Para comemorar a passagem de suas 150 edições (com mais de 900 artigos), o blog Research Digest, da British Psychological Society, publicou em 5 de outubro de 2009 uma pesquisa com gente boa da área sobre o que é que mais os incomoda sobre eles próprios e ainda assim eles não entendem. Olha só a lista:
Susan Blackmore: Consciousness
Susan Blackmore: Consciousness
Richard Wiseman: Wit
Dessa turma só conheço sete, e sou fã incondicional de Susan Blackmore. Vou traduzir a resposta dela aqui abaixo, juntamente com uns comentários dos leitores.
Acredito (apesar de nunca ter visto por mim mesma) que dentro do meu crânio existe um cérebro contendo bilhões de neurônios conectados uns aos outros de trilhões de maneiras, com sinais turbilhonando prá lá e prá cá, estabelecendo novos sinais, e geralmente criando loops, coalizões, padrões sustentados e fluxos organizados paralelos e múltiplos de informação tremendamente complicados que, ao se combinarem, controlam o comportamento disso - o meu corpo. E estamos conversados. Então, como é que eu acho que existe um 'eu' consciente também? A idéia tentadora de que eu sou algo mais - uma alma, um espírito, uma entidade mística - é lixo, apesar de ter acreditado nela no passado. Esta questão me incomoda tanto que devotei a maior parte da vida a ela - através de pesquisas, literatura e trinta anos de meditação diária. Mas ainda não entendo. E quanto mais eu procuro, menos substancial meu próprio eu (self) parece ser. O que é a consciência? E quem está consciente? Realmente não sei.
Essa 'confissão' de SB gerou respostas de todo tipo. Por exemplo, o leitor Damien faz sua cobrança: "Como v. pode passar a vida toda procurando por uma resposta para uma questão sobre a qual v. já se decidiu? 'A idéia tentadora de que eu sou algo mais - uma alma, um espírito, uma entidade mística - é lixo, apesar de ter acreditado nela no passado.' Não temos aqui dois pesos e duas medidas (big fat double standard)?"
Já o leitor Imaginative Name diz o seguinte: "Acho que a percepção de uma 'alma' é um efeito colateral do pensamento abstrato. Como podemos perceber nosso próprio pensamento, ou nosso próprio 'eu', tendemos a acreditar que esse 'eu' É alguma coisa. É uma ilusão, mas inevitável, já que somos pensadores conscientes".
Mattan também dá sua opinião: "A idéia é lixo porque não existe absolutamente nenhuma evidência sustentando-a, a não ser nossa auto-percepção extremamente preconceituosa e errônea. Quando seus neurônios se ativam, v. está pensando. Quando eles não se ativam, v. não está pensando. Quando uma certa parte do cérebro é removida, certos pensamentos e capacidades do cérebro cessam. Foi removida alguma parte de sua alma? Não, apenas uma parte do seu cérebro físico. A Navalha de Occam sugere que a explicação da consciência sem a alma é superior, porque a alma não fornece qualquer valor explanatório".
Alguns leitores são pragmáticos e dizem que não é preciso 'acreditar' em alguma coisa. Como diz um deles: "Pode-se não ter nenhuma opinião sobre uma coisa na ausência de evidências convincentes de que ela é isso ou aquilo. A consciência, aparentemente, não necessita de qualquer explicação para continuar sendo consciente. Isso não me chateia nem um pouco".
Quanto aos outros doutores, gostei bastante do texto de Paul Ekman, com o qual concordo quase integralmente (por isso gostei bastante...) Também não tenho medo da morte em si, mas sim de morrer dolorosamente. Mas diz ele: "À medida que o tempo passa e partes do corpo e a mente se desgastam, acho que a morte será bemvinda". O busílis está nesse desgaste da mente (Alzheimer, por exemplo). Não somos mais propriamente o que sempre fôramos. Daremos boas vindas à morte, nesse contexto? Impossível saber.
