sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Área de Broca

Gregory Hickok e David Poeppel têm um blog: Talking Brains, onde os dois comentam sobre neurociência e lingüística. Hickok é professor de Ciências Cognitivas e diretor do Center for Cognitive Neuroscience na University of California, at Irvine. Poeppel é professor de Lingüística e Biologia na University of Maryland, College Park.

No blog, um comentário de Poeppel: “A Batalha pela Região de Broca, por Yosef Grodzinsky e Andrea Santi, resume quatro posições sobre o papel da área de Broca, e conclui – quem teria pensado nisso? – que a ‘explicação do movimento sintático’ é a melhor explicação dada até hoje. Grodzinsky e Santi distinguem entre quatro posições: um modelo de ‘percepção de ação’ (defendido, por exemplo, por Arbib e Rizzolatti), um modelo de ‘memória de trabalho’ (Caplan), um modelo de ‘complexidade sintática’ (Goodlass, Friederici), e um modelo do ‘movimento sintático’ (defendido pelos autores). Acho que se pode implicar com as atribuições, mas em geral esta é uma caracterização mais ou menos justa das diversas posições. As duas primeiras são da variedade ‘geral’; as duas últimas são específicas da linguagem. Os autores examinam essas posições à luz de dados da correlação déficit-lesão e de evidências de neuroimagem, basicamente de fMRI. Eles argumentam, bem razoavelmente, que uma única explicação modelar provavelmente ficaria subespecificada. Dito isso, eles concluem que as evidências recentes são mais consistentes com um modelo de ‘movimento sintático’ da área de Broca”.

O artigo de Grodzinsky e Santi: Y GRODZINSKY, A SANTI (2008). The battle for Broca’s region. Trends in Cognitive Sciences DOI: 10.1016/j.tics.2008.09.001. O blog de Hickok e Poeppel: http://talkingbrains.blogspot.com/. Não deixe de explorar os textos dessa dupla (o blog teve início em maio/2007).

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Haydn - Sinfonias Completas

As 104 sinfonias de Joseph Haydn, executadas pela Austro-Hungarian Haydn Orchestra dirigida por Adam Fischer, receberam o grande prêmio ‘Rosette’ do Penguin Guide de música gravada. Esta orquestra foi formada especialmente para essa gravação, com os melhores instrumentistas da Filarmônica de Viena e da Orquestra Estatal Húngara. As sinfonias foram gravadas no Esterhazy Palace, Áustria, de 1987 a 2001.
Estando no site abaixo (Passacaille), veja lista dos links Rapidshare para fazer download em TXT file with links to RS, e descrição completa dos Cds (com a capa) em Track details here:.

Em: http://passacaille.blogspot.com/2008_01_13_archive.html
Nesse mesmo site encontram-se outras obras de Haydn: concertos completos para cravo (2 Cds), os 6 concertos para órgão (em duas partes para download), a completa dos Piano Trios (9 CDs), e As Estações (The Seasons – em duas partes para download).

Alfabetização

Um livro indispensável para a alfabetização bem sucedida: Preventing Reading Difficulties in Young Children (Prevenindo dificuldades de leitura em crianças pequenas), editado por Catherine E. Snow, M. Susan Burns, & Peg Griffin. É uma publicação de 1998 do Commitee on the Prevention of Reading Difficulties in Young Children, National Research Council (USA). Até hoje não se publicou nada parecido, e o PRD continua sendo o melhor livro sobre o assunto. Em: http://eric.ed.gov/ERICWebPortal/custom/portlets/recordDetails/detailmini.jsp?_nfpb=true&_&ERICExtSearch_SearchValue_0=ED416465&ERICExtSearch_SearchType_0=no&accno=ED416465

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Princípios da Evolução Cerebral

Princípios da evolução cerebral
Striedter, Georg . F. 2006
University of California, at Irvine
www.iu-bremen.de/imperia/md/content/groups/schools/ses/chilgetag/striedter_etal_bbs_2006.pdf

Pelo resumo (traduzido abaixo) já se vê a importância desse précis do livro de Striedter. Um précis, que é um resumo de um livro (quase sempre; pode ser um artigo muito grande), aborda as principais questões e os argumentos mais importantes do assunto estudado. Quando é bem feito, como é o caso aqui, cria a vontade de ler o original. O précis vem acompanhado de treze artigos que fazem uma apreciação do trabalho de Striedter. Seus autores são: Elizabeth Adkins-Regan (Cornell University, US), Robert A. Barton (University of Durham, UK), Barbara Clancy (University of Arkansas, US), Robin I. Dunbar (University of Liverpool, UK), Emmanuel Gilissen (Université Libre de Bruxelles, BE), Richard Granger (University of California, US), Claus C. Hilgetag (International University Bremen, DE), Juan Pascual-Leone (York University, CA), Robert R. Provine (University of Maryland, US), Antonino Raffone (University of Sunderland (UK) & Gary L. Brasei (University of Missouri-Columbia, US), Yassar Roudi & Alessandro Treves (Scuola Internazionale Superiore di Studi Avanzati, IT), Totu Shimizu (University of South Florida, US) e James Swain (Yale University, US). A seguir vem uma resposta de Striedter à apreciação dos colegas e a bibliografia.

“A evolução do cérebro é uma complexa rede de similaridades e diferenças das espécies, limitada por diversos princípios e regras. Esse livro é um exame detalhado desses princípios, utilizando dados de uma ampla quantidade de vertebrados, mas minimizando detalhes e terminologia técncos. Foi redigido para universitários de todos os níveis e cientistas experimentados que já sabem alguma coisa sobre ‘o cérebro’ mas querem entender melhor como evoluiram os diferentes cérebros. O tema central do livro é que as mudanças evolutivas no tamanho absoluto do cérebro tendem a se correlacionar com muitos outros aspectos da estrutura e do funcionamento do cérebro, incluindo o tamanho proporcional das regiões cerebrais individuais, sua complexidade e suas conexões neurais. Para explicar essas conexões, o livro explora regras do desenvolvimento cerebral e indaga qual é o impacto causado por modificações na estrutura cerebral sobre função e comportamento. Dois capítulos dedicam-se especificamente a como os cérebros de mamíferos divergiram de outros cérebros e como o Homo sapiens desenvolveu um cérebro grande e ‘especial’”.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

De onde vieram as palavras?

Where did Words Come from? A Linking Theory of Sound Symbolism and Natural Language Evolution (De onde vieram as palavras? Uma teoria ligando simbolismo sonoro e evolução da linguagem natural)
Jamie Reilly1, David Biun1, H. Wind Cowles2, & Jonathan E. Peelle3
1Departments of Psychology and Communicative Disorders
University of Florida, Gainesville, Florida 2Department of Linguistics University of Florida, Gainesville, Florida 3Cognition and Brain Sciences Unit Medical Research Council, Cambridge, UK.

Os autores acumulam argumentos em defesa de sua tese. Por exemplo: “Talvez a propriedade mais exigente do simbolismo sonoro seja a de que ele representa um caso raro de universal lingüístico. Muitas línguas derivacionalmente não relacionadas, por exemplo, afixam o som ‘ee’ a palavras a fim de expressar afeição ou para enfatizar distinções de tamanho. Similaridades fonéticas entre as línguas também existem para palavras que descrevem tamanho físico, predação/agressão, angularidade, massa e cor”. Eles apontam que esse debate começou com Platão (~360 AC), e segue até hoje.

Outro argumento que utilizam é a Lei de Hooke: “Uma explicação psicofisiológica para o simbolismo sonoro na linguagem é que o fenômeno reflete um mapeamento ecológico direto entre as informações perceptivas. Essa explicação, conhecida como a hipótese do código de freqüência, prediz que os humanos apresentam sensibilidade para a não arbitrariedade no mapeamento de informações acústicas sobre informações visuais. Essa correspondência sensorial é apreendida pela Lei de Hooke, que afirma que existe uma relação inversa entre a massa do objeto e a freqüência ressonante. Em um contexto amplo, a Lei de Hooke prediz que um objeto com massa relativa baixa (por exemplo, uma abelha – bee) ressoará com alta freqüência, ao passo que um objeto com maior massa relativa (por exemplo, um elefante – elephant) ressoará em uma freqüência acústica mais baixa”.

Na página 8, os autores exageram um pouco: “A natureza efêmera da linguagem não escrita torna particularmente difícil estudar suas origens; nós simplesmente não temos o equivalente a um registro fóssil para consulta. Entretanto, há muitas razões para se acreditar que a não arbitrariedade possa contribuir para a evolução da linguagem falada. Evidências de apoio a essa idéia derivam-se da evolução das línguas sinalizadas e dos sitemas caseiros de sinais. A recentemente criada Linguagem de Sinais da Nicarágua, por exemplo, modificou-se nas últimas três gerações de falantes: de icônica (isto é, gestos mimetizam objetos ou eventos reais) para arbitrariamente simbólica, espelhando uma mudança similar nas línguas de sinais bem estabelecidas. O análogo de uma língua falada em uma língua sinalizada icônica implicaria no mapeamento de propriedades acústicas dos sons vocais diretamente sobre as propriedades físicas dos objetos. Dessa maneira, o simbolismo sonoro reflete um elo direto entre ecologia e linguagem”.

Bem, julgue por si mesmo(a): A versão em PDF do artigo está em: http://precedings.nature.com/documents/2369/version/1

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Memória de Trabalho: Será o Novo QI?

