Uma das coisas que aprendi com o professor Luiz Alfredo Garcia-Roza foi a diversidade do pensamento. Em dois semestres (1969 - Curso Miguel Couto-Vetor), ele nos apresentou praticamente tudo o que existe de importante no mundo das idéias. Na época, fiquei estatelado. Dos filósofos gregos a Marcuse, sem descuidar do objetivo do curso (uma preparação para o vestibular de psicologia), Luiz Alfredo falou com clareza sobre todos os autores e idéias que fundamentam a cultura ocidental. Não fiz o vestibular de psicologia - fui estudar filosofia grega com Emanuel Carneiro Leão na universidade do Largo de São Francisco, onde ocorreu um clarão epistemológico detectado até alhures.
Neste sábado, dei uma passada pelo blog Philosophy, Lit, etc. e li a postagem Mid-June philosophy and literature links. Lá estava uma foto do grande Wilhelm Dilthey e alguns links. Por exemplo: Profile: Wilhelm Dilthey, de Marc A. Hight, do qual traduzo o início.
A despeito de ser aclamado pelo famoso filósofo espanhol Ortega y Gasset como 'o mais importante pensador da segunda metade do século 19', Wilhelm Dilthey (1833-1911) continua sendo uma figura obscura para o mundo anglo-americano. Isso ocorre ao mesmo tempo em que notáveis como Heidegger e Husserl reconhecem seu débito para com a amplitude e profundidade do pensamento de Dilthey.
Dilthey é mais conhecido por sua defesa da distinção entre ciências humanas (Geisteswissenschaften) e ciências naturais; trata-se de uma distinção que seus contemporâneos, de mentalidade positivista, esforçavam-se por negar. Mas essa defesa pode ser mais bem entendida como parte do objetivo que teve através da vida, fornecer uma base segura para as ciências humanas. Elas incluem disciplinas como história, psicologia, economia e sociologia. Dilthey indagou o que a história e a psicologia, além das outras ciências humanas, precisam para funcionar. Isto é, o que é necessário para se entender a humanidade? As ciências humanas individuais são retratadas por Dilthey como interrelacionadas e, de certo modo, partes inseparáveis de um processo específico de conhecimento.
Filósofo profissional e historiador praticante, Dilthey acreditava que a reflexão histórica era essencial para se entender a humanidade. Ele também acreditava que a filosofia só tinha valor quando empregada para uma finalidade prática. Os humanos estão sempre lutando com a dor, com chateações irracionais e com questões sobre o significado do mundo. Todos temos o que Dilthey chamou de 'impulso metafísico' para descobrir uma figuração coerente da realidade (uma Weltanschauung, ou visão do mundo) que trate dessas preocupações. A religião é uma resposta a esse impulso. Quando a resposta é comandada pela reflexão crítica, nós a chamamos de 'filosofia'. A filosofia, assim, tem importante papel; produzir regras para a ação e dar poderes àqueles que dela se utilizam para que ampliem sua percepção de si mesmos. Diversas religiões e filosofias geram visões do mundo que procuram explicar o mundo como nós o entendemos.
Ora, essas visões do mundo frequentemente estão em conflito. Apesar de Dilthey argumentar que os pontos de vista sustentados amplamente têm algum elemento de verdade, ele afirma que cada visão particular é historicamente determinada e essencialmente relativa. Esta afirmativa, que se tornou conhecida popularmente como historicismo, leva Dilthey na direção de um relativismo sobre a natureza do mundo e do que podemos saber sobre ele. Mas Dilthey resiste a um relativismo completo ao assegurar que maneiras básicas de pensar (como a lógica básica) são independentemente verdadeiras a despeito do contexto histórico. Esse posicionamento nos permite estudar a humanidade em suas formas temporais e aprender a partir das visões do mundo que encontramos.
A riqueza e a utilidade da Internet estão nos links. Depois do artigo sobre Dilthey, que me levou a reler seu verbete na História da Filosofia, de Julián Marías (excelente livro recomendado por Luiz Alfredo), fui para A nice intro to Bayes' theorem, particularmente interessante (o teorema) porque introduziu uma forma adequada para que as ciências humanas aproveitassem o arsenal da estatística. Foi quando descobri que o site Lesswrong tem muita coisa interessante. Toca a ler.
Vamos adiante: Steven Laureys & David Chalmers on 'the hard problem' of consciousness. Here are the mp3's, etc. for Chalmers' John Locke lectures at Oxford, com um link para o site de Chalmers, que eu já conhecia e para onde me dirijo de vez em quando. Logo depois, 'What is a law of nature?' A report on a meeting of philosophers & physicists, inc. Julian Barbour. The talks from this conference are on-line. O físico Julian Barbour estrela um filminho holandês de 1999, com duração de 23 minutos, onde fala sobre o tempo (dá para entender tudo o que ele diz), e depois de ver e assimilar seus argumentos v. tem que ir ao seu site e ler o que está lá, imperativamente seu artigo premiado sobre a natureza do tempo, no site FQXI (que eu já tinha nos Favoritos, e foi legal rever). Depois de ler Absorto em pensamentos: Afinal, o que é uma lei física?, de Barbour (Scientific American), que leva ao blog Backreaction (Sabine Hossenfelder), outra excelente descoberta, que traz uma postagem curiosa sobre um piano para canhotos onde os graves estão à direita e os agudos à esquerda, mais ou menos como alguns canhotos tocam violão de cabeça para baixo.
Bem, o site de Julian Barbour também direciona os leitores para o Perimeter Institute Recorded Seminar Archive, o PIRSA, onde podemos ler e ver gente como Marcelo Gleiser, Lee Smolin, Kevin Knuth e Kevin Kelly, entre muitos outros. Uma reclamação: no PIRSA, v. tem que fazer download dos filminhos para poder assistir, não é como o YouTube. Barbour comparece com quatro vídeos: The Case for Geometry, Was Spacetime a Glorius Historical Accident, The Theory of Duration and Clocks e Some Issues in Quantum Gravity.
Em resumo, eis aí porque não houve postagem no domingo. Sorry.