Benjamin Phelan escreveu um artigo na revista eletrônica Seed (www.seedmagazine.com/news/2008/10/how_we_evolve_1.php), abordando o trabalho de Hawks e colegas sobre a evolução da espécie humana. Trata-se de uma teoria relativamente nova que leva em consideração os efeitos da cultura humana em sua evolução genética (por exemplo, os efeitos da invenção da agricultura há uns dez mil anos). O site brasileiro Chi Vó Non Pó, em http://lablogatorios.com.br/chivononpo/2008/01/01/a-evolucao-da-especie-humana/ traz uma tradução do site Eurekalert que aborda o trabalho da equipe que está investigando o assunto. Cita duas publicações importantes que também falam do assunto: (”Culture speeds up Human Evolution” do Scientific American, e “Modern times causing human evolution to accelerate“, do New Scientist), mas o leitor também deve ler o artigo de Phelan na Seed, por ser mais recente e informado. E bem escrito... Alguns dos principais itens desse artigo:
“Invocando a antiga demografia através dos registros antropológicos, Hawks acredita que identificou toda a evolução adaptativa que ele detectou: uma explosão na população humana global mais ou menos coincidente com a revolução agrícola de uns 10.000 anos atrás. Inventamos a agricultura, começamos a comer alimentos diferentes e começamos a morar em cidades. Nossa população aumentou muito, nosso mundo mudou, e nosso DNA ainda está tentando alcançar isso tudo.
Spender Wells, diretor do Genographic Project, uma tentativa de reconstruir os padrões de migração humana fazendo amostragens de DNA da população mundial, estudou extensivamente a transição da humanidade para a agricultura. O resultado de Hawks não foi surpresa para ele. ‘As maiores modificações em nosso estilo de vida enquanto espécie ocorreram nos últimos 10.000 anos’, diz Wells. ‘Passamos o último milhão de anos de evolução, mais ou menos, vivendo como caçadores-coletores, caçando animais nas savanas da África ou recolhendo moluscos de concha na costa, gradualmente nos movendo até a Eurásia. Então, repentinamente, nos últimos 10.000 anos, nos tornamos uma espécie que se estabeleceu. A diversidade de fontes de alimentação cai direto de umas 100 da dieta dos caçadores-coletores para 10, na dieta média da agricultura. E então, é claro, crescem as densidades de população e aparecem as doenças’”.
“O registro molecular, com toda sua espantosa prolixidade, é uma babel de As, Cs, Gs e Ts, é ambíguo. Mas os crânios fossilizados de nossa linhagem símia parecem contar uma história bem clara, com respeito a uma característica, pelo menos. Os últimos poucos milhões anos testemunharam um aumento continuado, lento e perseverante no volume dos cérebros de nossa linhagem e, presumivelmente, na sofisticação de seus conteúdos. A alta inteligência está para os grandes macacos como a asa está para as aves.
Mas onde ficamos nesse processo? Será que a inteligência ainda está sendo selecionada? A parcimônia e o utilitarismo nos levariam a responder afirmativamente; as coisas atualmente, de modo geral, estão como eram no passado. Mas do jeito como a evolução funciona, através da qual mutações surgem em uma pessoa e lentamente se disseminam através de uma população, torna difícil enquadrar essa pergunta, pois se a inteligência ainda estiver sendo selecionada, isso poderia significar que algumas populações nesse momento são um pouco mais inteligentes do que outras – que, talvez, certas etnias sejam mais inteligentes do que outras. No ocidente, especulações sobre esse assunto quase imediatamente fazem do especulador um eugenista ou um racista”.
“As espécies são transitórias. Não há dúvida de que chegará o dia em que os humanos não estarão mais sobre a Terra. Mas a transitoriedade à qual estamos sujeitos tem duas faces. A primeira é a extinção. À diferença de nossos antepassados, temos consciência de como é tênue nossa posição de topo na cadeia alimentar. Ainda precisa ser visto se nosso conhecimento foi adquirido tarde demais para ser útil. A segunda face da retirada eventual do Homo sapiens da história é a possibilidade mais esperançosa de que possamos evoluir até sermos nossos próprios sucessores. À diferença de nossos antepassados, estamos conscientes da evolução, o que modifica nossas relações com ela, pelo menos um pouco, porque ainda somos criaturas naturais. Continuamos a evoluir, face à fome, à doença e ao ecossistema em mudança, mas nosso habitat virtual de cultura permite que nos tornemos tanto sujeitos da evolução como codiretores conscientes dela. ‘Está ocorrendo’, diz Ehrlich. ‘Não há dúvida. O que assusta são as perguntas que temos que nos fazer’.
A ciência deve desenvolver novas ferramentas que nos alcem a tal vantagem de comando, assim como evitem uma extinção auto-inflingida. Algum dia a tecnologia poderá nos permitir controlar aspectos da evolução, ou pode ficar provado que ela é a forma de governo definitiva, nos selecionando a todos. Talvez já estejamos desejando que não tivéssemos inteligência para brincar com armas. De qualquer maneira, a cultura que criamos é, de modo estranho, a mais poderosa ferramenta da evolução e sua nêmesis potencial, o ventre da natureza humana e talvez seu túmulo. Por nossas próprias mãos: é assim que evoluimos”.