Tracy P. Alloway (Durham University) e Ross G. Alloway (Edinburgh University) são os autores de Working memory: Is it the new IQ? O artigo (de 17 pgs) traz implicações (e indicações) muito interessantes relativas à memória de trabalho, como se pode ver na tradução do seu primeiro parágrafo, abaixo. Uma diferença encontrada pelos autores nos percentis é significativa, pelo que revela sobre variabilidade individual: “Igualmente notável é que existe um grau substancial de variabilidade em cada idade, como fica refletido na distância entre o 10º percentil e o 90º percentil para cada medida. Aos sete anos, por exemplo, o 10º percentil está perto da média para a amostra de quatro anos de idade, e o 90º percentil se aproxima do desempenho médio das crianças de dez anos. Assim, em uma turma média de 30 crianças, esperaríamos ver diferenças na capacidade de memória de trabalho correspondentes a seis anos de desenvolvimento normal, entre os indivíduos com os três maiores e os três menores escores individuais”. No arquivo PDF oferecido como prova do crime as tabelas e figuras estão nas páginas 13 e seguintes. O primeiro parágrafo do estudo:

“A memória de trabalho, nossa capacidade de processar e rememorar informações, está ligada a uma amplitude de atividades cognitivas que vão desde tarefas de raciocínio até a compreensão verbal. Também existem extensas evidências do relacionamento entre memória de trabalho e resultados de aprendizagem. Entretanto, alguns pesquisadores sugerem que a memória de trabalho é simplesmente um substituto do QI, e não faz nenhuma contribuição singular para os resultados da aprendizagem. Aqui, nós mostramos que as habilidades em memória de trabalho em crianças de 5 anos de idade eram o melhor preditor de resultados de leitura, soletramento e matemática seis anos depois. O QI, em contraste, era responsável por uma pequena porção da singular variância de habilidades em leitura e matemática, e não era um preditor significativo do desempenho no soletramento. Nossos resultados demonstram que a memória de trabalho não é um substituto do QI, ela antes representa uma habilidade cognitiva dissociável que tem ligações singulares com os resultados de aprendizagem. Criticamente, descobrimos que a memória de trabalho no início da educação formal é um preditor mais poderoso do sucesso escolar posterior do que o QI. Esse resultado tem importantes implicações para a educação, particularmente com respeito ao desenvolvimento de intervenção e de treinamento. Parece que devemos dirigir nossos esforços para o desenvolvimento de habilidades em memória de trabalho para que vejamos ganhos em aprendizagem”.
Em: http://precedings.nature.com/documents/2343/version/1

domingo, 26 de outubro de 2008

Estimulação Magnética Transcraniana

Veja interessante artigo sobre EMT (TMS – transcranial magnetic stimulation) na Revista Brasileira de Psiquiatria, v.28 n.1 São Paulo, março de 2006. Autores: Paulo Sérgio BoggioI; Felipe FregniII; Sérgio Paulo RigonattiIII; Marco Antônio MarcolinIII; Maria Teresa Araujo SilvaI
IDepartamento de Psicologia Experimental, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brasil IICenter for Non-Invasive Brain Stimulation, Beth Israel Deaconess Medical Center, Harvard Medical School, Boston, USA IIIInstituto de Psiquiatria, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brasil. Está em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462006000100010&lng=pt&nrm=iso

Aqui está o resumo da versão em português:
“Esta revisão discute o uso da estimulação magnética transcraniana como ferramenta de pesquisa das funções neuropsicológicas. A estimulação magnética transcraniana é uma técnica não-invasiva e praticamente indolor em seres humanos conscientes, baseada em um campo magnético variável. Tal técnica possibilita a geração, em pessoas saudáveis, de lesões temporárias virtuais ou, também, de aumento da atividade das áreas estimuladas, permitindo o estudo do comportamento e da cognição de maneira mais estruturada e precisa. Nesta revisão são apresentados trabalhos com estimulação magnética transcraniana nos quais foram estudados aspectos da linguagem, memória e baterias neuropsicológicas em protocolos de pesquisa clínica. Conclui-se que estudos com estimulação magnética transcraniana abrem novas perspectivas e possibilidades no campo da Neuropsicologia na medida em que fornecem elementos para o aprofundamento do conhecimento sobre as correlações entre cognição e córtex”.
Descritores: Neuropsicologia; Estimulação magnética; Manifestações neurocomportamentais; Tratamento; Modulação cortical

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

AUDEN & RILKE

Richard Anthony York, da University of Ulster, UK, escreveu um bom artigo sobre a influência de Rilke na obra de W. H. Auden. Essa influência foi mais forte em uma época circunscrita por York nas proximidades da Segunda Guerra Mundial, enfraquecendo depois, quando as diferenças entre os dois estilos poéticos se radicalizaram na mente de Auden. “(Em Muzot, retiro na Suiça onde Rilke se sentia bem) Rilke tinha encontrado um lugar para pertencer. Auden anseia pelo sentido de pertinência que Rilke havia encontrado. Grande parte da seqüência trata das idéias de possessão e localização, como na maior parte da obra de Rilke. Auden, nesse período, não se sente em casa como Rilke, em raros momentos de graça, se sente; a separação é a norma na experiência de Auden”. York também explica o simbolismo aparentemente objetivo de Rilke, que encontra eco em Auden, e que é chamado de dinggedicht (poesia das coisas). As coisas são utilizadas para expressarem poeticamente idéias abstratas. Quanto ao poeta imerso no mundo, “Auden reconhece a beleza da canção em termos bem rilkianos: ‘Deixe a canção remontar de novo e de novo/à procura da vida que floresce em um vaso ou em um rosto’. A solenidade do ritmo, o vaso, que sugere a estética clássica, a imagem do florescimento, que é um reconhecimento bem rilkiano da maneira como uma realidade pode se amalgamar com outra: todas essas coisas mostram como Auden aprecia a integridade do sentimento implícito na imersão de Rilke na totalidade. Mas Auden contrasta esse prazer estético com os males da história – a insegurança do novo Ocidente e a oligarquia das antigas famílias do Oriente. Essas famílias são como flores, elas modificaram a Terra; esses termos são estranhamente reminiscentes de uma estética simbolista, mas de fato são aplicados a um sistema social que ‘é prodigioso mas errado’. A questão é proposta precisamente: a moral não deve ser confundida com a estética, e não devemos permitir que a satisfação artística nos cegue para as realidades da moralidade e da política”. O estudo de York tem 15 páginas e merece ser lido com atenção. Foi publicado em 2000 na Revista Alicantina de Estudios Ingleses, e está em http://rua.ua.es/dspace/bitstream/10045/5358/1/RAEI_13.15.pdf

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Raichle: Correlatos eletrofisiológicos da arquitetura cerebral

Um artigo desse grupo chefiado por Marcus E. Raichle examina em profundidade a fisiologia dos sinais BOLD. Leitura boa para quem lida com o assunto profissionalmente, principalmente porque acabou de sair do forno (PNAS de 14 de outubro de 2008). Aqui está a tradução da apresentação.

Correlatos eletrofisiológicos da arquitetura cerebral funcional intrínseca de grande escala
Electrophysiological correlates of the brain’s intrinsic large-scale functional architecture

Biyu J. He*†, Abraham Z. Snyder*‡, John M. Zempel‡, Matthew D. Smyth§, and Marcus E. Raichle*†‡¶_
Departments of *Radiology, ‡Neurology, §Neurosurgery, ¶Anatomy and Neurobiology, and _Biomedical Engineering, Washington University School
of Medicine, St. Louis, MO 63110

Contribuido por Marcus E. Raichle em 04 de agosto de 2008.

Primeiramente, uma descrição do trabalho de Raichle: “Marcus E. Raichle, neurologista, é professor de Radiologia, Neurologia, Neurobiologia e Engenharia Biomédica na Washington University em St. Louis. É membro da National Academy of Sciences, de The Institute of Medicine e da American Academy of Arts and Sciences, e associado da American Association for the Advancement of Science. Ele e seus colegas fizeram notáveis contribuições para o estudo da função cerebral humana através do desenvolvimento e da utilização da tomografia por emissão de pósitrons (PET) e da imagem funcional por ressonância magnética (fMRI). Seu estudo fundamental (Nature, 1988) descreveu a primeira estratégia integrada para o projeto, execução e interpretação de imagens funcionais do cérebro. Representou 17 anos de trabalho desenvolvendo os componentes dessa estratégia (por exemplo, medições rápidas e repetidas do fluxo sangüíneo com a PET; localização estereotáxica; mediação de imagens; e uma estratégia de subtração cognitiva). Outro estudo seminal levou à descoberta de que o fluxo sangüíneo e a utilização de glicose se modificam mais do que o consumo de oxigênio no cérebro ativo (Science, 1988), fazendo com que o oxigênio do tecido variasse com a atividade cerebral. Esta descoberta forneceu a base fisiológica para o desenvolvimento subseqüente da fMRI e fez com que os pesquisadores reconsiderassem o dogma de que o cérebro usa a fosforilação oxidativa exclusivamente para abastecer suas atividades funcionais. Finalmente, procurando explicar decréscimos da atividade induzida por tarefa em imagens cerebrais funcionais, eles empregaram uma estratégia inovadora para definir uma linha fisiológica básica (PNAS, 2001; Nature Reviews Neuroscience, 2001). Isto levou ao conceito de um modo default de função cerebral e revigorou os estudos da atividade funcional intrínseca, uma questão abandonada por mais de um século. Uma importante faceta desse trabalho foi a descoberta de uma rede singular fronto-parietal no cérebro que se tornou a rede default. Essa rede é hoje o foco do trabalho sobre função cerebral na saúde e na doença em todo o mundo. Em resumo, o grupo de Raichle liderou consistentemente na definição das fronteiras da neurociência através do desenvolvimento e da utilização de técnicas de tomografia cerebral funcional”. (Texto em http://www.nil.wustl.edu/labs/raichle/ ).

A apresentação do artigo: “Flutuações espontâneas dos sinais BOLD (blood-oxygen-level-dependent - dependentes do nível de oxigênio no sangue) demonstram consistentes correlações temporais no interior de redes cerebrais de grandes escala associadas a diferentes funções. Aqui nós mostramos em humanos que os lentos potenciais corticais registrados com eletrocorticografia apresentam uma estrutura de correlação similar àquela das flutuações BOLD espontâneas no alerta, no sono de ondas baixas e no sono REM. A força da freqüência gama também apresentou uma estrutura similar de correlação, mas apenas durante o estado alerta e o sono REM. Nossos resultados fornecem uma ponte importante entre as redes cerebrais de grande escala prontamente reveladas através de sinais BOLD espontâneos e sua neurofisiologia básica”

O artigo tem excelentes ilustrações, grande bibiliografia (para um escrito de apenas 6 páginas), e está em http://www.pnas.org/content/105/41/16039.full?sid=8001c84e-0e4e-4478-a235-6ef64979314f

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Cognição e Cérebro

Pequeno artigo ilustrado abordando as bases cerebrais das diferenças cognitivas individuais. Traduzi o primeiro parágrafo para se ter uma idéia. Parece coisa boa.

