sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Explicando o Cérebro


Explicando o Cérebro é sobre o verbo, não sobre o objeto direto. A apresentação da editoria (veja abaixo) é correta, mas não faz justiça à amplitude da exposição de Craver. Por exemplo: na p. 23, ele estabelece seus propósitos: "Meu objetivo nesse livro é elaborar um modelo de explicação que reflita, mais do que simplesmente acomode, a estrutura das explicações da neurociência. Não inicio tendo uma visão filosófica da explicação em mente, e então tentando imprimí-la sobre aquilo que encontro em sessões de discussão, artigos de revisão e livros textos de neurociência. Ao invés, desenvolvo uma visão da explicação que faz justiça a exemplares da explicação em neurociência e aos padrões segundo os quais essas explicações são avaliadas. Começando com a neurociência, em oposição à física ou à química, três características principais da explicação exigem atenção: (1) explicações descrevem mecanismos; (2) explicações distribuem-se por múltiplos níveis; e (3) explicações integram achados de campos múltiplos". Mecanismos, níveis e campos: estas são as questões principais de Craver.

Os mecanismos e sua explicação são abordados no cap. 4, onde ele desenvolve um modelo causal-mecânico de explicação constitutiva (em contraposição a etiológica) e mostra como e porque. E acrescenta: "Há duas tradições de pensamento amplas e dominantes sobre a explicação constitutiva: a tradição redutiva e a tradição sistêmica. Meu ponto de vista é um desenvolvimento e uma pormenorização de uma versão da tradição sistêmica".

No capítulo 5, Um Guia de Campo sobre Níveis, depois de repetir todo mundo ("as explicações da neurociência tipicamente abordam múltiplos níveis"), Craver diz que o termo 'nível' é multiplamente ambíguo e tem diversos usos comuns na neurociência atual: "Para nomear apenas alguns poucos, há níveis de abstração, análise, comportamento, complexidade, descrição, explicação, função, generalidade, organização, ciência e teoria. Consequentemente, as disputas científicas e filosóficas sobre níveis não podem ser abordadas, e muito menos resolvidas, sem primeiro apontar-se qual dos vários sentidos de 'nível' está em discussão" (p. 164).

O cap. 7 mostra "como as explicações mecaniscistas multiniveladas estruturam a unidade da neurociência". Craver explica: "Tradicionalmente, os filósofos da neurociência consideram que a unidade da neurociência é obtida através da redução passo-a-passo de teorias de nível superior para teorias de níveis sucessivamente inferiores, e em última instância, fundamentais. Em contraste, eu argumento que a unidade da neurociência é obtida quando diferentes campos integram suas pesquisas ao adicionar circunscrições às explicações mecanicistas multiniveladas. O objetivo de descobrir explicações de múltiplos níveis fornece um resumo abstrato, ou estrutura, para a integração dos campos. Os achados em diferentes campos da neurociência são utilizados, como os ladrilhos de um mosaico, para montar esse mecanismo elaborado e para dar forma ao espaço de possíveis mecanismos".

Resumindo numa só frase, então: "A unidade em mosaico da neurociência é obtida através da integração entre os campos de um dado nível e através da integração entre os níveis de uma hierarquia de mecanismos". (p. 228)

Da editoria: What distinguishes good explanations in neuroscience from bad? Carl F. Craver constructs and defends standards for evaluating neuroscientific explanations that are grounded in a systematic view of what neuroscientific explanations are: descriptions of multilevel mechanisms. In developing this approach, he draws on a wide range of examples in the history of neuroscience (e.g. Hodgkin and Huxleys model of the action potential and LTP as a putative explanation for different kinds of memory), as well as recent philosophical work on the nature of scientific explanation. Readers in neuroscience, psychology, the philosophy of mind, and the philosophy of science will find much to provoke and stimulate them in this book.

Explaining the Brain: Mechanisms and the Mosaic Unity of Neuroscience
Carl F. Craver