terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O cérebro viaja no tempo

The Time Travelling Brain
Tuesday, 14 December 2010
Traduzido do excelente blog Neuroskeptic

Qual é a diferença entre andar na rua ontem e andar na rua amanhã? Não tem nada a ver com 'andar', ou com a 'rua': é a mesma coisa. 'Quando' parece ser algo externo ao que, como e onde da situação. Mas isso cria um problema para os neurocientistas.

Nós achamos que sabemos como o cérebro armazena o conceito de 'andar na rua' (ou de 'andar' e de 'rua'). Em termos gerais, considera-se que impressões sensoriais simples são reunidas em combinações cada vez mais complexas, e isso ocorre à medida que nos afastamos do córtex visual primário (V1) do cérebro, indo para o chamado fluxo visual ventral.

Na área V1 as células geralmente não reagem a nada mais complexo do que às posições e orientações de linhas retas: / ou \ ou _ , etc. Ao passo que quando chega-se ao lobo temporal, na ponta do fluxo, temos células que reagem à Jennifer Aniston. Nesse intervalo estão coleções progressivamente mais complexas de características.

Ainda que os detalhes possam estar errados, o fato de que objetos complexos sejam compostos de partes mais simples e ultimanente de sensações puras significa que nossa capacidade de processar cenas complexas não parece ser muito misteriosa, dado que temos sentidos.

Mas o fato de que podemos tomar qualquer cena dada e facilmente pensar nela como sendo 'passado', 'presente' ou 'futuro' é curioso com base nesse ponto de vista porque, como eu disse, a própria cena é a mesma em todos os casos. E não é como se tivéssemos um sentido devotado ao tempo: o único tempo do qual estamos diretamente cônscios é o 'agora mesmo'.

Os neurocientistas suecos Nyberg et al. utilizaram fMRI para medir a atividade cerebral associada à 'viagem mental no tempo': a consciência do tempo subjetivo no cérebro. Eles tomografaram voluntários e lhes pediram que imaginassem estar endando entre dois pontos em quatro situações diferentes: passado, presente, futuro, ou lembrado (em oposiçãoa imaginado no passado). Esta curta caminhada tinha que ser alguma que eles já tivessem realmente feito muitas vezes.

O que aconteceu?

Em comparação com uma tarefa controle de fazer aritmética mental, lembrar e imaginar a caminhada ativou diversas áreas cerebrais e houve uma forte sobreposição das duas condições. Nenhuma surpresa grande nesse ponto.O contraste importante foi entre lembrar, imaginar no passado e imaginar no futuro, vs. imaginar no presente. Isto revelou uma bolotinha bem simpática:

(veja a figura no artigo original)

Esta pepita no córtex parietal esquerdo representa uma área na qual o cérebro está mais ativo quando pensa sobre épocas diferentes do presente, com relação a algo sobre a mesma coisa, mas agora mesmo. Eles notam que essa área "se sobrepõe parcialmente a uma região angular esquerda que demonstravelmente é recrutada tanto no pensamento do passado como do futuro, e com regiões parietais implicadas na auto-projeção para o tempo passado, presente e futuro"

E daí? Este é um estudo legal, mas como a maior parte das fMRIs ele não nos diz o que essa área está realmente fazendo. Para saber isso nós precisaríamos saber o que ocorreria com alguém se essa área fosse danificada. Seriam incapazes de imaginar qualquer tempo exceto o presente? Achariam que suas memórias estavam acontecendo agora mesmo? Talvez se pudesse utilizar a rTMS para desativá-la temporariamente - se fossem encontrados voluntários dispostos a perder seu senso de tempo por um período...

Nyberg L, Kim AS, Habib R, Levine B, & Tulving E (2010). Consciousness of subjective time in the brain. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America PMID: 21135219