Bases Cerebrais das Diferenças Individuais na Cognição
Brain Bases of Individual Differences in Cognition
Chantel S. Prat & Marcel Adam Just, Carnegie Mellon University

“As diferenças individuais na capacidade de executar processos cognitivos deve em última análise ser substanciada por diferenças no funcionamento neural. Durante a década passada, as pesquisas sobre a relação entre a cognição de nível superior e a função cerebral caracterizaram o pensamento como o funcionamento de uma rede cortical de grande escala. Além disso, as diferenças individuais nesse sistema cortical, que em essência é uma máquina biológica pensante, provavelmente dependem da disponibilidade e do desenvolvimento eficiente de recursos neurais finitos (Just & Varma, 2007). Dada essa perspectiva, nossas explorações da base cerebral das diferenças individuais na cognição se concentraram em características em nível de rede da função cerebral e na disponibilidade e no desenvolvimento de recursos. Nós propusemos que um conjunto de pelo menos três atributos corticais em nível de rede estão na base das diferenças individuais no desempenho cognitivo (Newman & Just, 2005; Prat, Keller, & Just, 2007), a saber: 1. uso eficiente de recursos neurais; 2. grande sincronização (coordenação) entre os centros corticais; e 3. adaptação de redes corticais em face de demandas que se modificam. Abaixo, esboçamos métodos para se quantificar a sincronização da eficiência neural, e adaptação, e descrevemos como eles se relacionam com as diferenças cognitivas individuais entre adultos neurotípicos. Também propomos elos potenciais entre comportamento-cérebro para alguns atributos de processamento mental (velocidade e inteligência fluida), nos quais os indivíduos podem variar”.
Para ler: http://www.apa.org/SCIENCE/psa/prat.html

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Royal Concertgebouw Orchestra

Até dia 24, dez sinfonias para download grátis no site da BBC, Radio 4. Não consta o nome do(s) maestro(s).

Franz Schubert - Symphony no. 8 'Unfinished' 15-10-08
Ludwig van Beethoven - Symphony no. 2 16-10-08
Felix Mendelssohn - Symphony no. 4 'Italian' 17-10-08
César Franck - Symphony in D minor 18-10-08
Gustav Mahler - Symphony no. 1 19-10-08
Antonin Dvorák - Symphony no. 8 20-10-08
Camille Saint-Saëns - Symphony no. 3 'Organ' 21-10-08
Jean Sibelius - Symphony no. 2 22-10-08
Anton Bruckner - Symphony no. 8 23-10-08
Johannes Brahms - Symphony no. 2 24-10-08

Em http://kco.radio4.nl/index.php?lang=en

Linguagem - artefato darwiniano de adaptação

O leitor vai perceber logo, ao ler esse trecho abaixo (que traduzi da introdução), que o artigo de Ghosh é bom e bem escrito. Não esquecer que os Precedings da Nature estão disponíveis gratuitamente a partir do site. Em http://precedings.nature.com/documents/1375/version/1 , escolha .doc ou .pdf.

Para cada um, sua própria língua: Seremos todos filhos de Darwin?
To every man his own language: Are we all Darwin’s children?

Shantanu Ghosh
Indian Institute of Technology Delhi
Behavioral and Cognitive Sciences Lab
Department of Humanities and Social Sciences
Indian Institute of Technology Delhi

Introdução

Para um biólogo, a capacidade singular de nossa espécie para usar linguagem é um artefato darwiniano de adaptação, mediado por um circuito neural dedicado e exibindo um padrão consistente de desenvolvimento (Fisher & Marcus, 2006). O estudo da linguagem em uma perspectiva evolutiva (Christiansen & Kirby, 2003; Deacon, 1997; Jarrard & Geschwind, 1971; Lenneberg, 1967; Pinker & Bloom, 1990; Lieberman, 1984; Mufwene, 2002; Nowak, Komarova & Niyogi, 2001) procura explicar como a mente humana se desenvolveu (Lashley, 1949; Hauser, Chomsky & Fitch, 2002; Pinker & Jackendoff, 2005) para sustentar a linguagem. Entretanto, falta-nos até agora uma definição ampla da linguagem. O fenômeno da linguagem não só deve dar assistência precisa em padrões de mapeamento perceptivo tornados cognitivos através de modos de input visuais, auditivos ou outros sobre um espaço mental – um processo complexo que envolve diferentes subprocessos que permitem a extração de informações a partir de indícios acústicos de rápida evolução e os convertendo em palavras com significado – como também designar papéis temáticos para as palavras, integrá-las semanticamente e fornecer a ênfase estrutural à ideia /ao conceito que conduz à compreensão de um número potencialmente infinito de sentenças em um contexto pragmático mais amplo. Por um lado, a descrição de linguagem por um neurocientista pode ilustrar as contribuições neurais para a produção de fala que envolve programas motores que permitem a conversão de ‘lemas’ fonológicos em dinâmica articulatória (Levelt, 1989) e assinaturas espaço-temporais (Indefrey & Levelt, 2004); por outro lado, o foco de um lingüista sobre os processos de compreensão decretaria que a descrição não só deve explicar como o ouvinte decodifica os sinais acústicos como também estabelecer relações relevantes de som-significado e acessar tanto o ‘léxico’ mental como mecanismos sintáticos, convertendo assim os sinais em estruturas com significado (Chomsky, 1965). Portanto, o fenômeno da linguagem é complexo demais para ser entendido simplesmente aplicando-se as leis fundamentais da organização acústica, dos processos neurais de percepção, do controle dos movimentos ou da modelagem lógica.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A calma dessa gente...

O astrônomo Duncan H. Forgan, da Scottish Universities Physics Alliance (SUPA), do Institute for Astronomy, University of Edinburgh, Royal Observatory Edinburgh, escreveu um estudo sobre vida e inteligência extraterrestres e chegou à conclusão (manipulando a famosa equação de Drake) que existem 37.964,97 planetas na Via Láctea que se candidatam. O estudo é de 13 de outubro de 2008 e foi publicado no http://br.arxiv.org/ Então tá.

OMNIGLOT

O Omniglot é um site dedicado às línguas de todo o mundo e assuntos conexos. Pelo índice da letra ‘L’ já dá para ver:
L Ladino Lanna Languedoc Lantsa Lak Lakota Lao Lam-Lammarok Languan larenti tergush Latin (alphabet) Latin (language) Latinised Futhark (Medieval Runes) Latvian Laz Lebanese Lepcha Lezgi Lhemvrin eicrýs Library Limbu Lingala Ling'amon' Lingua Franca Nova Lingua Ignota Lines and Circles alphabet Linear A Linear B Linephon Lingua Franca Nova Lipen Søerjehn Liron Lisu Lithuanian Livonian Lojban Loma Lombard Lóngwén Lontara Lovecraftian Low German/Low Saxon Lower Sorbian Luganda Luo Luxembourgish Lycian Lydian

Curiosidades como Braille for Chinese, Standard Galactic Alphabet, Tolkien's scripts, o Color Alphabet, de Christian Faur, o Gnomish e outros alfabetos imaginários: Ancients' Alphabet, Ath, Atlantean, Aurek-Besh, Cirth, Daedric, D'ni, Dragon Runes, Futurama Alien Alphabet, Gargish, Hylian syllabary (Old), Hylian syllabary (Modern), Hylian alphabet, Klingon, Kryptonian, Marain, Romulan, Sarati, Standard Galactic Alphabet, Tenctonese, Tengwar, Utopian, Visitor, Zentlardy, e talvez o mais enigmático dos alfabetos, o 12480 Alphanumeric System.

Diz o autor do site, Simon Ager: “O Omniglot é um guia de sistemas de escrita e de línguas do mundo. Também traz dicas para aprender línguas, artigos relacionados às línguas, uma coleção bastante grande de frases úteis em muitas línguas, textos multilíngües, uma livraria multilíngüe e uma coleção sempre crescente de links para recursos lingüísticos. Você encontra um guia para os conteúdos do Omniglot no Sitemap, e uma lista de todos os sistemas de escrita e línguas do site no A-Z Index”. Para quem gosta do assunto, ou aqueles que necessitam de informações seguras, esse é o local: www.omniglot.com .

domingo, 19 de outubro de 2008

NEIL YOUNG - 44 CDs

Os fãs podem completar a discoteca: o site Sarajevo-x oferece 44 CDs do homem, entre eles After the Gold Rush, American Stars and Bars, Broken Arrow, Comes a Time, a coletânea Decade (2 CDs), Freedom, o famoso Harvest (1972), Live Rust, Silver and Gold, Time Faces Away, seu Unplugged, Year of the Horse, Zuma e todo o resto. Aparentemente todos os links funcionam bem. Aproveite que v. está por lá, e explore o site: tem muita coisa boa. O endereço para os discos de Young é:
http://www.sarajevo-x.com/forum/viewtopic.php?f=9&t=38421&st=0&sk=t&sd=a&start=175

sábado, 18 de outubro de 2008

NEUROCIÊNCIA - Livro-Texto

No já citado PDF Search Engine (www.pdf-search-engine.com/) é só digitar ‘purves’ (sem as aspas) e fazer o download desse livro-texto de neurociência: Neuroscience, 3ª edição (832 pgs), de 2004. Ilustradíssimo, em cores. Editado por Dale Purves e seis colegas. Aparentemente o arquivo só pode ser lido pelo PDF Reader da Adobe versão 7 (ou superiores), que está disponível grátis em www.brothersoft.com/adobe-acrobat-reader-download-43143.html, por exemplo. O índice abaixo dá uma idéia da amplitude desse livro-texto.

