A relação entre genes, meio ambiente/cultura e fala e linguagem sempre fez surgirem discussões entre os pesquisadores desses campos. O artigo Linguagem e genes: Reflexões sobre biolinguística e a questão natureza/cultura (Languages and Genes: Reflections on Biolinguistics and the Nature–Nurture Question), de D. Robert Ladd, Dan Dediu & Anna R. Kinsella, faz uma resenha dessas discussões sem deixar de tomar partido e defender a opinião dos autores. A seguir a tradução de um trecho:
“2. Linguagens e Genes
Hoje em dia tem-se como fato que os genes afetam a fala e a linguagem em indivíduos. Com isso, queremos dizer que existem associações demonstráveis entre diferenças interindividuais na formação genética e diferenças interindividuais quanto a habilidades de fala e de linguagem. Até hoje, o caso mais bem conhecido é sem dúvida o do gene FOXP2 (Hurst et al. 1990, Gopnik & Crago 1991, Lai et al. 2001, Fisher et al. 2003), mas é de conhecimento geral que há muitos outros elos entre a variação genética e a variação em habilidades relevantes para a fala e para a linguagem. O estudo desse tipo de correlação usa as ferramentas da Genética Comportamental (Plomin et al. 2001, Stromswold 2001), que permitem que os pesquisadores investiguem três tipos de questões: primeiro, para fornecer estimativas da herdabilidade de diversas habilidades e dificuldades de fala e de linguagem (Stromswold 2001, Felsenfeld 2002, Bishop 2003, Plomin & Kovas 2005); segundo, para identificar loci genéticos e alelos envolvidos (Fisher et al. 2003, Halliburton 2004, Plomin et al. 2001); e terceiro, para dissecar as complexas relações entre os aspectos de fala e linguagem e no intercâmbio entre esses aspectos (Plomin et al. 2001, Stromswold 2001, Plomin & Kovas 2005). As principais conclusões desse campo, que está em rápido desenvolvimento, parecem ser (Dediu 2007: 125) que: (1) a fala e a linguagem são influenciadas fortemente por nosos genes no nível individual, mas a natureza e a potência dessa influência variam grandemente entre os aspectos particulares considerados; (2) o melhor modelo, tanto para as dificuldades como para a amplitude normal de variação, é aquele que envolve muitos genes com pequenos efeitos; (3) alguns desses genes são generalistas, enquanto outros são especialistas; (4) a maior parte das dificuldades de fala e de linguagem simplesmente representam a ponta final da distribuição normal (curva) de variabilidade linguística, mais do que patologias qualitativamente distintas. Também parece claro, diante desse trabalho, que em geral os elos causais entre os genes e a variabilidade em fala e linguagem são muito complexos e envolvem de modo importante o meio ambiente. Vamos voltar a isso daqui a pouco.”
Cadastre-se no site da revista e leia o artigo todo em Biolinguistics 2.1: 114–126, 2008 http://www.biolinguistics.eu/