Sue Gardner, que é presidente da British Psychological Society, ganhou minha admiração por sua resposta sensível, inteligente e sincera, sem subterfúgios. Cá está ela:
Não acredito que aceitei essa tarefa. Com certeza, será que qualquer admissão solaparia minha credibilidade como psicóloga? Ou falhar em revelar alguma coisa denotaria arrogância, falta de perceptividade (insight) ou auto-consciência, com as mesmas implicações para a reputação e a auto-estima? / Fico cautelosa quanto a uma introspecção excessiva sem ter alguma pessoa de confiança para oferecer perspectiva e equilíbrio. Tenho um lugar sombrio dentro de mim que em vários estágios de minha vida foi ocupado por espectros, daleks e emoções negativas (CLM - Daleks são robôs malignos e sinistros de uma famosa série inglesa de TV). Mas de alguma maneira preciso desse lugar para me conectar com outras pessoas, especialmente aquelas que precisam de apoio acompanhado de mudança e contenção. Ao trabalhar com pessoas que tenham problemas de saúde mental ou que tomem drogas (substance misuse) eu utilizo seu desejo de escapar de seus próprios lugares sombrios para formar uma conexão que, juntamente com evidências vindas de pesquisas e melhores linhas de atuação profissional, além de ferramentas clínicas, possa acelerar sua jornada em direção a uma recuperação. Talvez se eu me entendesse completamente minha própria jornada estaria terminada.
O texto do grande Steven Rosen (um dos criadores da neurociência) merece atenção:
Uma vida inteira estudando a neurologia da aprendizagem e da memória e ainda me assombro com as questões de Santo Agostinho, de 1600 anos atrás: 'Como meu cérebro/mente pode abranger vastas regiões do espaço e do tempo, pensamentos abstratos e números, proposições falsas' - ou, falando nisso, a lembrança do meu aniversário aos 4 anos de idade ou o que almocei ontem. Por enquanto, fico embaraçado com a ingenuidade de meus colegas neurocientistas que incluem mecanicamente a mente no cérebro, ou afirmam ser capazes de localizar (o seguinte) naquela massa de tecidos: equidade, empatia, amor romântico...'Você é apenas um monte de neurônios', afirmou Francis Crick, localizando a consciência no giro cingulado anterior. É a volta de Lombroso! Como a mente é mais ampla do que o cérebro, para citar Emily Dickinson erradamente, que outras ciências ou outros conhecimentos precisamos despertar para entender nós mesmos?
Dessa turma só conheço sete, e sou fã incondicional de Susan Blackmore. Vou traduzir a resposta dela aqui abaixo, juntamente com uns comentários dos leitores.
Acredito (apesar de nunca ter visto por mim mesma) que dentro do meu crânio existe um cérebro contendo bilhões de neurônios conectados uns aos outros de trilhões de maneiras, com sinais turbilhonando prá lá e prá cá, estabelecendo novos sinais, e geralmente criando loops, coalizões, padrões sustentados e fluxos organizados paralelos e múltiplos de informação tremendamente complicados que, ao se combinarem, controlam o comportamento disso - o meu corpo. E estamos conversados. Então, como é que eu acho que existe um 'eu' consciente também? A idéia tentadora de que eu sou algo mais - uma alma, um espírito, uma entidade mística - é lixo, apesar de ter acreditado nela no passado. Esta questão me incomoda tanto que devotei a maior parte da vida a ela - através de pesquisas, literatura e trinta anos de meditação diária. Mas ainda não entendo. E quanto mais eu procuro, menos substancial meu próprio eu (self) parece ser. O que é a consciência? E quem está consciente? Realmente não sei.
Essa 'confissão' de SB gerou respostas de todo tipo. Por exemplo, o leitor Damien faz sua cobrança: "Como v. pode passar a vida toda procurando por uma resposta para uma questão sobre a qual v. já se decidiu? 'A idéia tentadora de que eu sou algo mais - uma alma, um espírito, uma entidade mística - é lixo, apesar de ter acreditado nela no passado.' Não temos aqui dois pesos e duas medidas (big fat double standard)?"
Já o leitor Imaginative Name diz o seguinte: "Acho que a percepção de uma 'alma' é um efeito colateral do pensamento abstrato. Como podemos perceber nosso próprio pensamento, ou nosso próprio 'eu', tendemos a acreditar que esse 'eu' É alguma coisa. É uma ilusão, mas inevitável, já que somos pensadores conscientes".
