quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A neurobiologia da anedonia

O blog do Dr. Schock aborda o assunto do título, mas de maneira insatisfatória (quantitativamente falando). Porque o artigo original abordado é cravejado de pérolas históricas, terapêuticas e científicas, além de ser muito bem escrito e pesquisado. Trata-se de:

Treadway, M., & Zald, D. (2011). Reconsidering anhedonia in depression: Lessons from translational neuroscience Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 35 (3), 537-555 DOI: 10.1016/j.neubiorev.2010.06.006, que também pode ser lido AQUI (tendo em mente que trata-se de um draft, e não da publicação final).

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O que é neurociência 'traduzível' ('translational') pode ser esclarecido abaixo, mas aqui vai uma prévia - é traduzir do e para o paciente com MDD (major depressive disorder - distúrbio depressivo grave) dados específicos de e para animais e humanos-controles (não depressivos).

Translational Research in Depression and Anxiety
Irina Antonijevic
, MD, PhD
February 17, 2007
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A primeira parte da Introdução trata principalmente da dificuldade em diagnosticar precisamente o MDD, enfatizando alguns tipos de heterogeneidade atrapalhantes. Na segunda parte, dizem os autores:

2. Estudos diagnósticos e comportamentais da anedonia na depressão
Em sua definição original, Theodule Ribot descreveu a anedonia como a incapacidade de experimentar prazer (Ribot, 1896). Entretanto, através dos múltiplos domínios das ciências sociais e neurais ficou claro que embutidos na idéia de prazer estão múltiplos constructos, incluindo reforço, desejo, utilidade prevista, prazer subjetivo, utilidade experienciada, utilidade lembrada e assim por diante, e cada um dos quais descreve um aspecto singular do processamento de recompensa. A atenção a estas distinções é importante na avaliação da auto-análise e de estudos laboratoriais da anedonia e constructos relacionaods (por exemplo, afeto positivo) na depressão. Nesta seção nós resumimos as diferentes maneiras como a anedonia tem sido mensurada no MDD. Notavelmente, nós mostramos que os trabalhos empíricos se concentraram muito em explorar a experiência hedonista na depressão, enquanto que estudos sobre motivação estão relativamente ausentes.


Depois de estudar as interações entre estruturas cerebrais diversas e substâncias neuroquímicas (principalmente a dopamina), os autores advogam uma nova maneira de encarar a anedonia ("Enquanto constructo multifacetado, a anedonia requer uma caracterização mais completa do que aquela dada pelo DSM ou por autoanálises"), e clamam por modernidade:

"Quando Ribot definiu a anedonia pela primeira vez, o campo da neurociência estava em sua infância. Nos 113 anos seguintes, a compreensão dos sistemas neurobiológicos envolvidos no processamento de recompensas cresceu exponencialmente, enquanto que o constructo da anedonia permanece relativamente inalterado. Acreditamos que para que se cumpra a promessa de sofisticados métodos neurobiológicos de pesquisa, devemos adotar mensurações comportamentais e definições clínicas igualmente sofisticadas".