Um artigo de revisão extenso e importante de Marcia Angell na revista eletrônica The New York Review of Books (AQUI), The Epidemic of Mental Illness: Why? (sua segunda parte está indicada mais abaixo) chama a atenção de Daniel Lende, do blog Neuroanthropology (do PLoS) e ele escreve Chemical Imbalances and Mental Illness? Go for the Placebo with Side Effects (AQUI). Lende, por sua vez, desperta o interesse de Jennifer Jo Thompson - que escreve um comentário excelente sobre o artigo dele. Lende, então, nos revela que Ms. Thompson é autora de Thompson et al. (2008), Reconsidering the Placebo Response from a Broad Anthropological Perspective. Esse artigo está no Pubget, protegido por senha (mas serve a senha do Portal Capes, para quem tiver), então vou colocar aqui o comentário de Thompson sobre o artigo de Lende:
Grande texto sobre um artigo importante! Algumas questões, rapidamente: diante das altas taxas de resposta ao placebo em experimentos com antidepressivos, as companias farmacêuticas estão ficando cada vez mais sofisticadas no design de experimentos clínicos. Como Lakoff chamou a atenção em seu artigo de 2002 na Molecular Interventions, ser capaz de identificar e eliminar logo de início aqueles que respondem ao placebo (isto é, em um teste duplo-cego com o placebo, por exemplo) é a chave para produzir dados que indiquem a eficácia da droga. Permanece a questão: isto serve ao interesse de quem?
O que isto indica, entretanto, é que chegou a hora de abrir a caixa preta do placebo, a hora de ver claramente as expectativas, a esperança, o condicionamento, a importância simbólica, a emoção, a execução ritualística (CLM - do ato de tomar o placebo) e a relação terapêutica: o placebo é um componente genuíno e de base física (CLM - corporal) do processo de cura - e não algum tipo de impostura ou enganação, ou mesmo uma terapia simulada, mas sim uma parte importante da **coisa real**.
Cada vez mais, os pesquisadores estão reconhecendo a importância de desemaranhar esses efeitos 'não-específicos' do tratamento. Ao mesmo tempo, os pesquisadores estão reconhecendo a importância de traduzir esse entendimento inesperado para um contexto clínico, para 'harness' (CLM - controlar e operacionalizar) o efeito placebo e criar o que Jonas chamou de um 'ambiente ótimo de cura'. Dirijo os leitores para o número especial de 2011, sobre placebo, do journal Philosophical Transactions of the Royal Society - Phil. Trans. R. Soc. B 27 June 2011 vol. 366 no. 1572.
Encontrei (liberado) esse número especial de 2011 da Philosophical Transactions of the Royal Society apenas AQUI, onde os interessados têm que ir no quadrinho previous next article e ler/baixar um artigo de cada vez.
O primeiro artigo de Marcia Angell, é um artigo de revisão sobre os livros: (1) The Emperor’s New Drugs: Exploding the Antidepressant Myth, de Irving Kirsch; (2) Anatomy of an Epidemic: Magic Bullets, Psychiatric Drugs, and the Astonishing Rise of Mental Illness in America, de Robert Whitaker; e (3) Unhinged: The Trouble With Psychiatry—A Doctor’s Revelations About a Profession in Crisis, de Daniel Carlat. Aqui está sua segunda parte (AQUI), onde Angell trata principalmente do livro de Carlat e também do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fourth Edition, Text Revision (DSM-IV-TR), da American Psychiatric Association.
Do artigo a seguir, citado por Angell, só consegui o abstract:
Financial Ties between DSM-IV Panel Members and the Pharmaceutical Industry
Lisa Cosgrove, Sheldon Krimsky, Manisha Vijayaraghavan & Lisa Schneider
(Psychother Psychosom 2006;75:154-160 (DOI: 10.1159/000091772)
Background: Crescente atenção tem sido dada à transparência dos conflitos de interesse em potencial na medicina clínica e nas ciências biomédicas, particularmente na publicação de journals e nos painéis consultivos de ciência. Os autores examinaram o grau e o tipo de laços financeiros com a indústria farmacêutica de membros de painéis responsáveis por revisões do DSM - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. Methods: Utilizando técnicas multimodais de pesquisa, os autores investigaram os laços financeiros com a indústria farmacêutica de 170 membros dos painéis que contribuiram para os critérios de diagnóstico produzidos para o DSM-IV e para o DSM-IV-TR. Results: Dos 170 membros de painéis, 95 (56%) tinham uma ou mais associações com empresas da indústria farmacêutica. Cem por cento dos membros dos painéis sobre "Mood Disorders" (Distúrbios de Humor) e "Schizophrenia and Other Psychotic Disorders" (Esquizofrenia e outros Distúrbios Psicóticos) tinham ligações financeiras com empresas fabricantes de drogas. As principais categorias de interesse financeiro mantido por membros dos painéis eram verbas para pesquisa (42%), consultorias (22%) e "speakers bureau" (16%). Conclusions: Nossa investigação sobre as relações entre membros dos painéis do DSM e a indústria farmacêutica demonstra que havia fortes laçõs financeiros entre a indústria e aqueles que eram responsáveis pelo desenvolvimento e pela modificação dos critérios de diagnóstico para doenças mentais. As conexões são especialmente fortes naquelas áreas diagnósticas onde as drogas são a primeira linha de tratamento para distúrbios mentais. Uma revelação completa por parte dos membros dos painéis do DSM de suas relações financeiras com entidades de fins lucrativos que manufaturam drogas utilizadas no tratamento de doenças mentais é recomendada.