domingo, 11 de outubro de 2009

Filosofia da Mente


Para o público atual, que se alimenta de ciências cognitivas e de neurociência, Jon Miller, o editor do volume, escreve uma elegante introdução onde fica patente como os pensadores do período (1600-1700) já estavam investigando problemas (como o da relação mente-cérebro) que até hoje ocupam pesquisadores de diversas disciplinas. Aqui está o início dessa introdução.

“Os comentaristas há muito vêm se surpreendendo com as ligações entre as descrições contemporâneas da mente e aquelas articuladas pelos filósofos dos séculos 17 e 18 – a era comumente chamada de ‘filosofia moderna inicial’. Por exemplo, em seu influente livro, Language and Mind, Noam Chomsky identifica duas maneiras abrangentes pelas quais a ciência cognitiva do século 20, sem o saber, revisita temas muito discutidos durante a ‘revolução cognitiva original’, como ele descreve o período inicial moderno: em primeiro lugar, a ciência cognitiva do século 20 se enamorou da ‘visão que vinha se cristalizando através do século 18, de que as propriedades denominadas ‘mentais’ são o resultado de uma estrutura orgânica tal como o cérebro’. Em segundo lugar, a ciência cognitiva recente concorda com a tese da modernidade inicial de que o mundo denominado mental pode envolver capacidades ilimitadas de um órgão finito e limitado’. Escrevendo enquanto cientista cognitivo preocupado em divulgar sua visão sobre como o campo deveria ser modificado, Chomsky restringe o âmbito de suas afirmativas apenas até as congruências entre os conceitos modernos iniciais da mente e os de sua disciplina. Se deixarmos esta limitação, muitas outras ligações entre os primeiros modernos e nós estão bem à mão.

Por exemplo, Hilary Putnam crê que os modernos iniciais foram os primeiros a compreender que ‘havia um sério problema sobre a relação da mente com o corpo material’. Ao mesmo tempo em que essa relação era confessadamente um problema para os primeiros pensadores, Putnam argumenta que por causa do surgimento da física moderna nos anos 1600, o problema se intensificou e adquiriu a forma que possui hoje. O desenvolvimento relevante em física, sugere Putnam, foi o disseminado reconhecimento de que o mundo é causalmente fechado. Como ‘nenhum corpo se move exceto como resultado de alguma força’, então como a força é um fenômeno puramente físico, todo movimento corporal parecia totalmente devido à interação entre os corpos. Se este for o caso, e quanto à mente? Não só os primeiros modernos formularam pela primeira vez nossa versão do problema da relação mente-corpo, como propuseram duas soluções que comprovaram ter uma atratividade poderosa. Primeiro, diz Putnam, eles afirmaram que os eventos ‘poderiam acompanhar os eventos físicos, isto é, os eventos do cérebro’. Quanto a essa hipótese, que Putnam credita a Spinoza, entre outros, ‘os eventos mentais poderiam na realidade ser idênticos aos eventos cerebrais e aos outros eventos físicos’. Em segundo lugar, outros modernos iniciais insistiam que independentemente da dúvida que pudesse ser lançada sobre essa possibilidade pela nova física, os eventos mentais poderiam interagir com com os eventos físicos. Os eventos mentais poderiam até estar causando eventos cerebrais, e vice-versa. Os proponentes mais sofisticados dessa posição, como Descartes, consideravam a mente e o cérebro como sendo ‘uma unidade essencial’. É certo que Putnam acha que a recente filosofia da mente tenha refinado muito esse problema, assim como as soluções inicialmente descobertas pelos modernos iniciais. Entretanto, argumenta Putnam, boa parte da agenda da filosofia contemporânea da mente foi estabelecida nos anos 1600 e 1700”.

Jon Miller (Ed.) - Topics in Early Modern Philosophy of Mind
Springer 2009 PDF 200 pages 2.25 MB
http://depositfiles.com/files/r5f1sen8x