Índice Resumido (pelos editores; a seguir, no livro, vem o índice completo)

1. Studying the Nervous Systems of Humans and Other Animals 1

UNIT I NEURAL SIGNALING
2. Electrical Signals of Nerve Cells 31
3. Voltage-Dependent Membrane Permeability 47
4. Channels and Transporters 69
5. Synaptic Transmission 93
6. Neurotransmitters, Receptors, and Their Effects 129
7. Molecular Signaling within Neurons 165
UNIT II SENSATION AND SENSORY PROCESSING
8. The Somatic Sensory System 189
9. Pain 209
10. Vision: The Eye 229
11. Central Visual Pathways 259
12. The Auditory System 283
13. The Vestibular System 315
14. The Chemical Senses 337
UNIT III MOVEMENT AND ITS CENTRAL CONTROL
15. Lower Motor Neuron Circuits and Motor Control 371
16. Upper Motor Neuron Control of the Brainstem and Spinal Cord 393
17. Modulation of Movement by the Basal Ganglia 417
18. Modulation of Movement by the Cerebellum 435
19. Eye Movements and Sensory Motor Integration 453
20. The Visceral Motor System 469
UNIT IV THE CHANGING BRAIN
21. Early Brain Development 501
22. Construction of Neural Circuits 521
23. Modification of Brain Circuits as a Result of Experience 557
24. Plasticity of Mature Synapses and Circuits 575
UNIT V COMPLEX BRAIN FUNCTIONS
25. The Association Cortices 613
26. Language and Speech 637
27. Sleep and Wakefulness 659
28. Emotions 687
29. Sex, Sexuality, and the Brain 711
30. Memory 733
APPENDIX A THE BRAINSTEM AND CRANIAL NERVES 755
APPENDIX B VASCULAR SUPPLY, THE MENINGES, AND THE VENTRICULAR SYSTEM 763

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Música Clássica no Rádio

O site Classical Live Online Radio, em http://classicalwebcast.com tem três partes: emissoras da Europa (51), dos Estados Unidos, incluindo Canadá (77), e Resto do Mundo, também incluindo o Canadá (22). De acordo com a velocidade de sua conexão é possível fazer o streaming (ouvir em tempo real, sem interrupções para alimentar o buffer de memória). Os ouvintes devem prestar atenção nos fusos horários se quiserem ouvir alguma coisa especial que estiver na programação das emissoras: no site http://www.timeanddate.com/worldclock/ estão as principais cidades do mundo. Um exemplo de boa programação é a Filodiffusione, da Itália: além de trazer a listagem do que vai ser apresentado (clicar no balãozinho com um ‘i’ azul), não tem anúncios, bate-papo, notícia, só música. Diz também a descrição da emissora: “O ‘Auditorium’ do Canal V transmite música clássica e deve muito de sua singularidade ao fato de que tem acesso aos Arquivos Históricos da RAI, que são um tesouro de milhares de gravações de música de câmara, orquestral, e de ópera”. Veja (isto é, ouça) também a rádio Klara, da Bélgica, que tem um non stop stream chamado Klara Continuo. A Radio Bach, da Polônia, só toca o Mestre. A XLNC1 Classical, do México (no Resto do Mundo), transmite ‘Os 400 maiores hits dos últimos 400 anos’. Também traz a programação no balãozinho ‘i’. No dia 29 de maio coloquei outro artigo sobre rádio na internet, mas o Classical Live Online Radio parece uma opção melhor.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Van Morrison & Site de Blues

O site Lágrima Psicodélica exagerou: colocou toda a discografia de Van Morrison, de Astral Weeks (1968) até Keep it Simple (2008) para os fãs. É só fazer o download. Tem Tupelo Honey (1971), Irish Heartbeats (1988), Van Morrison and Friends (1992) e todo o resto. Em http://lagrimapsicodelica.blogspot.com

Um dos melhores blogs de Blues da internet... é grego. Não se preocupe: está em inglês (se vier em grego, tem um link tradutor para o inglês – uma bandeirinha inglesa lá pelo meio da página). É o Blues-Rock, que fica em http://bandit59.blogspot.com/ Visitando, não deixe de procurar Johnny Winter, The Hamsters, Kenny Wayne Shepherd, Roy Buchanan, Taj Mahal, George Thorogood, Stevie Ray Vaughan, Rob Tognoni, Jay Jesse Johnson, Albert King, Jeff Pitchell, Jay Gordon, Otis Spann, Papa John Creach, John Mayall, Buddy Guy, John Hammond, John Lee Hooker, Otis Rush, Shane Henry e muitos outros. O Blues-Rock traz muito mais de mil CDs para download. Muita gente da qual nunca se ouviu falar, mas nessa turma deve ter alguém muito bom, é claro. Quando estiver lá, procure o artista na caixinha de pesquisa no canto superior esquerdo, porque muitos têm mais de um CD disponível.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Síndrome do Encarceramento

O que é a síndrome do encarceramento (locked-in syndrome)?
"É uma raro distúrbio neurológico caracterizado por uma paralisia completa dos músculos voluntários em todas as partes do corpo, exceto aqueles que controlam o movimento dos olhos. Pode ser resultado de lesão cerebral traumática, doenças do sistema circulatório, doenças que destróem a bainha de mielina que envolve as células nervosas, ou superdose de medicamentos. Os indivíduos com a síndrome estão conscientes e podem pensar e raciocinar, mas são incapazes de falar ou se mover. Esse distúrbio deixa os indivíduos completamente mudos e paralisados. A comunicação pode ser possível através de movimentos de piscar dos olhos". Em http://www.ninds.nih.gov/disorders/lockedinsyndrome/lockedinsyndrome.htm.

"Pseudomutismo acinético
Este quadro, descrito com o nome de locked-in syndrome, tem recebido várias denominações (estado de encarceramento, pseudocoma, síndrome de bloqueio, síndrome do cativeiro, síndrome do homem fechado sobre si mesmo, síndrome pontina ventral). Geral­mente é determinado por um infarto na porção ventral da ponte com interrupção das vias corticonucleares e corticoespinhais, evento que determina uma paralisia dos quatro membros (tetraplegia), da língua (anartria) e dos movimentos de lateralidade ocular (este último aspecto nem sempre está presente). Em virtude do Sistema Reticular Ativador Ascendente (SRAA) ficar poupado, a consciência perceptiva permanece intacta ou pouco alterada e a reatividade aos estímulos nociceptivos exagerada. No mutismo acinético, embora o paciente possa permanecer com os olhos abertos, tudo se passa como se o meio-ambiente houvesse perdido para ele todo o significado, enquanto na locked-in syndrome a consciência geralmente está íntegra. Esta condição geralmente permite ao paciente uma comunicação com os circunstantes (através do piscamento, por exemplo), chegan­do alguns pacientes a adquirir uma capacidade muito elaborada para se relacionar com o seu examinador. Como os movimentos oculares verticais acham-se preservados, o paciente pode dirigir o olhar em direção a um estímulo sonoro inespecífico ou quando chamado pelo nome. Outro dado propedêutico que permite o diagnóstico diferencial entre as duas entidades é a reatividade à dor, presente na locked-in e geralmente ausente no mutismo acinético. O traçado eletroencefalográfico costuma mostrar na locked-in, duran­te a maior parte do tempo, um ritmo alfa ou teta reativo aos estí­mulos de alerta.
Embora esta síndrome seja geralmente determinada por infarto ventral da ponte, foi demonstrado que o infarto de 2/3 externos de ambos os pés pedunculares (por trombose da porção rostral da artéria basilar) pode também conduzir à mesma situação, com integridade da consciência". Em
http://www.redepsi.com.br/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=865

Daí vem a notícia (The Frontal Cortex, de 06.10.2008):
“Estou certo de que se Dante tivesse conhecido a síndrome do encarceramento ele teria reescrito o capítulo do Inferno devotado ao nono círculo. Na revista Esquire, Joshua Foer tem um excelente perfil de Erik Ramsey, que sofreu uma lesão devastadora no tronco cerebral, deixando-o inteiramente paralisado. (Os únicos músculos que Erik podia controlar conscientemente eram os que moviam suas órbitas oculares para cima e para baixo.
Há histórias de pessoas ‘encarceradas’ por diversos anos antes que alguém note a pessoa inteiramente consciente que se esconde naquele corpo paralisado. Em 1966, uma mulher de 32 anos chamada Julia Tavalaro ficou ‘encarcerada’ depois de uma hemorragia cerebral e foi mandada para o Goldwater Memorial Hospital em Roosevelt Island, New York, onde o pessoal começou a chamá-la de ‘o vegetal’. Apenas seis anos depois é que um membro da família notou que ela tentava rir depois de ter ouvido uma piada pornográfica. Imediatamente ela foi ensinada a se comunicar com o piscar de olhos e tornou-se poeta e escritora. Morreu em 2003 com 68 anos, nunca tendo falado durante 37 anos”.
Em http://scienceblogs.com/cortex/

domingo, 12 de outubro de 2008

Beethoven, por Emil Gilels

Sete sonatas de Beethoven, em dois CDs, com o grande pianista russo Gilels. A descrição das faixas, no site, está meio confusa, e a da Amazon Music também, mas elas estão lá. . Uma pequena biografia do pianista por Bryce Morrison (do Grove Music Online):

Gilels, Emil (Grigor′yevich)
“(n. Odessa, 19 Out 1916; f. Moscou, 14 Out 1985). Pianista russo. Começou seus estudos com Yakov Tkach e Bertha Ringold no Odessa Institute of Music and Drama e deu seu primeiro recital com 12 anos de idade. Em 1931 venceu a Competição Nacional da Ucrânia e no ano seguinte tocou para Artur Rubinstein, que expressou espanto diante de suas habilidades de virtuose. Entre 1935 e 1937 estudou com Heinrich Neuhaus em Moscou, e em 1936 ganhou o segundo lugar da International Competition em Viena. Seu primeiro prêmio no Concours Eugène Ysaÿe, 1938, em Bruxelas, trouxe proeminência internacional e lançou sua carreira, que foi atrapalhada pelo início de Segunda Guerra. (...) Em 1945 formou um trio com Leonid Kogan (seu cunhado) e Rostropovich, e em 1947 surgiu como solista fora da URSS pela primeira vez, numa excursão por Itália, Escandinávia, Suiça, França e Bélgica. Sua estréia americana foi em 1955, quando tocou o primeiro concerto de Tchaikovsky com a Philadelphia Orchestra regida por Eugene Ormandy, repetindo esse concerto com Bernstein em New York. Também fez um aclamadíssimo recital no Carnegie Hall. Sua estréia na Inglaterra em 1959 também recebeu os mesmos elogios. Por volta de 1968 ele fazia tournées por nove ou dez meses em cada ano. Em 1981, Gilels sofreu um ataque cardíaco durante um recital no Concertgebouw de Amsterdã, e a partir daí sua saúde declinou progressivamente.
As gravações de Gilels, muitas delas pirateadas, mapeiam um desenvolvimento de impulsividade inicial e de bravura tempestuosa para leituras não menos emocionantes mas imbuidas de maior sutileza, delicadeza e concentração interior. (...) Ele gravou suas leituras imponentes e intensamente poéticas dos concertos de Beethoven e Brahms diversas vezes, e tinha virtualmente completado a série das sonatas de Beethoven antes de falecer. Sua técnica magistral e suas sonoridades ricas e suntuosas estão bem evidenciadas em sua gravação de 1955 do Terceiro Concerto de Rachmaninoff, enquanto que sua leitura muito tensa da Quarta Sonata de Scriabin, gravada em um recital em Moscou, traz o tipo de ardor que ele se permitia quando tocava para platéias russas”.
Em
http://pqpbach.opensadorselvagem.org/

sábado, 11 de outubro de 2008

Como Evoluimos

Benjamin Phelan escreveu um artigo na revista eletrônica Seed (www.seedmagazine.com/news/2008/10/how_we_evolve_1.php), abordando o trabalho de Hawks e colegas sobre a evolução da espécie humana. Trata-se de uma teoria relativamente nova que leva em consideração os efeitos da cultura humana em sua evolução genética (por exemplo, os efeitos da invenção da agricultura há uns dez mil anos). O site brasileiro Chi Vó Non Pó, em http://lablogatorios.com.br/chivononpo/2008/01/01/a-evolucao-da-especie-humana/ traz uma tradução do site Eurekalert que aborda o trabalho da equipe que está investigando o assunto. Cita duas publicações importantes que também falam do assunto: (”Culture speeds up Human Evolution” do Scientific American, e “Modern times causing human evolution to accelerate“, do New Scientist), mas o leitor também deve ler o artigo de Phelan na Seed, por ser mais recente e informado. E bem escrito... Alguns dos principais itens desse artigo:

