terça-feira, 21 de junho de 2011

Pô, que tédio!

Joseph Epstein, em ~3.400 palavras, cometeu um artigo interessante e bem escrito sobre o tédio. Seu caráter mortiço faz o mundo avançar mais devagar, e a própria realidade pode se tornar incerta e vaga: a obscuridade e o torpor são parte do tormento, que é suave mas genuíno. Entretanto, diz ele:

O tédio é menos generalizado em culturas mais simples. Pouco se ouve falar dele entre os pigmeus ou os habitantes das Ilhas Trobriand, cujas energias estão voltadas para os problemas da mera existência. Ironicamente, ele pode ser mais disseminado onde houver grande quantida de estímulos. O tédio, aparentemente, pode ser incrementado pela estimulação em excesso - e estamos aprendendo isso com a atual geração de crianças que, a despeito de seu vasto arsenal de brinquedos eletrônicos, das muitas horas dispendidas diante de telas e telinhas diversas, estão reclamando dele muito mais do que qualquer outra geração anterior. É raro que um pai ou avô, ao apresentar a essas crianças um projeto para aliviar o tédio - ir lá para fora, ler um livro - não tenha ouvido em sílabas bem separadas, "Pô, que tédio!"

Epstein nos apresenta "os dois melhores livros contemporâneos sobre o assunto": Boredom, A Lively History, de Peter Toohey, e A Philosophy of Boredom, de Lars Svendsen, e aproveita para tratar do problema semântico do tédio. "É preciso discriminar e fazer distinções quando se tentar definí-lo. O ennui, a apatia, a depressão, a acédia, a melancolia, o mal de vivre - todos são aspectos do tédio, mas não o definem exatamente. Talvez a distinção mais importante a ser feita seja entre tédio e depressão. Toohey está correto quando argumenta que o tédio crônico pode trazer agitação, raiva e depressão, mas que tédio e depressão não são a mesma coisa. O tédio é principalmente uma emoção secundária, como vergonha, culpa, inveja, admiração, timidez, desprezo e outras. A depressão é uma doença mental, e muito mais séria".

Depois de alguns trechos filosófico-literários sobre o assunto, que abordam de modo sério ou jocoso Heidegger, Sartre, Alberto Moravia e outros, Epstein passa para a neurociência. "O tédio, acreditam os neurocientistas, parece ser experimentado na parte do cérebro chamada insula, onde outras emoções secundárias (também) são experimentadas, e que um neurologista chamado Arthur D. Craig considera ser uma região cerebral que se localiza 'na encruzilhada do tempo e do desejo'. Tendo dito isso, não se disse muita coisa. Os críticos argumentam que os estudos cerebrais ainda estão mais ou menos no estágio em que estava a fisiologia antes de William Harvey, no século 17, descobrir o sistema circulatório. Afinal de contas, o tédio é parte da consciência, e sobre ela os neurologistas têm menos a dizer do que os poetas e os filósofos".

Epstein termina seu artigo descrevendo uma palestra que Joseph Brodsky proferiu no Dartmouth College em 1989, e dá sinais de concordar com ele:

A lição que o tédio ensina, de acordo com Brodsky, é sobre nossa insignificância, uma insignificância introduzida por nossa própria finitude. Estamos aqui por algum tempo e - puf! - fomos embora e somos esquecidos mais cedo ou mais tarde, geralmente mais cedo. O tédio "coloca sua existência em perspectiva, e o resultado disso é precisão e humildade". Brodsky aconselha os alunos a manter a paixão, pois ela é o que há de mais próximo a um remédio para o tédio.

E fecha o artigo:

"O tédio", como escreve Peter Toohey, "é uma parte normal, útil e incrivelmente comum da experiência humana". O tédio também é parte da condição humana, sempre foi, e se tivermos sorte, sempre será.

Duh, Bo-ring
Joseph Epstein
Commentary June 2011-06-16
http://www.commentarymagazine.com/article/duh-boring/