sábado, 3 de julho de 2010

Como funciona o prazer


Este é o título do novo livro de Paul Bloom. Ao invés de escrever uma crítica corriqueira, o psiquiatra Peter D. Kramer escreveu uma carta aberta na revista eletrônica Slate, e foi respondido por Bloom. Isso acabou rendendo as quatro partes da postagem que traduzo (em parte) abaixo.

Será que a ciência pode apreender a complexidade dos prazeres humanos?
Can Science Capture the Complexity of Human Pleasures?
From: Peter D. Kramer
To: Paul Bloom
Posted Monday, June 14, 2010

Caro Paul,
Depois de décadas pensando sobre depressão, que alívio voltar-me para o prazer! Paul, invejo-o pelo tempo que v. devotou aos aspectos ensolarados de nossa humanidade.

Sou psiquiatra profissional, não um psicólogo pesquisador, mas enquanto alguém que segue a literatura sobre felicidade, estou convencido de que How Pleasure Works é um sumário abrangente e erudito da, para citar o subtítulo, 'Nova ciência de porque nós gostamos do que gostamos'. Também é um livro escrito agradavelmente e muito divertido porque, como guia dessa viagem, v. é uma grande companhia. Quem mais, avaliando a antiga questão filosófica sobre o que define a raça humana, se aventuraria a dizer que 'O homem é o único animal que gosta de molho Tabasco'?

Além de ser ousado e exótico, esse tipo de afirmação é importante porque reconhece que o prazer humano é complexo. Você está um passo adiante da psicologia que nos é familiar hoje em dia e que diz que somos obesos porque quando nossos ancestrais vagaram pelas campinas, os que sobreviveram foram aqueles programados para gostar de coisas doces como frutas maduras, quando disponíveis. O fato de gostarmos do molho pode exigir uma explicação de nível superior, talvez uma explicação que se volte para conceitos como cultura e culinária.

Tenho perguntas que adoraria fazer sobre essa 'nova ciência', mas primeiro aqui vai uma palavra sobre minha reação a antigas abordagens. Tenho tendência a ficar irritado com a psicologia por dois motivos: está encharcada de Darwin, e define o universo social em termos do se pode mensurar prontamente. O foco na seleção natural cria a tentação de concluir que qualquer coisa que exista (por exemplo, a
depressão) é boa, porque sobreviveu. Ao mesmo tempo, a psicologia evolutiva comprime o espaço entre os humanos modernos e os macacos, fazendo surgir a noção de que estamos mal preparados para a vida contemporânea. Por exemplo, somos presa fácil de marqueteiros, que nos manipulam jogando com nossos instintos. Nesse sentido, o que quer que exista é ruim, porque nosso meio ambiente nos manipula.