(À esquerda, John Brockman, Editor and Publisher da Edge)
Em 17 de outubro, a Edge organizou um de seus encontros (com jantar...) do Reality Club no Hotel Ritz, em Paris, para que o neurocientista Stanislas Dehaene expusesse sua nova teoria sobre como a consciência ocorre no cérebro, para um grupo de cientistas e pensadores. A teoria, baseada nos últimos doze anos de suas pesquisas com imagem cerebral, chama-se espaço de trabalho neuronal global (global neuronal workspace). À mesa, entre outros, estão Emmanuel Dupoux, Dan Sperber, Philip Pettit, Lionel Naccache, Patrick Cavanagh e a patroa do homem, Ghislaine Dehaene-Lambertz (do CNRS, neuropediatra e pesquisadora do desenvolvimento cerebral infantil).
Stanislas Dehaene abre uma caixa e nos mostra um modelo em resina de seu próprio cérebro. Com a naturalidade de quem sabe das coisas, ele nos diz:
"Como estamos na Edge, a idéia não é falar sobre o que existe e o que já foi publicado, e sim apresentar novos desenvolvimentos. Então, gostaria de lhes falar sobre um projeto de pesquisa no qual estamos trabalhando por quase dez anos e que agora está se desenvolvendo a plena velocidade - a tentativa de tratar da tão debatida questão dos mecanismos biológicos da consciência".
A primeira impressão, de um Hamlet neurocientífico que a qualquer momento vai filosofar sobre ontologia humana, se desfaz instantaneamente. "Hoje podemos trabalhar com dados reais, ao invés de falar sobre o assunto em termos filosóficos". Também fica evidente que Dehaene se inscreve na tradição humanista (em sentido amplo) dos grandes cientistas: em diversas oportunidades ele remete os benefícios de suas pesquisas para o bem-estar de pessoas com lesão cerebral, em estado vegetativo de coma profundo, etc. "Uma das principais motivações de minhas pesquisas é estar eventualmente em posição de aplicá-la a pacientes que sofreram lesão cerebral e parecem ter perdido a capacidade de manter um fluxo de estados conscientes. Em tais pacientes, o problema da consciência é particularmente aparente e vital - literalmente, uma questão de vida-ou-morte. Eles podem estar em coma, em estados vegetativos, ou no chamado estado minimamente consciente. Em alguns casos, nem sabemos se estão conscientes ou não. Podem estar trancados em si mesmos - totalmente conscientes, mas incapazes de se comunicar, uma condição terrível descrita vividamente por Jean-Louis Bauby em "The Diving Bell and the Butterfly". É com esses pacientes em mente que precisamos tratar do problema da consciência. Em última análise, é um problema extremamente prático. As teorias são boas, mas temos que encontrar maneiras que nos permitam voltar à clínica".
O vídeo tem 80 minutos, e dispomos da transcrição da exposição inicial de Dehaene, que dura uns 40 minutos. Essa transcrição, que não é verbatim, possivelmente foi editada pelo próprio Dehaene, como pode ser verificado, e ficou muito boa (et pour cause). Achei que é contraproducente ver o vídeo e ler a transcrição ao mesmo tempo: v. acaba tentando sincronizar texto e imagem/som, e perde o conteúdo. Talvez seja melhor ler tudo primeiro, e depois que a idéia geral já está na cuca, ouvir Dehaene falando seu inglês fluente e claro. Achei deveras interessante que ele finalize sua fala citando o fluxo de consciência de William James.
Não deixe de ler os comentários de Daniel Kahneman, Sam Harris, George Dyson, Steven Pinker, Donald Hoffman e Arnold Trehub ao final de tudo.
Vem junto com o site:
STANISLAS DEHAENE is a Professor at the Collège de France and Chair of Experimental Cognitive Psychology. His research focuses on the cerebral bases of specifically human cognitive functions such as language, calculation, and reasoning. His work centers on the cognitive neuropsychology of language and reading, and his main scientific contributions include the study of the organization of the cerebral system for number processing.
Stanislas Dehaene abre uma caixa e nos mostra um modelo em resina de seu próprio cérebro. Com a naturalidade de quem sabe das coisas, ele nos diz:
"Como estamos na Edge, a idéia não é falar sobre o que existe e o que já foi publicado, e sim apresentar novos desenvolvimentos. Então, gostaria de lhes falar sobre um projeto de pesquisa no qual estamos trabalhando por quase dez anos e que agora está se desenvolvendo a plena velocidade - a tentativa de tratar da tão debatida questão dos mecanismos biológicos da consciência".
A primeira impressão, de um Hamlet neurocientífico que a qualquer momento vai filosofar sobre ontologia humana, se desfaz instantaneamente. "Hoje podemos trabalhar com dados reais, ao invés de falar sobre o assunto em termos filosóficos". Também fica evidente que Dehaene se inscreve na tradição humanista (em sentido amplo) dos grandes cientistas: em diversas oportunidades ele remete os benefícios de suas pesquisas para o bem-estar de pessoas com lesão cerebral, em estado vegetativo de coma profundo, etc. "Uma das principais motivações de minhas pesquisas é estar eventualmente em posição de aplicá-la a pacientes que sofreram lesão cerebral e parecem ter perdido a capacidade de manter um fluxo de estados conscientes. Em tais pacientes, o problema da consciência é particularmente aparente e vital - literalmente, uma questão de vida-ou-morte. Eles podem estar em coma, em estados vegetativos, ou no chamado estado minimamente consciente. Em alguns casos, nem sabemos se estão conscientes ou não. Podem estar trancados em si mesmos - totalmente conscientes, mas incapazes de se comunicar, uma condição terrível descrita vividamente por Jean-Louis Bauby em "The Diving Bell and the Butterfly". É com esses pacientes em mente que precisamos tratar do problema da consciência. Em última análise, é um problema extremamente prático. As teorias são boas, mas temos que encontrar maneiras que nos permitam voltar à clínica".
O vídeo tem 80 minutos, e dispomos da transcrição da exposição inicial de Dehaene, que dura uns 40 minutos. Essa transcrição, que não é verbatim, possivelmente foi editada pelo próprio Dehaene, como pode ser verificado, e ficou muito boa (et pour cause). Achei que é contraproducente ver o vídeo e ler a transcrição ao mesmo tempo: v. acaba tentando sincronizar texto e imagem/som, e perde o conteúdo. Talvez seja melhor ler tudo primeiro, e depois que a idéia geral já está na cuca, ouvir Dehaene falando seu inglês fluente e claro. Achei deveras interessante que ele finalize sua fala citando o fluxo de consciência de William James.
Não deixe de ler os comentários de Daniel Kahneman, Sam Harris, George Dyson, Steven Pinker, Donald Hoffman e Arnold Trehub ao final de tudo.
Vem junto com o site:
STANISLAS DEHAENE is a Professor at the Collège de France and Chair of Experimental Cognitive Psychology. His research focuses on the cerebral bases of specifically human cognitive functions such as language, calculation, and reasoning. His work centers on the cognitive neuropsychology of language and reading, and his main scientific contributions include the study of the organization of the cerebral system for number processing.