A revista eletrônica Nature publicou (22.10.2008) um artigo sobre a discussão existente quanto à definição de algumas palavras/expressões muito usadas por cientistas: mudança de paradigma (paradigm shift), epigenético (epigenetic), complexidade (complexity), raça (race), ponto limite (tipping point), célula-tronco (stem cell), significativo (significant) e consciência (consciousness). Cada termo é analisado por um autor diferente. Bem que eu gostaria que o artigo examinasse mais palavras, especialmente em um contexto de neurociência, como top-down e bottom-up, além de bootstrapping. Vou traduzir a parte relativa à palavra "consciência"
Consciência (substantivo)
Heidi Ledford
Psicólogos, filósofos, neurobiólogos e médicos, todos lutam com o termo consciência. Para os clínicos, a importância da definição é de vida ou morte; para alguns outros, é uma questão de determinar como os tecidos interconectados do cérebro criam coletivamente um sentido de self. "Como é que esse pedaço de carne de três libras que há dentro de minha cabeça dá surgimento a uma coisa que sou eu?" resume Gerald Edelman, diretor do Neurosciences Institute de La Jolla, California.
Em 2006, o neurocientista Adrian Owen, do Medical Research Council Cognition and Brain Sciences Unit em Cambridge, UK, comunicou que uma mulher que havia sido diagnosticada como estando em estado vegetativo havia apresentado sinais de atividade cerebral associados à consciência (Owen, A. M. et al. Science 313, 1402 ). A atividade foi percebida através de imagem por ressonância magnética funcional (fMRI), que pode revelar mudanças no fluxo sanguíneo do cérebro.
A descoberta sacudiu a definição clínica de consciência, que é determinada através do uso de uma série de testes comportamentais para que se veja se o paciente pode fazer movimentos voluntários em resposta a ordens. O resultado pode determinar se um paciente precisa de medicação para a dor, ou se está na hora de desligar (a aparelhagem do) suporte à vida, mas os clínicos prontamente reconheceram que os testes falham quando os pacientes são incapazes de se mover. Os médicos, agora, encontram-se num desconfortável limbo, porque não está claro se a atividade cortical medida pela fMRI é suficiente para redefinir aqueles pontos decisivos."O que faremos, enquanto comunidade, enquanto esse método não for validado?", pergunta Steven Laureys, neurologista do Coma Science Group da University of Liége, na Bélgica.
O filósofo francês René Descartes declarou que a consciência era uma propriedade fundamental que se inscrevia para além das regras do mundo físico. A maioria dos cientistas, diz Edelman, não se satisfaz com isso. "Deve haver alguma base física para a consciência", diz ele. "A dificuldade é: como ela surge?"
O filósofo David Chalmers, da Australian National University em Canberra, investigou o que ele chama de hard problem da consciência tecendo considerações sobre os 'qualia', as propriedades subjetivas das experiências. Tanto cientistas como filósofos têm lutado para explicar como é que as propriedades físicas do mundo à nossa volta - tais como cor e temperatura - fazem surgir as experiências de "vermelho" ou "quente". Chalmers argumentou que a organização funcional do cérebro, mais do que suas propriedades químicas ou moleculares, é que torna possíveis essas experiências.
Muitas definições de consciência incluem a capacidade de escolher em meio à invasão incansável de dados que recebemos para criar e reagir a um modelo interno do mundo externo. E alguns acreditam que simplesmente reunir dados sobre neurônios e comportamentos não vai ser suficiente. "O que precisamos é de uma 'teoria da consciência', diz o professor de biologia e engenharia Christof Koch, do California Institute of Technology, em Pasadena. Koch acha que a teoria da informação poderia prover a solução para se determinar se a consciência poderia ser um subproduto de um sistema tão enormemente complexo como o cérebro (veja 'Complexidade').
Michael Gazzaniga, um neurocientista da University of California, Santa Barbara, argumenta que os pesquisadores precisam apenas desenvolver uma definição de trabalho para explorar a consciência, não uma que seja precisa. "Você não precisa perder tempo definindo a coisa", diz ele. "Vá em frente e estude-a".
Published online 22 October 2008 Nature 455, 1023-1028 (2008) doi:10.1038/4551023a
http://www.nature.com/news/2008/081022/full/4551023a.html