“Invocando a antiga demografia através dos registros antropológicos, Hawks acredita que identificou toda a evolução adaptativa que ele detectou: uma explosão na população humana global mais ou menos coincidente com a revolução agrícola de uns 10.000 anos atrás. Inventamos a agricultura, começamos a comer alimentos diferentes e começamos a morar em cidades. Nossa população aumentou muito, nosso mundo mudou, e nosso DNA ainda está tentando alcançar isso tudo.
Spender Wells, diretor do Genographic Project, uma tentativa de reconstruir os padrões de migração humana fazendo amostragens de DNA da população mundial, estudou extensivamente a transição da humanidade para a agricultura. O resultado de Hawks não foi surpresa para ele. ‘As maiores modificações em nosso estilo de vida enquanto espécie ocorreram nos últimos 10.000 anos’, diz Wells. ‘Passamos o último milhão de anos de evolução, mais ou menos, vivendo como caçadores-coletores, caçando animais nas savanas da África ou recolhendo moluscos de concha na costa, gradualmente nos movendo até a Eurásia. Então, repentinamente, nos últimos 10.000 anos, nos tornamos uma espécie que se estabeleceu. A diversidade de fontes de alimentação cai direto de umas 100 da dieta dos caçadores-coletores para 10, na dieta média da agricultura. E então, é claro, crescem as densidades de população e aparecem as doenças’”.

“O registro molecular, com toda sua espantosa prolixidade, é uma babel de As, Cs, Gs e Ts, é ambíguo. Mas os crânios fossilizados de nossa linhagem símia parecem contar uma história bem clara, com respeito a uma característica, pelo menos. Os últimos poucos milhões anos testemunharam um aumento continuado, lento e perseverante no volume dos cérebros de nossa linhagem e, presumivelmente, na sofisticação de seus conteúdos. A alta inteligência está para os grandes macacos como a asa está para as aves.
Mas onde ficamos nesse processo? Será que a inteligência ainda está sendo selecionada? A parcimônia e o utilitarismo nos levariam a responder afirmativamente; as coisas atualmente, de modo geral, estão como eram no passado. Mas do jeito como a evolução funciona, através da qual mutações surgem em uma pessoa e lentamente se disseminam através de uma população, torna difícil enquadrar essa pergunta, pois se a inteligência ainda estiver sendo selecionada, isso poderia significar que algumas populações nesse momento são um pouco mais inteligentes do que outras – que, talvez, certas etnias sejam mais inteligentes do que outras. No ocidente, especulações sobre esse assunto quase imediatamente fazem do especulador um eugenista ou um racista”.

“As espécies são transitórias. Não há dúvida de que chegará o dia em que os humanos não estarão mais sobre a Terra. Mas a transitoriedade à qual estamos sujeitos tem duas faces. A primeira é a extinção. À diferença de nossos antepassados, temos consciência de como é tênue nossa posição de topo na cadeia alimentar. Ainda precisa ser visto se nosso conhecimento foi adquirido tarde demais para ser útil. A segunda face da retirada eventual do Homo sapiens da história é a possibilidade mais esperançosa de que possamos evoluir até sermos nossos próprios sucessores. À diferença de nossos antepassados, estamos conscientes da evolução, o que modifica nossas relações com ela, pelo menos um pouco, porque ainda somos criaturas naturais. Continuamos a evoluir, face à fome, à doença e ao ecossistema em mudança, mas nosso habitat virtual de cultura permite que nos tornemos tanto sujeitos da evolução como codiretores conscientes dela. ‘Está ocorrendo’, diz Ehrlich. ‘Não há dúvida. O que assusta são as perguntas que temos que nos fazer’.
A ciência deve desenvolver novas ferramentas que nos alcem a tal vantagem de comando, assim como evitem uma extinção auto-inflingida. Algum dia a tecnologia poderá nos permitir controlar aspectos da evolução, ou pode ficar provado que ela é a forma de governo definitiva, nos selecionando a todos. Talvez já estejamos desejando que não tivéssemos inteligência para brincar com armas. De qualquer maneira, a cultura que criamos é, de modo estranho, a mais poderosa ferramenta da evolução e sua nêmesis potencial, o ventre da natureza humana e talvez seu túmulo. Por nossas próprias mãos: é assim que evoluimos”.

J. S. Bach - Obra Completa

BACH – Obra Completa

No blog Branle de Champagne, em http://passacaille.blogspot.com/ temos a obra completa de Bach para gravar. Não é sempre que aparece uma oferta dessas. São 153 Cds em 12 volumes, mais um CD bônus com a história das execuções da St. Matthew’s. A obra ocupa 13 Gb, em MP3 de 192 kbps, e traz (todas e todos, por certo) cantatas sacras e seculares, motetos, corais, canções, obras para órgão, teclado, cordas, orquestra, e música de câmara. E etc...
O mesmo site, logo a seguir, traz também as obras primas de Haendel em 40 CDs em ZIP (~3.15Gb). Haja hard drive...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Stanislas Dehaene - Senso Numérico

Em 1997, o matemático e neurocientista francês Stanislas Dehaene publicou seu livro “The Number Sense: How the Mind Creates Mathematics” (O Senso Numérico: Como a Mente Cria a Matemática) pela Editora Oxford, com 274 páginas. Em 2001, ele publicou no journal Mind and Language um précis do livro (em 26 páginas), “Précis of Number Sense”, que está em www.unicog.org/publications/Dehaene_PrecisNumberSense.pdf. A Editora Oxford publicou a seguinte introdução ao livro: “Dehaene, um matemático transformado em neuropsicólogo cognitivo, começa com a reveladora descoberta de que os animais, incluindo ratos, pombos, guaxinins e chimpanzés, podem desempenhar cálculos matemáticos simples. Ele prossegue descrevendo engenhosos experimentos que demonstram que os bebês humanos também têm um senso numérico rudimentar. Dehaene mostra que as habilidades dos animais e dos bebês em lidar com números pequenos e com cálculos aproximados persistem em adultos humanos e têm forte influência na maneira como representamos os números e fazemos cálculos mais complexos em períodos posteriores da vida. De acordo com Dehaene, foi a invenção dos sistemas simbólicos para escrever e falar sobre numerais que nos iniciou na escalada para a matemática superior. Ele traça a história cultural dos números e mostra como essa evolução cultural reflete as limitações que nossa arquitetura cerebral impõe sobre aprendizagem e memória. Dehaene também explora as habilidades singulares dos idiotas sábios e dos gênios da matemática, perguntando se explicações cognitivas simples podem ser encontradas para esses talentos excepcionais. Em uma seção final, são descritos os substratos cerebrais da aritmética. Encontramos pessoas cujas lesões cerebrais fazem com que percam aspectos altamente específicos de suas habilidades numéricas – de fato, um homem que acha que dois mais dois são três! Esses dados sobre lesões combinam bem com resultados de técnicas modernas de tomografia (PET, MRI e EEG), para auxiliar a identificar os circuitos cerebrais que codificam números. Das diferenças entre os sexos até os prós e contras das calculadoreas eletrônicas, a adequação da metáfora cérebro-computador, ou as interações entre nossas representações de espaço e de número, Dehaene chega a muitas conclusões provocativas que intrigarão todos aqueles interessados na matemática ou na mente”.

