluminismo. Foi articulado por Immanuel Kant em seu famoso artigo "O que é o Iluminismo?" (1784). Os obstáculos que podem estar em nosso caminho de chegar à maturidade, isto é, pensar por nós mesmos, são muitos e têm a ver com: o eu, política e sociedade, e também com a cultura. Estes são problemas que preocupam tanto os acadêmicos como qualquer outra pessoa: em uma carta a seu soberano, Kant declarou livremente que ele acreditava que Rousseau estava certo ao dizer que os governantes só toleram aqueles intelectuais que se contentam em simplesmente "adornar nossas correntes com flores" - como muitos fazem. A maior dificuldade é motivar as pessoas para que se livrem da imaturidade: "É tão fácil não crescer... Se tenho um livro que compreende por mim, um pastor que tem uma consciência por mim, um médico que decide minha dieta, e assim por diante, não tenho por que me preocupar. . Não preciso pensar, se puder pagar - outros terão por mim esse incômodo trabalho".
Heinrich Heine disse certa vez, sarcasticamente, que "a história da vida de Immanuel Kant é difícil de descrever, porque ele não teve vida, nem história". De certo modo, Immanuel Kant parece ter sido exatamente o que v. esperaria que um professor alemão fosse, uma paródia de si mesmo, por assim dizer: pedante, pontual, rígido. Tudo isso é verdadeiro com relação a ele, mas clichês são apenas clichês, e não pessoas reais. Há algo mais no "Chinês de Königsberg", como Nietzsche o chamava, cinicamente. Quem foi esse homem, que podia ser levado ao desespero quando uma cadeira de seus aposentos estava fora do lugar?
Se v. tivesse batido à sua porta em Königsberg, certamente teria sido atendido por seu empregado Lampe. Se v. tivesse entrado na intimidade do santuário da casa, teria ficado desapontado ao descobrir que o grande pensador, de cujas palavras Coleridge disse que o tinham agarrado como "o punho de um gigante", era na verdade uma pessoa pequena e delgada, até insignificante, e de saúde frágil. Entretanto, seus vivos olhos azuis poderiam revelar algo de seu espírito e de seu senso de humor que o tornavam muito popular, especialmente entre as mulheres, Além de ter sido um famoso filósofo, ele parece ter sido bem festeiro, e era uma figura costumeira e estimada nos eventos sociais de Königsberg. Ele adorava jogar sinuca e conversar com os amigos.
Um desses amigos informa que o velho filósofo acordava muito cedo: ele havia instruido Lampe para que o acordasse às cinco. Isso é que é acordar cedo, por qualquer padrão. E Kant frequentemente relutava em levantar-se, mas tinha que fazê-lo porque tinha dado ordens estritas a Lampe para que não o deixasse dormir nem um minuto a mais, não importando o quanto ele implorasse. Kant, então, passava algum tempo escrevendo até a hora de suas aulas da manhã. Não se deve imaginar que ele era um acadêmico pachorrento com muito tempo disponível para observar o próprio umbigo e ter belos pensamentos. Ele era professor com horário integral, num esquema de vinte horas de contato com os alunos por semana. Ainda assim, Kant estava muito feliz com seu posto, que custara tanto a conseguir. O desenrolar de sua carreira não é desconhecido para os acadêmicos que procuram estabilidade hoje em dia: depois de anos como tutor particular de crianças ricas, e depois como professor particular pago por hora, Kant, o quarto dos nove filhos do seleiro Cant, finalmente recebeu uma cadeira de filosofia com a idade de 47 anos. Ele não podia se dar o luxo de especializar-se em uma só área, como a filosofia; era exigido que ensinasse direito natural, mecânica, mineralogia, física, matemática e geografia. A imagem que muitas pessoas têm dele como um homenzinho de rosto amargo está em completo contraste com as descrições de seus contemporâneos, que afirmam ter sido ele uma conversa inspiradora e inteligente, com um senso natural de humor.
Depois das aulas da manhã, Kant fazia um elaborado almoço, no qual era acompanhado por muitos amigos. Era sua única refeição do dia. Depois de longas conversas, Kant fazia sua caminhada da tarde ao longo do rio seguido por seu empregado, que levava um guarda-chuva para o caso de chover. Depois, Kant passava mais algum tempo estudando, antes de ir dormir exatamente às 10 horas. Até ir para a cama envolvia um ritual especial: Kant tinha uma espécie de técnica de se enrolar tão completamente nas cobertas que elas o envolviam todo. Nesse casulo, ele então dormia.