Mattan também dá sua opinião: "A idéia é lixo porque não existe absolutamente nenhuma evidência sustentando-a, a não ser nossa auto-percepção extremamente preconceituosa e errônea. Quando seus neurônios se ativam, v. está pensando. Quando eles não se ativam, v. não está pensando. Quando uma certa parte do cérebro é removida, certos pensamentos e capacidades do cérebro cessam. Foi removida alguma parte de sua alma? Não, apenas uma parte do seu cérebro físico. A Navalha de Occam sugere que a explicação da consciência sem a alma é superior, porque a alma não fornece qualquer valor explanatório".
Alguns leitores são pragmáticos e dizem que não é preciso 'acreditar' em alguma coisa. Como diz um deles: "Pode-se não ter nenhuma opinião sobre uma coisa na ausência de evidências convincentes de que ela é isso ou aquilo. A consciência, aparentemente, não necessita de qualquer explicação para continuar sendo consciente. Isso não me chateia nem um pouco".
Quanto aos outros doutores, gostei bastante do texto de Paul Ekman, com o qual concordo quase integralmente (por isso gostei bastante...) Também não tenho medo da morte em si, mas sim de morrer dolorosamente. Mas diz ele: "À medida que o tempo passa e partes do corpo e a mente se desgastam, acho que a morte será bemvinda". O busílis está nesse desgaste da mente (Alzheimer, por exemplo). Não somos mais propriamente o que sempre fôramos. Daremos boas vindas à morte, nesse contexto? Impossível saber.
Sue Gardner, que é presidente da British Psychological Society, ganhou minha admiração por sua resposta sensível, inteligente e sincera, sem subterfúgios. Cá está ela:
Não acredito que aceitei essa tarefa. Com certeza, será que qualquer admissão solaparia minha credibilidade como psicóloga? Ou falhar em revelar alguma coisa denotaria arrogância, falta de perceptividade (insight) ou auto-consciência, com as mesmas implicações para a reputação e a auto-estima? / Fico cautelosa quanto a uma introspecção excessiva sem ter alguma pessoa de confiança para oferecer perspectiva e equilíbrio. Tenho um lugar sombrio dentro de mim que em vários estágios de minha vida foi ocupado por espectros, daleks e emoções negativas (CLM - Daleks são robôs malignos e sinistros de uma famosa série inglesa de TV). Mas de alguma maneira preciso desse lugar para me conectar com outras pessoas, especialmente aquelas que precisam de apoio acompanhado de mudança e contenção. Ao trabalhar com pessoas que tenham problemas de saúde mental ou que tomem drogas (substance misuse) eu utilizo seu desejo de escapar de seus próprios lugares sombrios para formar uma conexão que, juntamente com evidências vindas de pesquisas e melhores linhas de atuação profissional, além de ferramentas clínicas, possa acelerar sua jornada em direção a uma recuperação. Talvez se eu me entendesse completamente minha própria jornada estaria terminada.
O texto do grande Steven Rosen (um dos criadores da neurociência) merece atenção:
Uma vida inteira estudando a neurologia da aprendizagem e da memória e ainda me assombro com as questões de Santo Agostinho, de 1600 anos atrás: 'Como meu cérebro/mente pode abranger vastas regiões do espaço e do tempo, pensamentos abstratos e números, proposições falsas' - ou, falando nisso, a lembrança do meu aniversário aos 4 anos de idade ou o que almocei ontem. Por enquanto, fico embaraçado com a ingenuidade de meus colegas neurocientistas que incluem mecanicamente a mente no cérebro, ou afirmam ser capazes de localizar (o seguinte) naquela massa de tecidos: equidade, empatia, amor romântico...'Você é apenas um monte de neurônios', afirmou Francis Crick, localizando a consciência no giro cingulado anterior. É a volta de Lombroso! Como a mente é mais ampla do que o cérebro, para citar Emily Dickinson erradamente, que outras ciências ou outros conhecimentos precisamos despertar para entender nós mesmos?