segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Bruegel, pelo blog Lebbeus Woods


(acima, O Triunfo da Morte)

Veja algumas reproduções (de boa qualidade) de pinturas de Bruegel e leia minha tradução do texto que apresenta o grande pintor. Como Hyeronimus Bosch, ele nos fascina, horrorizados.

Bruegel viveu e trabalhou em Flandres, a parte sul dos Países Baixos (The Netherlands), em meados do século 16. Viajou para Roma quando jovem e levou consigo a experiência da grande arte renascentista revolucionária que viu por lá, mas por toda sua vida ativa continou sendo um pintor do norte, isto é, com um pé firmemente posto na Idade Média. Isso significa que ao mesmo que incorporou certa medida do humanismo do Renascentismo, não adotou junto com isso o idealismo majestoso incorporado em um "renascimento do saber clássico" que tanto inspirou os artistas italianos, mas ao invés permaneceu enraizado nas realidades da vida quotidiana na exposição de suas verdades. Seu quase-contemporâneo Erasmus, mais velho do que ele, incorporava a inteligência cética e sempre questionadora que caracterizava os realistas do norte, e, à sua própria maneira, Bruegel também era assim.

As pinturas de Bruegel celebram a complexidade informal da vida quotidiana das aldeias e cidades que não tinham as hierarquias sociais e espaciais que caracterizavam suas contrapartidas medievais mais ao sul. Elas continham uma mistura abrasiva de classes e de suas atividades que era proto-democrática. A maior parte de suas pinturas retêm uma fascinação medieval, com os detalhes e a complicada narrativa que criam. Suas composições são desprovidas de ponto focal, sendo o que hoje em dia chamamos de "campos", compostos por muitas figuras e diversos objetos díspares, todos retratados mais ou menos de maneira igual, e exigindo que aquele que vê - não o artista - selecione o que é importante para ser focalizado. Os temas das pinturas vão da vida diária ao alegórico, do mundano ao metafísico. Ainda assim, mesmo essas diferenças são tratadas com equanimidade, como se todas fossem, na mesma medida, simplesmente partes da vida.

Umberto Eco, o teórico, romancista e medievalista, afirmou que a globalização e a união às vezes abrasiva de povos e culturas em nossa época não produziram uma nova Idade Clássica à maneira do Iluminismo, mas sim uma nova Era Medieval, que negocia entre o caos e a ordem e procura um equilíbrio complexo e sempre mutante de forças contrárias. O surgimento da internet, com sua forma anti-hierárquica, certamente dá apoio a esse ponto de vista. As pinturas de Pieter Bruegel estão mais vivas hoje do que em qualquer época desde que as realizou. De muitas maneiras, ele é um de nós.