quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A escrita nas paredes das cavernas


A revista New Scientist publicou o artigo abaixo, do qual traduzo uma parte, onde se comprova com razoável certeza que o homem de 10.000 a 40.000 anos atrás já rabiscava mensagens em linguagem simbólica nas paredes das cavernas de diversas partes do mundo. (Dê um clique na figura acima)

The writing on the cave wall
17 February 2010 by Kate Ravilious

"Os primeiros exploradores a realizar a tarefa de se arrastar por sete metros dentro de um túnel estreito que leva às cavernas Chauvet, no sul da França, foram recompensados com magníficos trabalhos de arte que rivalizam qualquer composição moderna. Estendendo-se a três metros de altura, as pinturas mostram um grupo de majestosos cavalos em cores profundas, acima de um par de agressivos rinocerontes em meio a uma luta. À esquerda, encontraram uma bela exposição de um rebanho de vacas pré-históricas. "As cabeças dos cavalos parecem saltar da rocha em sua direção", diz Jean Clottes, ex-diretor da pesquisa científica das cavernas e uma das poucas pessoas a ver as pinturas com seus próprios olhos.

Quando se testemunha uma beleza tão espetacular, quem poderia culpar os antropólogos visitantes por ignorar os modestos semicírculos, linhas e ziguezagues que também estão marcados nas paredes? Mesmo assim, não dar atenção a eles acabou sendo um erro. As últimas pesquisas mostram que, longe de serem rabiscos, as marcas são, de fato, altamente simbólicas, formando um 'código' escrito que era familiar a todas as tribos pré-históricas através da França e possivelmente para além dela. Realmente, essas modestas formas podem ser tão notáveis como as pinturas dos cavalos que correm e os rinocerontes em luta, fornecendo um flagrante dos primeiros passos da humanidade na direção do simbolismo e da escrita.

Até agora, a visão aceita era que nossos ancestrais passaram por uma 'explosão criativa' há uns 30.000 ou 40.000 anos, quando subitamente começaram a pensar abstratamente e a criar arte com pedras. Esta idéia recebe sustentação da enorme quantidade de surpreendentes pinturas em cavernas, como as de Chauvet, que proliferaram pela Europa por essa época. A escrita, por outro lado, parece ter surgido bem mais tarde, com os primeiros registros de um sistema de escrita pictográfica aparecendo apenas há uns 5.000 anos.

Poucos pesquisadores, entretanto, levaram a sério as marcas relativamente pequenas e modestas à volta das pinturas das cavernas. As evidências do princípio da criatividade humana, pensaram, estava claramente nos elaborados desenhos.
Enquanto alguns pesquisadores como Clottes registraram a presença de sinais em sítios individuais, Genevieve von Peltzinger, na época uma estudante da University of Victoria, British Columbia, Canada, ficou surpresa ao ver que ninguém tinha reunido todos aqueles registros para comparar os sinais de diferentes cavernas. Assim, sob a supervisão de April Nowell, também da University of Victoria, ela imaginou um ambicioso projeto de pesquisa para seu mestrado. Ela compilou um banco de dados abrangente, com todos os sinais das cavernas registrados em 146 sítios da França, cobrindo 25.000 anos de pré-história - de 35.000 a 10.000 anos atrás.

O que surgiu foi surpreendente: 26 sinais, todos desenhados no mesmo estilo, apareceram repetidamente em diversos sítios (veja a ilustração). Reconhecidamente, alguns dos símbolos são bastante básicos, como linhas retas, círculos e triângulos, mas o fato de que muitos dos desenhos mais complexos também apareceram em diversos lugares revelou a von Peltzinger e Nowell que eles eram significativos - talvez mesmo as sementes de uma comunicação escrita.

Um exame mais próximo confirmou suas suspeitas. Quando von Peltzinger voltou a alguns dos registros das paredes das cavernas, ela notou outros sinais, menos abstratos, que pareciam representar uma parte separada de uma figura mais ampla - como as presas de um mamute sem o respectivo corpo. Essa característica, conhecida como sinédoque, é comum nas linguagens pictográficas conhecidas. Para von Peltzinger e Nowell, ela demonstrava que nossos ancestrais estavam mesmo pensando em como representar idéias simbolicamente, mais do que realisticamente, levando eventualmente aos símbolos abstratos que foram a base do estudo original".