sábado, 8 de agosto de 2009

Uma teoria "complexa" da consciência

From the July 2009 Scientific American - Mind
A "Complex" Theory of Consciousness
Is complexity the secret to sentience, to a panpsychic view of consciousness?
By Christof Koch

Depois de uns tico-tico de revista de divulgação científica, Koch nos apresenta Giulio Tononi, psiquiatra e neurocientista da University of Wisconsin–Madison. Tononi forjou sua Teoria da Informação Integrada (IIT - integrated information theory) da consciência, cujos pilares básicos são, de acordo com Koch: (1) “Os estados conscientes são altamente diferenciados; e são informacionalmente muito ricos. Você pode estar consciente de um incontável número de coisas: pode presenciar o recital de piano de seu filho, por exemplo; pode ver as flores do jardim, lá fora ou o quadro de Gauguin pendurado na parede. Pense em todas as cenas de todos os filmes que v. já viu, ou que algum dia foram filmadas, ou que serão filmadas! Cada cena, cada vista, é um percepto consciente específico”.

Esta primeira teorização é mais fenomenológica, a meu ver. O segundo “pilar” volta-se mais para considerações neurofisiológicas, e é nele que reside a força do que Tononi engendrou para seu estudo da consciência. Vejamos: (2) “Em segundo lugar, esta informação é altamente integrada. Não importa o quanto v. tente, v. não pode se forçar a ver o mundo em preto e branco, nem pode ver apenas a metade esquerda do seu campo de visão, e não a direita. Quando v. está olhando para o rosto de sua amiga, não pode deixar de perceber que ela está chorando. Qualquer informação da qual v. esteja consciente é apresentada total e completamente à sua mente; não pode ser subdividida. Subjacente a essa unidade da consciência está uma multidão de interações causais entre as partes relevantes do seu cérebro. Se áreas do cérebro começam a se desconectar ou a ficar fragmentadas e isoladas, como ocorre no sono profundo ou na anestesia, a consciência esmaece e pode cessar por completo. Pense nos pacientes neurológicos cujo corpo caloso de seu cérebro – os 200 milhões de cabos/fios que ligam os dois hemisférios corticais – foi seccionado para aliviar episódios epiléticos graves. O cirurgião literalmente divide a consciência da pessoa em dois, com uma mente consciente associada ao hemisfério esquerdo e vendo a metade direita do campo visual, e outra mente que vem do hemisfério direito e vê a metade esquerda do campo visual.

Para estar consciente, então, v. precisa ser uma entidade única e integrada, com um grande repertório de estados altamente diferenciados. Ainda que os 60 gigabytes do disco rígido do meu computador excedam em capacidade toda a minha vida de memórias, esta informação não é integrada. Por exemplo, as fotografias de família em meu Macintosh não estão interligadas. O computador não sabe que aquela menina das fotografias é minha filha, à medida que amadurece desde criança até uma adolescente magrela, e depois até uma graciosa pessoa adulta. Para meu Mac, todas as informações são igualmente sem sentido, apenas uma vasta e aleatória tapeçaria de zeros e uns.

Mas eu derivo significado dessas imagens porque minhas memórias estão muito interligadas. E quanto mais interconectadas, mais significativas se tornam. A IIT de Tononi postula que a quantidade de informação integrada que uma entidade possui corresponde a seu nível de consciência”.

Ao contrário do que as crianças pensam ao serem informadas que os planetas do nosso sistema solar giram em torno do Sol, eles não giram como se fossem bolas (redondas) amarradas na ponta de um barbante (implicando em órbitas circulares). Os planetas são “esferóides”, digamos assim, e as órbitas são elípticas. Mas não são contínuas: são intermitentes, e o corpo celeste prossegue em sua rota e subitamente pára e retrocede, retomando depois o caminho que vinha percorrendo.

A rota da ciência é parecida. Não tem a “perfeição” da esfera e apresenta avanços e retrocessos. Pensei nisso ao ler a última frase, “a quantidade de informação integrada que uma entidade possui corresponde a seu nível de consciência”. Antigamente dizia-se que quanto menos movimento a estrutura do objeto apresentava, menos vivo ele estava. (“Antigamente” é qualquer coisa antes dos quatro elementos fundamentais – terra, água, ar e fogo – terem se transformado cientificamente em três – informação, energia e espaçotempo). Como se as pedras estivessem “vivas”, mas apenas quase vivas, porque muito pouco (bem, nunca mediram...). Hoje as pedras podem apresentar consciência, mas quase nenhuma (também nunca mediram, mas vale a assíntota... Teoricamente, toda ‘quantidade’ é mensurável). Koch fala sobre isso quando cita o “panpsiquismo” de outrora e na seção “A consciência é universal”, lá pelo final do artigo.

Mas deixemos de abobrinhas: a partir da frase “A IIT está em sua infância e não tem os encantos de uma teoria completamente desenvolvida”, é que Koch diz a que veio. E aí o artigo termina, e ficamos com água na boca. Fala sério, Koch...

http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=a-theory-of-consciousness