Downloaded at Birth (“Baixado” ao Nascer) New York Times, 8 de fevereiro de 1998
Um estudo diz que os humanos podem contar antes que possam falar.
Por Steven Rose
Steven Rose é neurobiólogo, professor de biologia e diretor do Brain and Behaviour Group (The Open University), autor de Lifelines: Biology Beyond Determinism; The Making Of Memory, co-autor de Not in Your Genes e editor de From Brains To Consciousness.
"Você sabia que 111 x 111 = 12.321, enquanto que 1.111 x 1.111 = 1.234.321? Você entende porque? Você se importa? Se essas simetrias o deixam curioso, você já está apaixonado por números, e vai ficar encantado com o livro de Stanislas Dehaene. Se, como o matemático hindu Ramanujan, em seu leito de morte, você puder achar o número 1.729 ‘cativante’ porque ‘é o menor número que pode ser expressado de duas maneiras diferentes com uma soma de dois cubos (1 ao cubo + 12 ao cubo e 10 ao cubo + 9 ao cubo), você ou é um gênio da matemática ou profundamente autista. Se tais devaneios numéricos o deixam frio, você deveria ler “O Senso Numérico” por causa de suas ricas idéias em assuntos tão diversos como a apresentação cuneiforme dos números, por que a teoria dos estágios de Jean Piaget na aprendizagem de uma criança está errada, e para descobrir as regiões do cérebro envolvidas no senso numérico. Indo contra a teoria computacional da consciência, o físico e matemático Sir Roger Penrose afirma que os humanos têm uma compreensão intuitiva da matemática, mesmo de teoremas matemáticos. Dehaene, um matemático transformado em neuropsicólogo cognitivo, compartilha das suspeitas de Penrose sobre a afirmativa de que a mente e o cérebro são supercomputadores, mas onde Penrose argumenta com uma afirmativa, como se a intuição matemática fosse auto-evidente, Dehaene constrói sua tese a partir de ricas e variadas de evidências – culturais, psicológicas e biológicas. Ao mesmo tempo que Penrose acredita que a matemática é alguma coisa que está ‘lá fora’ na natureza, Dehaene, como indica seu subtítulo, vê o senso numérico e tudo que o acompanha como algo criado pela mente e pelo cérebro. Demonstrou-se experimentalmente que muitos animais não humanos têm um senso numérico. Os mamíferos e as aves podem distinguir um, dois, três, quatro, ou muitos. Isso aparentemente surpreende alguns psicólogos experimentais. Como biólogo, não vejo por que deveria; se você não pode distinguir e classificar os objetos à sua volta, é improvável que sobreviva por tempo suficiente para se reproduzir. Mesmo organismos unicelulares têm relógios internos que estimam a passagem do tempo. E os genes que fazem parte dessa máquina celular de contagem nas moscas de fruta têm seus homólogos em mamíferos. O próprio cérebro se comunica através de códigos numéricos. As células nervosas (neurônios) transportam mensagens através de pulsos elétricos que passam pela fibra nervosa (o axônio) até que alcançam a junção com o próximo neurônio ou um efetor como um músculo. Ali elas liberam pequenos pacotes de transmissor químico que disparam a resposta da próxima célula. Essa resposta depende da freqüência dos pulsos elétricos e da quantidade de transmissor liberada. Assim, contar é uma característica embutida no trabalho do cérebro – muito mais fundamental do que a linguagem. Nem é surpreendente que bebês muito jovens possam chegar a um ponto: registrando interesse quando um único objeto é subitamente substituido por dois ou dois por três. A teoria de Piaget do desenvolvimento cognitivo, que por boa parte desse século dominou a prática educacional da Europa, afirmava que as crianças só atingem o ‘estágio’ da compreensão numérica muito mais tarde. Dehaene mostra que Piaget estava enganado. É auto-evidente o fato de que a capacidade de manipular símbolos numéricos depende de processos cerebrais. Mas até recentemente a única maneira de explorar tais processos era estudando as circunstâncias nas quais as pessoas perdiam seu senso numérico como resultado de um dano cerebral. Dehaene discute alguns indivíduos que ele próprio examinou. Um deles, por exemplo, pode prontamente se lembrar de cadeias de números como 1, 2, 3, 4 mas não consegue somar 2 + 2 ou decidir se 6 é maior ou menor do que 8. Os neurologistas descrevem isso como ‘acalculia’, e procuram por falhas no cérebro que possam tê-la causado.Mas há um problema com tal frenologia. Suponha que você remova um transistor de um rádio, e como resultado ele emita um uivo em lugar de uma sinfonia; você não pode concluir que o transistor funciona como um supressor de uivos. Antes, você está mensurando a capacidade do restante da circuitagem sem o transistor. Igualmente ao tentar inferir a localização da função cerebral estudando cérebros danificados. Novos métodos de imagem cerebral – tomografias PET, imagens de ressonância magnética funcional e magnetoencefalografia (que mede diminutas flutuações dos campos magnéticos em volta da cabeça) – fornecem janelas não invasivas para o cérebro em funcionamento, não danificado, e Dehaene descreve alguns experimentos (não há muitos livros que incluam como ilustração uma tomografia cerebral do autor) para identificar regiões do cérebro envolvidas em cálculos. Muitas regiões diferentes estão engajadas mesmo nos cálculos mais simples. O cérebro é um sistema integrado, coerente, não uma coleção de módulos independentes.Então, talvez as habilidades aritméticas sejam mesmo inatas, e exista um ‘instinto numérico’ para combinar com o que os psicólogos chamam de ‘instinto da linguagem’? É aqui que a compreensão muito mais rica de Dehaene do entrelaçamento de cultura e biologia ajuda-o a evitar a armadilha determinista. Um senso numérico, demonstra ele, é formado fundamentalmente pela cultura e pelas tecnologias, as tecnologias cruciais sendo a invenção de palavras faladas e de símbolos escritos para os números. Hoje achamos natural a lógica dos numerais arábicos e, se lidarmos bastante com computadores, os símbolos binários de códigos de programação. Mas o sistema numérico arábico, incluindo o essencial zero, foi uma invenção. Com os (algarismos) arábicos, a adição, subtração, multiplicação e divisão ficam imediatamente aparentes. Mas tente subtrair o numeral romano XIV de LXXII ou, ainda pior, multiplicar os dois. Até o nome que damos a nossos números influenciam nossa compreensão deles (compare o quatre-vingt francês e o inglês 80 (eighty) quanto à facilidade de manipulação). Dehaene indica que a lógica lingüística superior da terminologia numérica chinesa permite a superior velocidade de cálculo mental apresentada por falantes chineses com relação àqueles que utilizam línguas européias. Tomografias cerebrais de pessoas nascidas em culturas matemáticas diferentes podem ajudar a revelar o que é fixo e o que é plástico em termos de desenvolvimento quanto ao nosso maquinário neuronal.Nosso senso e nosso uso dos números podem se apoiar nas propriedades básicas dos cérebros e até dos neurônios, mas eles se desenvolvem através do intercâmbio inextricável do biológico edo social. Então, e quanto aos idiotas sábios, os que calculam rápido como um raio e os gênios matemáticos sem tutoria, como Ramanujan? Dados tempo e esforço suficientes, afirma Dehaene, quase todo mundo pode fazer essas coisas, e ele mostra como. Se isso vai levar você também a achar 1.729 um número ‘cativante’, entretanto, tenho minhas dúvidas".

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Gustav Mahler - Sinfonia No. 5

O assunto é a Sinfonia nº 5 de Mahler, com a Filarmônica de Viena regida por Claudio Abbado. No site já referido aqui (05.10.2008), Sic Transit Opera Mundi. Os cinco movimentos (que cabem em apenas um CD) são:
01. Trauermarsch (In gemessenem Schritt. Streng. Wie ein Kondukt - Plötzlich schneller. Leidenschaftlich. Wild - Tempo I)
02. Stürmisch bewegt. Mit größter Vehemenz - Bedeutend langsamer - Tempo I subito
03. Scherzo (Kräftig, nicht zu schnell)
04. Adagietto (Sehr langsam)
05. Rondo-Finale (Allegro)

Tradução de comentários cheios de sanidade feitos por Janet E. Bedell, jornalista e crítica musical de Baltimore, em 2007:
“Os cinco movimentos da sinfonia estão agrupados em uma estrutura mais ampla de três seções. Os movimentos 01 e 02, obsecados com a morte e que compartilham bastante do mesmo material temático, formam a Parte I. A parte II é o Scherzo, o movimento mais longo da obra. A parte III compreende o Adagietto como introdução lenta e o Rondo-Finale.
O movimento 01 é uma marcha fúnebre – um dos tropos favoritos de Mahler (NT – tropo é uma intercalação de fragmentos em melodias; as 'citações' de uma música dentro de outra, por exemplo, são tropos) – no sombrio tom de Do sustenido menor; suas diversas seções estão ligadas pela incendiária fanfarra de trompete-solo que faz a abertura. Após a fanfarra, as cordas em baixo registro introduzem o tema principal, um lamento estóico por sobre o fio abafado do cortejo. Quando a fanfarra volta pela terceira vez, é imediatamente engolfada por uma explosão selvagem de agonia que vem dos violinos na primeira seção do Trio. Mais tarde um segundo Trio faz uma abordagem emocional diferente, com música bem vienense e consoladora nas cordas. Mas aqui também chega-se a um clímax de dor que Mahler chama de Klagend (Lamentação). A música afunda em exaustão enquanto uma frágil flauta sussurra a fanfarra.
Marcado como 'Stürmisch bewegt' – 'com movimento tempestuoso' – o movimento 02 é o raivoso desenvolvimento dos temas e das emoções amplamente sob controle na marcha. As cordas abrem em um paroxismo selvagem de tristeza, sobrecarregadas por uma luta harmônica e rítmica que parece uma intensificação da música do primeiro Trio da marcha. Então os cellos introduzem um estado de espírito contrastante, um maravilhoso tema alongado que expande a música consoladora do segundo Trio da marcha. Por cima deles, madeiras em tom alto tremem e gritam um importante motivo: um soluçante salto melódico de nona caindo de volta para a oitava. Esses temas e estados de espírito batalham pelo controle até que um exaltado coral de metais no brilhante tom de Re maior parece proclamar o triunfo. Mas é cedo demais, e a música logo bruxuleia em gritos das madeiras.
A sinfonia agora passa por uma mudança esquizofrênica de estado de espírito, da tragédia para a comédia. Este despreocupado Scherzo dançante em Re maior – a meta harmônica da sinfonia – foi a primeira música que Mahler criou para a obra, e retrata os prazeres pastorais descuidados de seu retiro em Maiernigg. A própria música do scherzo está no estilo da dança campesina austríaca conhecida como Ländler, mas sua ingenuidade entra em contradição com o sofisticado ritmo cruzado do compositor. É seguido por um primeiro Trio, uma voz de valsa vienense para as cordas, e um segundo Trio, no qual a trompa principal – que tem um importante papel solo durante todo esse movimento – cria uma música suave e onírica junto com as cordas e as madeiras. Procure ouvir a obsessiva passagem dos chamados da trompa e as respostas distantes como se viessem através de um vale da montanha. Cooke chama esse Scherzo de ‘a dança da vida, evocando toda a agitação de uma existência vital, em oposição à concentração na inevitabilidade da morte das marchas fúnebres’. Durante o restante da sinfonia, Mahler escolhe a vida ao invés da morte.
Na Parte II, o belo Adagietto para cordas e harpa serve como lenta introdução ao Finale. Quase sempre em excertos, sua beleza sensual fala por si mesma. Escrito no primeiro verão de seu casamento, ele é, se não uma canção de amor para Alma (NT – nome da esposa), certamente uma expressão da paz de seu retiro onde compunha. Sua música lembra a canção contemporânea de Rückert, 'Ich bin der Welt abhanden gekommen' ('Estou perdido para o mundo'), que termina com as palavras: 'Vivo sozinho em meu próprio paraíso, em meu amor, em minha canção'.
O ebuliente Rondo-Finale no novo tom de Re maior segue-se imediatamente. As madeiras solo introduzem uma coleção de temas semelhantes a canções folclóricas que irão impelir o movimento, e então as trompas desenvolvem o suave refrão do rondó. Nessa época, Mahler estava arrebatado pela feitiçaria contrapontística de J. S. Bach, e esse finale transborda em passagens de exuberante fugato. Quando as trompas e os violinos em baixo registro introduzem o tema da segunda seção do fugato, podemos não reconhecer imediatamente a música, mas as cordas logo a confirmam como o tema de saudade do Adagietto, agora mais veloz e dançante juntamente com o restante. Os temas são combinados em diversão contrapontística até que os metais proclamem em grande estilo um coral similar àquele prematuro do movimento 02. Agora é a hora certa de celebrar o triunfo da vida sobre a morte, quando a música irrompe para uma alegre conclusão”. (Original de Janet E. Bedell em www.bsomusic.org/res/multimedia/92807MahlerSymNo5.pdf).

