Everyone thinks everyone else has less free will
Todos acham que os outros têm menos livre arbítrio
December 13, 2010 By Charles Q. Choi
PhysOrg - A questão do livre arbítrio individual - se nossos destinos estão além de nosso controle ou se comandamos nossos próprios destinos - tem sido discutida durante séculos. Agora, cientistas revelaram um novo detalhe do debate: em geral, todos parecem acreditar que têm mais livre arbítrio do que qualquer outra pessoa.
A psicóloga social Emily Pronin, da Princeton University, New Jersey, estuda as diferenças entre como percebemos nós mesmos e como percebemos os outros. De acordo com sua pesquisa, tendemos a ver nosso julgamento como correto e o julgamento dos outros como irracional: reconhecemos inclinações nos outros, mas não em nós mesmos; nós nos vemos como mais individualistas, e os outros como mais conformistas.
Essencialmente, as pessoas julgam os outros com base no que vêem. Mas julgam elas próprias com base no que pensam e sentem, uma diferença que frequentemente leva a desentendimentos, discordâncias e conflitos. Compreender a base psicológica dessas diferenças pode ajudar a aliviar algumas de suas consequências negativas, sugeriu Pronin.
Quando Pronin começou a pensar sobre outras consequências dessa assimetria, "crenças no livre arbítrio me ocorreram como sendo algo importante a ser investigado, já que essas crenças têm importância com relação a quanta responsabilidade atribuimos às nossas ações e às ações dos outros", disse ela. Em quatro experimentos, Pronin e o aluno de graduação Matthew Kugler investigaram o quanto pessoas acreditavam que suas vidas e de seus iguais eram guiadas pelo livre arbítrio, e detalharam os achados online em 13 de dezembro na revista eletrônica Proceedings of the National Academy of Sciences.
No primeiro experimento, os pesquisadores estudaram o dogma mais clássico do livre arbítrio - a noção de que nossa própria ação não pode ser determinada antecipadamente. Cinquenta universitários foram solicitados a avaliar em uma escala de um a sete o quanto predizíveis eles achavam certas decisões passadas e futuras em suas vidas e nas vidas de seus colegas, tais como a escolha do curso a seguir e o andamento final de suas carreiras. Em média, os participantes viam seus próprios passado e futuro como menos predizíveis do que os de seus colegas com uma diferença de um ponto naquela escala (de um a sete).
"Pelos padrões da pesquisa psicológica, trata-se de um efeito bem grande", disse Pronin.
Nos segundo e terceiro experimentos, 28 funcionários de restaurante e 50 estudantes foram solicitados a dizer quantas escolhas achavam que estavam disponíveis em seu futuro e no futuro de colegas. Os voluntários geralmente achavam que tinham mais caminhos abertos para eles próprios, bons ou maus.
No último experimento, 58 estudantes criaram modelos predizendo seu próprio comportamento e o de um colega em um sábado à noite ou depois de terminar a faculdade, modelos que indicavam o quanto eram importantes para o desfecho a personalidade, a história, as circunstâncias, as intenções e os desejos. Os voluntários viam suas ações futuras como sendo muito mais fortemente guiadas por suas intenções e desejos, ao invés de serem determinadas por personalidade, história ou circunstâncias. Em contraste, viam a personalidade como o preditor mais forte do comportamento de seus colegas.
"As pessoas têm debatido sobre a existência do livre arbítrio por séculos", disse Pronin. "Nossas pesquisas sugerem uma das raz~]oes porque esse debate é tão persistente - as pessoas parecem ter duas visões sobre o livre arbítrio. Uma é quando olham para dentro de si mesmas e se convencem de seu próprio livre arbítrio; a outra visão é quando olham para fora, para os outros, a se convencem de que as ações dos outros tinham sido preditas antecipadamente".
"Esse trabalho é um progresso incrível", disse o pesquisador em psicologia Roy Baumeister, fa Florida University, Tallhassee, que não tomou parte no estudo. "A maior parte dos debates sobre livre arbítrio tomam a forma de tudo-ou-nada - ou todos têm o tempo todo, ou ninguém tem".
Quanto a por que tal diferença tenha se desenvolvido, "quando pensamos sobre nós mesmos, pode ser adaptativo acreditarmos que podemos controlar o que nos acontece, e essa crença requer acharmos que temos livre arbítrio", sugeriu Pronin. "Quando pensamos sobre outros, pode ser adaptativo reconhecer a preditibilidade das ações dos outros, de modo que possamos estar preparados de acordo com elas".
Os cientistas estão intrigados com as consequências dessas visões diferentes sobre o livre arbítrio, e sobre como essas visões podem variar através da vida e em diferentes culturas.
"Como é que isso atinge as crenças sobre responsabilidade pessoal e culpa?" indagou Pronin. "Será provável que as pessoas passem mais tempo se flagelando por causa de coisas que deram errado em seu passado porque acham que poderiam ter controlado essas coisas, ainda que não achem isso no caso de outras pessoas?"
Provided by Inside Science News Service
Veja também:
Medieval Theories of Free Will
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G. E. Moore, Free Will (Chapter 6 From Ethics, 1912)
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Em um nível mais 'esotérico':
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