terça-feira, 21 de outubro de 2008

Linguagem - artefato darwiniano de adaptação

O leitor vai perceber logo, ao ler esse trecho abaixo (que traduzi da introdução), que o artigo de Ghosh é bom e bem escrito. Não esquecer que os Precedings da Nature estão disponíveis gratuitamente a partir do site. Em http://precedings.nature.com/documents/1375/version/1 , escolha .doc ou .pdf.

Para cada um, sua própria língua: Seremos todos filhos de Darwin?
To every man his own language: Are we all Darwin’s children?

Shantanu Ghosh
Indian Institute of Technology Delhi
Behavioral and Cognitive Sciences Lab
Department of Humanities and Social Sciences
Indian Institute of Technology Delhi

Introdução

Para um biólogo, a capacidade singular de nossa espécie para usar linguagem é um artefato darwiniano de adaptação, mediado por um circuito neural dedicado e exibindo um padrão consistente de desenvolvimento (Fisher & Marcus, 2006). O estudo da linguagem em uma perspectiva evolutiva (Christiansen & Kirby, 2003; Deacon, 1997; Jarrard & Geschwind, 1971; Lenneberg, 1967; Pinker & Bloom, 1990; Lieberman, 1984; Mufwene, 2002; Nowak, Komarova & Niyogi, 2001) procura explicar como a mente humana se desenvolveu (Lashley, 1949; Hauser, Chomsky & Fitch, 2002; Pinker & Jackendoff, 2005) para sustentar a linguagem. Entretanto, falta-nos até agora uma definição ampla da linguagem. O fenômeno da linguagem não só deve dar assistência precisa em padrões de mapeamento perceptivo tornados cognitivos através de modos de input visuais, auditivos ou outros sobre um espaço mental – um processo complexo que envolve diferentes subprocessos que permitem a extração de informações a partir de indícios acústicos de rápida evolução e os convertendo em palavras com significado – como também designar papéis temáticos para as palavras, integrá-las semanticamente e fornecer a ênfase estrutural à ideia /ao conceito que conduz à compreensão de um número potencialmente infinito de sentenças em um contexto pragmático mais amplo. Por um lado, a descrição de linguagem por um neurocientista pode ilustrar as contribuições neurais para a produção de fala que envolve programas motores que permitem a conversão de ‘lemas’ fonológicos em dinâmica articulatória (Levelt, 1989) e assinaturas espaço-temporais (Indefrey & Levelt, 2004); por outro lado, o foco de um lingüista sobre os processos de compreensão decretaria que a descrição não só deve explicar como o ouvinte decodifica os sinais acústicos como também estabelecer relações relevantes de som-significado e acessar tanto o ‘léxico’ mental como mecanismos sintáticos, convertendo assim os sinais em estruturas com significado (Chomsky, 1965). Portanto, o fenômeno da linguagem é complexo demais para ser entendido simplesmente aplicando-se as leis fundamentais da organização acústica, dos processos neurais de percepção, do controle dos movimentos ou da modelagem lógica.