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Medicina Evolutiva

O(a) colunista do blog Moneduloides (http://www.moneduloides.com/?p=193) está entusiasmado(a). Eis aqui parte de sua introdução ao artigo de Eaton et al. sobre medicina evolutiva (e depois minha tradução do abstract do original):

"Dr. Darwin, mulher de medicina: os fundamentos da medicina evolutiva (Parte I)
04 Outubro 2008
[Esta é uma série em diversas partes que tratará dos fundamentos e do estado atual das pesquisas no campo em recente desenvolvimento da medicina evolutiva]
”Um artigo fantástico foi publicado no journal Preventive Medicine em 2002 (do jeito que está a medicina, poderia ser do período paleolítico... Eu sei...), intitulado ‘Promoção Evolutiva da Saúde’. Os autores, uma misturada de médicos, antropólogos, biólogos e zoólogos, revisam aqui uma questão de potencial importância para a medicina: pode a biologia evolutiva, através de disciplinas como a paleoantropologia e a genética evolutiva, dar-nos informações medicamente relevantes sobre os humanos modernos que possam por sua vez ser aplicadas em um contexto médico?
O que precisamos saber sobre essa questão é que os autores não estão tentando aplicar a biologia evolutiva a questões que não devem ser respondidas pela biologia evolutiva. Por exemplo, se eu cortar meu dedo com uma faca afiada e precisar de auxílio médico de emergência, a última coisa que vou querer é um médico de pronto-socorro que tente analisar a razão evolutiva pela qual meu dedo está cortado, ou o que Darwin diria a ele ou ela sobre como tratar de mim”.


Evolutionary Health Promotion (Promoção Evolutiva de Saúde)
S. Boyd Eaton M.D.a, 1, Beverly I. Strassman Ph.D.b, Randolph M. Nesse M.D.c, James V. Neel M.D., Ph.D.d, 2, Paul W. Ewald Ph.D.e, George C. Williams Ph.D.f, Alan B. Weder M.D.g, Stanley B. Eaton, III M.A.h, Staffan Lindeberg M.D., Ph.D.i, Melvin J. Konner M.D., Ph.D.j, Iver Mysterud M.Sc.k and Loren Cordain Ph.D.l
a Department of Anthropology and Department of Radiology, Emory University, 2887 Howell Mill Road NW, Atlanta, Georgia, 30327 b Department of Anthropology, University of Michigan, 1020 LSA Building, Ann Arbor, Michigan, 48109-0618 c 5057 Institute for Social Research, University of Michigan, P.O. Box 1248, Ann Arbor, Michigan, 48106 d Department of Human Genetics, University of Michigan Medical School, Medical Science II M4708, Ann Arbor, Michigan, 48109-0618 e Department of Biology, Amherst College, Amherst, Massachusetts, 01002-5000 f Division of Biological Sciences, Department of Ecology and Evolution, State University of New York, Stony Brook, New York, 11794-5245 g Division of Hypertension, Department of Internal Medicine, University of Michigan Medical Center, Ann Arbor, Michigan, 48109-0356 h Science Department, Charlotte Lockhart Academy, Kennesaw, Georgia, 30144 i Primary Health Care Center, P.O. Box 144, S-275 23, Sjobo, Sweden j Department of Anthropology and Department of Neurology, Emory University, 1064 Clifton Road NE, Atlanta, Georgia, 30307 k Division of Zoology, Department of Biology, University of Oslo, P.O. Box 1050, Blindern, N-0316, Oslo, Norway l Department of Exercise and Sports Science, Colorado State University, Fort Collins, Colorado, 80323
S Eaton. (2002) Evolutionary Health Promotion. Preventive Medicine, 34(2), 109-118. DOI: 10.1006/pmed.2001.0876

"Abstract/Resumo
As promessas da promoção da saúde são enormes, mas seu potencial ainda está longe de sua realização. A expectativa de vida cresce muito mais em consonância com a prosperidade econômica e a engenharia sanitarista do que com avanços estritamente médicos. Realizações notáveis do século passado – a incidência decrescente de infecções epidêmicas, cáries dentais e câncer de estômago – se devem a virologistas, dentistas e (provavelmente) mais à refrigeração (NT – de alimentos, provavelmente) do que aos médicos. A prevenção fala em uníssono contra o abuso do tabaco, mas em muitas outras áreas achados contraditórios de pesquisas geraram ceticismo e mesmo indiferença entre o público em geral, para o qual as recomendações são guiadas. As falhas da promoção de saúde podem refletir a ausência de uma estrutura conceitual geral, uma deficiência que pode ser corrigida adotando-se premissas evolutivas: (1) o genoma humano foi selecionado em ambientes do passado bem diferentes daqueles do presente. (2) A evolução cultural procede hoje rápido demais para uma acomodação genética – resultando na dissociação entre nossos genes e nossas vidas. (3) Esse desencontro entre biologia e estilo de vida favorece o desenvolvimento de doenças degenerativas. Esses princípios poderiam pôr ao corrente uma agenda de pesquisas e, em última análise, de políticas públicas: (a) caracterizar melhor as diferenças entre padrões de vida modernos e antigos. (b) Identificar quais deles afetam o desenvolvimento de doenças. (c) Integrar dados epidemiológicos, mecânicos e genéticos com os princípios evolutivos para criar uma formulação generalizante sobre a qual se poderiam basear recomendações persuasivas, eficazes e efetivas".

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Marilyn Jager Adams & Phonics

Em seu livro Beginning to Read, MJA “reconcilia o debate que tem dividido os teóricos durante décadas sobre a maneira ‘certa’ de ajudar as crianças a aprender a ler. Valendo-se de uma cadeia produtiva de pesquisas sobre a natureza e o desenvolvimento da proficiência em leitura, Adams mostra aos educadores que eles não precisam ficar presos ao dilema phonics versus ensinar-para-o-significado. Ela propõe que a phonics pode funcionar juntamente com a abordagem da whole-language para ensinar a ler, e fornece um tratamento integrado do conhecimento e do processo envolvidos na leitura capacitada, das questões que cercam sua aquisição e das implicações para a pedagogia da leitura” (texto da contracapa do livro). No posfácio, Dorothy Strickland (Professor no Teachers College, Columbia University, e Bernice Cullinan, Professor Emeritus da New York University, dizem: “Resumindo, Marilyn Jager Adams ocupou-se com um corpo surpeendentemente grande de dados de pesquisas, descreveu-o com estilo e graça, e destilou ativamente a essência dos textos”.

Trago para vocês a tradução que fiz do capítulo 15 do livro, The Proper Place of Phonics. Está em http://docs.google.com/Doc?id=df3wz635_25jx7j23cp

domingo, 5 de outubro de 2008

Bach - Battle - Perlman - Arias, e etc.

O disco de Kathleen Battle e Itzhak Perlman (com a Orchestra of St. Luke’s – John Nelson, e Anthony Newman no cravo e órgão) traz treze árias de J. S. Bach para soprano e violino. Battle é uma solista do primeiro time, todos sabem disso, e na minha opinião Perlman é o melhor violinista do mundo hoje. O disco, gravação DDD da Deutsche Gramophon (1992), traz onze faixas com árias das Cantatas e duas da Missa em Si Menor. Não é necessário falar muito desse disco: é simplesmente o fino. Temos que falar do site, Sic Transit Opera Mundi, dedicado a cantores e cantoras, principalmente. Há óperas completas (algumas em mais de uma versão), obras orquestrais, discos de Maria Callas, Angela Gheorghiu, Anna Netrebko, Magdalena Kozevá, Cecilia Bartoli, Kiri Te Kanawa, Anne Sofie von Otter, Jessye Norman, e muitas outras, além de dezenas de tenores, barítonos e baixos, e duetos imperdíveis – por exemplo, Edita Gruberova & o contratenor japonês Yoshikazu Mera. E o site tem uma preciosidade: Narciso Yepes tocando Villa-Lobos: Concerto para Violão e Pequena Orquestra, os 12 Estudos e os 5 Prelúdios. Em http://sictransitoperamundi.blogspot.com.

O etc. fica por conta do site Classical Music Heaven (escrito em russo, inglês e espanhol), onde podem ser encontradas as 555 sonatas de Scarlatti com Scott Ross. O americano S. Ross (1951-1989), cravista extraordinaire, teve uma carreira brilhante e era considerado o melhor de todos. Começou a estudar piano e órgão aos seis anos, e com treze mudou-se para a França, matriculando-se no ano seguinte no Conservatório de Nice. Segundo o crítico francês Prouxl, seu segredo era o rigor, a exatidão. Para gravar as sonatas de Scarlatti trabalhou de junho de 1984 a setembro de 1985. O disco foi editado pela gravadora Erato. Gravou também obras de Bach, Rameau, Haendel, Couperin, Soler e outros, tanto no cravo como no órgão. As 555 sonatas de Scarlatti ocupam 35 CDs, que o site dividiu em 26 downloads, mais um para o livreto. Veja também nesse site os Bach Projects (7), onde temos coisas do arco da velha. Versões diversas das Missas, das Paixões, das Partitas e Tocatas, dos Oratórios... Três integrais das Cantatas (Gardner, Suzuki e Koopman), e seis versões dos Concertos de Brandenburgo (Suzuki, AAMB, Orchestra of the Age of Enlightenment, Pinnock, Koopman e MAK-Goebel). Não deixe de pesquisar tudo mais que esse ótimo site tem a oferecer. E para chegar onde quiser chegar, você também pode usar o ‘search’ do site na janela de pesquisa em cima à esquerda, na página inicial (também presente em qualquer das outras). O endereço é http://classicalheaven.blogspot.com.

sábado, 4 de outubro de 2008

A Relação Mente-Corpo

Mental States as Macrostates Emerging from EEG Dynamics (Os estados mentais enquanto macroestados que emergem da dinâmica do EEG), artigo (outubro 2008) de Carsten Allefeld ( Institut für Grenzgebiete der Psychologie und Psychohygiene, Alemanha), Harald Atmanspacher (University of Freiburg, 1999-presente. C.G. Jung-Institut Zurich, 2003-presente. e Jiří Wackermann (Institut für Grenzgebiete der Psychologie und Psychohygiene, Alemanha), é um texto de primeira qualidade. Convincente, embasado matematicamente, pleno de senso-comum e trazendo idéias interessantes, e bem ilustrado, é uma das melhores versões da relação mente-corpo que já li. A matemática envolvida é de nível superior – fora da minha competência – mas pode ser deixada de lado (com perdas importantes, é claro). Eis a tradução do abstract/resumo:

“As correlações psicofisiológicas formam a base de várias disciplinas, mas a natureza da relação entre mente e corpo ainda não foi inteiramente compreendida. Nós propomos que se entenda que o mental ‘emerge’ dos processos neurais no sentido preciso que a psicologia e a fisiologia dão duas descrições diferentes para o mesmo sistema. Expressando as duas descrições em termos de estados de sistema mais grosseiros e mais finos, ambas as descrições podem ser igualmente adequadas se a mais grosseira preservar a possibilidade de se obter uma regra dinâmica para o sistema. Para testar a validade empírica de nossa abordagem, descrevemos um algoritmo para se obter uma forma específica de tal caráter grosseiro a partir de dados empíricos. Após ilustrar o método usando um sistema simulado, aplicamos o algoritmo a dados eletroencefalográficos, onde somos capazes de identificar estados que correspondam a estados mentais do sujeito”.

Logo no início da Introdução vêem-se idéias que me levaram a chamar o texto de convincente e pleno de senso comum: “A existência de correlações entre os fenômenos psicológicos e fisiológicos, especialmente os processos cerebrais, é o fato empírico básico das pesquisas psicofisiológicas. As relações entre os processos mentais, incluindo modos de consciência, e aqueles que ocorrem em seu ‘substrato’ físico, o sistema nervoso central, geralmente são consideradas naturais. Elas formam a base para o uso de drogas no tratamento de distúrbios mentais em psiquiatria, são aplicadas como ferramenta de pesquisas para lançar luz sobre detalhes de mecanismos psicológicos, e a explicação das estruturas neurais básicas das formas de funcionamento mental compõe a área de estudo da neurociência cognitiva. Entretanto, ainda não está claro qual é esta natureza das correlações observadas e o que exatamente deve ser concebido como um correlato neural de um fenômeno psicológico”.

Para aquilo que o artigo propõe, o último parágrafo das Conclusões (mais bem entendido por quem ler o artigo todo, é claro), é perfeito: “Finalmente, queremos indicar que o conceito de macroestados meta-estáveis na aplicação a dados eletroencefalográficos é similar à noção de ‘microestados funcionais cerebrais’ introduzida por Lehmann e colegas, que são definidos como breves períodos de tempo durante os quais a distribuição espacial do campo elétrico do cérebro permanece relativamente estável (Lehmann, 1971; Lehmann et al., 1987). As transições entre tais estados são caracterizadas por uma mudança abrupta da topografia de campo, permitindo decompor o fluxo dos dados do EEG em segmentos da ordem de magnitude de 10-100 ms de duração, que geralmente podem ser agrupados em um número menor (< 10) de classes. Note, no entanto, que a partir de nossa perspectiva a ‘análise de microestado’ resulta em uma descrição grosseira da atividade elétrica do cérebro, isto é, em uma definição de macroestados”.

Em http://br.arxiv.org/PS_cache/arxiv/pdf/0810/0810.0479v1.pdf

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Linguagem e Cognição

Mehler, Pallier e Christophe escreveram um capítulo do livro “Cognitive and Biological Aspects (Vol. 1 Proceedings of the XXVIth International Congress of Psychology)” chamado Language and Cognition, que apesar de estar comemorando dez anos ainda traz insights e teorizações completamente válidos. O parágrafo a seguir apresenta um pouco da tônica desse trabalho:

“Chomsky (por exemplo, 1975) propôs que o estudo de uma função cognitiva complexa como a linguagem deveria ser conduzido da mesma maneira que aquele de qualquer outro órgão corporal complexo. O 'órgão' da linguagem, entretanto, é bastante especial de duas maneiras. Primeira, ele é produtivo, mais do que estereotipado, e os falantes podem gerar um número infinitamente grande de sentenças que outros falantes podem entender. Segunda, ele depende crucialmente dos primeiros inputs de linguagem: os falantes podem aprender inglês, chinês, francês ou qualquer outra das mais ou menos quatro mil línguas naturais registradas. Este input nem precisa ser de fala, já que crianças expostas a uma linguagem de sinais aprendem-na tão prontamente como qualquer língua oral, apesar da mesma se basear mais num loop motor-visual do que num loop auditivo-local. A união destes dois fatos torna a linguagem uma mistura muito especial de limites e de plasticidade. Como todos os adultos de uma comunidade lingüística alcançam a mesma competência gramatical a despeito de terem sido expostos a sentenças diferentes, deve haver limites quanto ao que pode ser uma língua humana. Entretanto, há muitas diferenças entre as línguas, e apenas o que é compartilhado por todas as línguas do mundo pode ser uma limitação inata (é projeto da Gramática Universal descobrir o conjunto de propriedades compartilhadas por todas as línguas do mundo). Qualquer coisa que difira entre as línguas tem que ser aprendida pelas crianças a partir do input lingüístico que recebem”.

Minha tradução desse artigo está em http://docs.google.com/Doc?id=df3wz635_23dbwqrfgg

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Fontes de Informações da Internet

Melissa Kahney, em seu artigo “50 of the Most Dependable Web Resources for University Students” (50 fontes de informação/recursos da Web mais dignas(os) de confiança para estudantes universitários), no site Edu Choices - e não apenas para universitários, é claro, é bastante útil para o público em geral - (http://educhoices.org/articles/50_of_the_Most_Dependable_Web_Resources_for_University_Students.html) lista sites imperdíveis. Traz uma descrição sucinta de cada um e o link de acesso. A lista está dividida em sites e aplicativos (25 de cada). Alguns sites são de interesse quase exclusivo do público americano (por exemplo, o do U. S. Census Bureau, o IBGE de lá), mas muitos são bastante úteis em qualquer situação. Por exemplo, o Questia (“Facilmente a maior biblioteca online do mundo, o Questia tem 67.000 livros com texto completo, assim como 1,5 milhão de artigos. Os usuários do site também podem usufruir de um dicionário virtual, uma enciclopédia e um thesaurus.”). Na parte dos aplicativos (Apps), muitos sites dedicados a trabalhos de grupo e à facilitação de pesquisas na Web, além da elaboração de bibliografias, sempre um tormento. Talvez estrela dos Apps seja o site Calc Result, para quem necessita de calculadoras (“Este site não tem uma aparência muito agradável, mas traz notáveis calculadoras que podem ser usadas para o cálculo de tudo, desde equações matemáticas a gradientes de cor. Novas calculadoras estão constantemente sendo adicionadas.”). Esta parte de Apps também apresenta o excelente aplicativo grátis Google Docs, uma boa pedida para armazenamento de textos. Se o seu inglês é fraco, não se deixe intimidar. A maior parte do inglês necessário é de nível médio, tratando de instruções e orientações.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Terapia Cognitiva, Depressão e Correlatos Neurobiológicos

No site Research Blogging (http://researchblogging.org/) – não deixe de freqüentá-lo: é o fino - está mencionado o artigo de Aaron Beck, pai da Terapia Cognitiva, sobre a evolução do modelo cognitivo da depressão e seus correlatos neurobiológicos. Vou traduzir o abstract/resumo, e espero que vocês tenham acesso ao American Journal of Psychiatry para ler o texto completo. Diz o texto de introdução do Research Blogging:

Aaron Beck, considerado o pai da Terapia Cognitiva, é um psiquiatra americano e professor emérito no Departamento de Psiquiatria da University of Pennsylvania. Ele é presidente do Beck Institute for Cognitive Therapy and Research, que é dirigido por sua filha Judith S. Beck, Ph.D. Ele é conhecido por sua pesquisa em psicoterapia, psicopatologia, suicídio e psicometria, e pelo Beck Depression Inventory (BDI – Inventário Beck de Depressão), um dos instrumentos mais amplamente utilizados para se mensurar a severidade da depressão. Aos 87 anos, o homem ainda publica, adicionando material ao seu trabalho pioneiro sobre o modelo cognitivo da depressão.

Os dados do artigo e a tradução do abstract estão a seguir:

Am J Psychiatry 2008; 165:969-977 (published online July 15, 2008; doi: 10.1176/appi.ajp.2008.08050721) © 2008 American Psychiatric Association

The Evolution of the Cognitive Model of Depression and Its Neurobiological Correlates (A Evolução do Modelo Cognitivo de Depressão e seus Correlatos Neurobiológicos)

Aaron T. Beck, M.D.

Tradução: Pedro Lourenço Gomes

Ainda que o modelo cognitivo da depressão tenha evoluido apreciavelmente desde sua primeira formulação, há 40 anos, a interação potencial entre fatores genéticos, neuroquímicos e cognitivos só foi demonstrada recentemente. Combinar achados da genética comportamental e da neurociência cognitiva com as pesquisas acumuladas sobre o modelo cognitivo abre novas oportunidades para uma pesquisa integrada. Valendo-se de avanços na psicologia cognitiva, da personalidade e social, assim como de observações clínicas, expansões do modelo cognitivo original incorporaram, em sucessivos estágios, pensamentos automáticos, distorções cognitivas, crenças disfuncionais e propensões de processamento de informações. O modelo de desenvolvimento identificou experiências traumáticas precoces e a formação de crenças disfuncionais como eventos predisponentes, e estressores congruentes da vida adulta como fatores de precipitação. Hoje é possível delinear possíveis vias genéticas e neuroquímicas que interagem com, ou são paralelas a, variáveis cognitivas. Uma amygdala hipersensível está associada tanto a um polimorfismo genético como a um padrão de propensões cognitivas negativas e crenças disfuncionais, todos constituindo fatores de risco para a depressão. Além disso, a combinação de uma amygdala hiperativa e regiões préfrontais hipoativas está associada a uma avaliação cognitiva diminuida e à ocorrência de depressão. Os polimorfismos genéticos também estão envolvidos na reação aumentada ao estresse e à hipercortisolemia no desenvolvimento de depressão – provavelmente mediado por distorções cognitivas. Sugiro que um estudo amplo dos correlatos tanto psicológicos como biológicos da depressão pode fornecer uma nova compreensão desse debilitante distúrbio.